|nº 126| Jul/Ago 07

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Um bombeiro na gerência do BB

A expressão “apagar incêndio” faz parte do vocabulário corrente de muitos de nós. Costuma ter a conotação de tarefa inesperada, urgente e complicada, características de uma situação real de combate a chamas. Para o gerente da agência do Banco em Fraiburgo (SC), Paulo Afonso Côrtes de Ferraz, o uso dessa expressão é literal. Ele concilia o trabalho no Banco com a atuação como bombeiro comunitário à noite e nos fins de semana. “Queria fazer um trabalho de voluntariado que fosse incomum e que, ao mesmo tempo, me aproximasse da comunidade de Guaraciaba, onde tudo começou, quando também era o gerente da agência”, explica.

A prova de fogo
É contagiante ouvir esse paulistano de 46 anos falar do trabalho no Corpo de Bombeiros. Até seu penúltimo plantão em Guaraciaba – onde trabalhava antes de ser transferido para Fraiburgo – não tinha apagado literalmente um incêndio. “Quando estava terminando meu último plantão de 24 horas, fomos chamados por causa de um incêndio numa propriedade rural. Coloquei o EPI (equipamento de proteção individual), aquela roupa preta e amarela, capacete, bota, luvas e fui com o soldado-chefe da equipe de socorro. Pude sentir como é difícil o trabalho. Havia muita fumaça, cinzas, brasa e algumas pequenas fogueiras. Com o auxílio de um agricultor equipado com facão, fomos abrindo caminho para que eu pudesse me aproximar. Em alguns momentos, precisei parar para molhar minha boca. Com o passar dos minutos, o peso do equipamento começou a aumentar e todo movimento ficou mais difícil de ser realizado”, diz Paulo, cuja infância no Paraná e os 20 anos em Santa Catarina fazem dele londrinense de coração e catarinense pelas raízes, como costuma dizer.

Liderança bem-vinda
O Projeto Bombeiro Comunitário existe em Santa Catarina desde maio de 1997 e foi uma iniciativa do Corpo de Bombeiros Militares do estado para capacitar a comunidade na prevenção de incêndios e na atuação contra acidentes. Foi apresentado na cidade de Guaraciaba, em abril de 2006. Com a família longe, em Florianópolis, Paulo queria ocupar seu tempo disponível. Como gerente do Banco naquela época, foi convidado para o evento de lançamento e se interessou pelo projeto. Para o comandante do Corpo de Bombeiros do Extremo Oeste de Santa Catarina, capitão Aldo Franz, “Paulo agregou valor como gerente do Banco, com sua liderança natural”.

Mesmo tendo concluído um curso que o capacitou para atuar como bombeiro comunitário em conjunto com bombeiros militares, Paulo agora busca aperfeiçoar-se para ter mais segurança nos atendimentos pré-hospitalares e automobilísticos. O pioneirismo está presente nesse lado da sua vida: ele se formou na primeira turma de Guaraciaba, no dia 16 de março de 2007, foi o primeiro gerente de banco a ter-se interessado por esse tipo de voluntariado em Santa Catarina e também o primeiro do BB. “No início, até acharam que eu não ia me adaptar, porque o bombeiro teria que lavar chão, cozinhar etc. Disse que já fazia isso em casa, que, para mim, não haveria problema. Depois, viram que eu me adaptei bem”, explica Paulo, que conta com 20 anos de Banco.

O empenho do voluntariado do funcionalismo do Banco é grande há tempos, desde a época do saudoso Betinho. Essa generosidade é marcante quando Paulo fala do desfecho daquele último plantão em Guaraciaba: “quando finalmente retirei o EPI, estava completamente molhado de suor e com muita necessidade de beber água. Foi uma experiência inesquecível e importante, como realização pessoal. Alguns agricultores que estavam presentes não acreditaram que o gerente do Banco do Brasil era aquele bombeiro que entrou no fogo, literalmente, e os ajudou naquele momento de dificuldade”, relata.

Coronel Masnik, do Corpo de Bombeiros Militares de Santa Catarina, e secretário executivo da Federação Catarinense de Bombeiros Comunitários (Fecabom) explica que a lei nº 9.608, de 1998, foi um estímulo para o voluntariado no serviço público. Enumera estados no Brasil em que o trabalho voluntário de bombeiro está em processo de implantação: Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. Mundialmente, cita Chile, Argentina e Portugal. Para Paulo, o Projeto Bombeiro Comunitário só tende a crescer e se consolidar, “em Fraiburgo, comecei em 16 de julho e acredito que o número de ocorrências será bem maior”, diz nosso gerente-bombeiro.

Funcionária do BB também é Bombeira Comunitária

Paulo teve uma colega de turma do BB: Silvana Buzatta. Ela também foi convidada para o lançamento do Projeto Bombeiro Comunitário em Guaraciaba, então como funcionária da prefeitura. Durante o curso, tomou posse na agência do BB em Dionísio Cerqueira. Normalmente, Silvana faz atendimentos pré-hospitalares e dedica-se ao trabalho voluntário às sextas à noite e aos sábados durante o dia, uma vez por mês. Em Guaraciaba, cinco mulheres estão no Projeto, incluindo Silvana. “Sempre me interessei pelo trabalho dos bombeiros e já pensava em ajudar fazendo algum trabalho voluntário”, diz.