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Bolsa de valores, boas e más notícias

Quem entrar na internet para acompanhar a cotação de ações nos dias da crise norteamericana viverá momentos de euforia e depressão. Mas no médio e longo prazo, as perspectivas para as empresas brasileiras são boas


Na atual crise econômica, o estouro da bolha de financiamento imobiliário nos Estados Unidos gerou a quebra de agências de financiamento, bancos de investimento e o contágio em bolsas de valores de todo o mundo, inclusive no Brasil. Neste momento de crise, quem abrir a internet e acompanhar cotações on-line ficará tonto. A cada boa notícia, como a possibilidade de o governo norte-americano socorrer as empresas financeiras, as ações sobem. Com a possibilidade de acordo com o Congresso, valores disparam. Ao contrário, a cada má notícia, voltam a despencar.
Exemplo claro é o que aconteceu nos dias 25 e 26 de setembro deste ano. No dia 25, havia possibilidade clara de acordo entre o governo norte-americano e o Congresso para aprovação do pacote de 700 bilhões de dólares de socorro a instituições financeiras, com isso as bolsas de valores subiram vigorosamente. No dia seguinte, com as dificuldades surgidas para esse acordo e a quebra do banco Washington Mutual (WaMu), o mercado de ações, sexto maior no país em ativos, a depressão voltou ao mercado acionário.
A explicação mais simples para esse efeito, segundo Alessandra Montini, professora doutora de métodos quantitativos na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, FEA-USP, é que os modelos estatísticos que existem para determinar os preços de ações não projetam as crises. “Esses modelos, grosso modo, analisam o passado para projetarem o futuro. O que acontece é que não são feitos para momentos de caos, como ocorre no caso das operações de subprime nos Estados Unidos”, afirma.
Efeito manada: Grande movimentação de investidores no mesmo sentido e ao mesmo tempo, com grande componente irracional.

Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional e comercial da consultoria Economática, destaca que neste momento o que há é muito medo no mercado internacional por conta dos problemas nos Estados Unidos, que afetam todo o mundo, e grande parte desse efeito é psicológico. “Existe um ‘efeito manada’, não como aconteceu no passado, pois o mercado no Brasil é mais sólido. Na realidade, pouca gente de monta saiu dos fundos de ações, o efeito foi mais em relação a pequenos investidores, o que mostra maturidade de mercado”, acredita Einar.
Se o mercado está maduro, o efeito no valor das empresas brasileiras não foi pequeno, pelo menos não no curto prazo. Estudo da própria Economática (veja tabela na página seguinte) mostra que entre 20 de maio deste ano até 25 de setembro, as 326 empresas brasileiras pesquisadas perderam 482 bilhões em valores de mercado, cerca de 35% de seu preço. Para ter idéia da irracionalidade dessa crise, pelo estudo, as empresas norte-americanas, que estão no epicentro da crise, perderam bem menos no mesmo período, 14%.

Realizar prejuízo: Na linguagem do mercado signifi ca vender ações por um preço menor do que o que se pagou. é importante entender que mesmo que a cotação das ações caia, se o investidor esperar até esse preço voltar ao que pagou ou superar a cotação anterior ele não tem nenhuma perda.

Ressalvando que essa perda de valor só acontece se quem possui as ações vende no momento de baixa, o que se chama no mercado de realizar prejuízo, parte da explicação de por que as bolsas de mercados emergentes são mais afetadas em momentos de estresse é que os investidores internacionais retiram seu dinheiro desses países para cobrir prejuízos que tiveram nas matrizes ou então migram para investimentos considerados mais seguros. A professora Alessandra Montini lembra que esses movimentos ocorrem em momentos de crise, mas que no médio ou longo prazo a tendência é que as empresas recuperem seu valor. “O mercado vai ajustando e vai para o verdadeiro preço. Empresas como Vale do Rio Doce e Petrobras, por exemplo, caem nesse momento, mas se recuperam no médio prazo. Se uma empresa tem consistência em seus resultados, em sua atuação, o preço de mercado volta a subir porque refl ete a realidade da empresa. Num prazo maior, o mercado é eficiente”, afirma.
O consultor Einar dá o exemplo da Petrobras. Diz que se pegarmos o valor das ações da petrolífera no final de 2002 até 16 de setembro deste ano, os papéis tiveram valorização de 642%, contra perdas de 37,4% nos últimos dias. Porém, ressalva que não é possível saber hoje quando os papéis recuperarão os valores anteriores à crise. Os mercados hoje são diferentes, mas não é possível saber quanto vamos demorar para recuperar os valores. Primeiro é necessário que os Estados Unidos consigam sanar seus problemas”, diz.

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