|nº 138| Dez 08

EDITORIAL
Previsões imprevisíveis

Recentemente recebi o relatório de uma grande consultoria internacional com suas previsões para a economia mundial. Na verdade, as previsões vieram na forma de três cenários possíveis. No cenário mais otimista, a economia mundial começaria a recuperar-se no final de 2009. No cenário intermediário, a recuperação viria em cerca de dois anos. E no cenário chamado de “depressão”, a recuperação demoraria de três a cinco anos para começar. Como se pode concluir, a consultoria, na prática, não quis se comprometer com nenhuma previsão, fez cenários para todos os gostos.

A última edição da Revista Exame trouxe na capa: “Para que servem os analistas?”. Ao longo da matéria, a revista trata de algo que se tornou comum questionar recentemente, ou seja, a total discrepância (ou incapacidade) dos mais conceituados analistas em detectarem o tsunami que varreu a economia neste ano. Entre os erros brutais dos analistas estavam as previsões sobre valorização das ações, preço de petróleo, inflação, moedas e tudo mais. E se já era difícil prever o que aconteceria, hoje fi cou pior: no presente momento é difícil apostar que qualquer modelo de avaliação econômica consiga capturar toda a complexidade da situação, ainda mais que as possíveis alternativas de medidas e resultados são as mais diversas.

No entanto, há pelo menos duas coisas que nos consolam. A primeira é que o Plano 1, cujos investimentos estavam bastante expostos em Renda Variável, resistiu ao tsunami até aqui. Houve desvalorização de muitas ações, é claro, mas a “gordura” acumulada nos últimos anos mostrou-se de vital importância, fazendo o Plano manter-se superavitário. A segunda razão para algum consolo é que a economia brasileira vem mostrando uma resistência bem acima da média do restante do mundo. Há sinais preocupantes, é certo, mas passamos com o sistema fi nanceiro incólume, o consumo interno continua forte, as reservas cambiais estão fazendo seu papel de proteger o país, medidas anticrise estão sendo tomadas e, em função de tudo isso, temos uma boa chance de viver um impacto menos grave do que seria normal em um cenário tão crítico quanto o atual.

Pensando bem, quando a gente olha um pouco para trás e vê o tamanho dos erros que foram cometidos pelo governo do principal país do mundo que, de um lado, permitiu uma espécie de farra financeira e, de outro, incendiou os confl itos internacionais com guerras irresponsáveis (o que agora até mesmo Bush admite), somos obrigados a concluir que estamos pagando um preço pelo que foi plantado: nada acontece de graça.

Por isso, chegando ao final de mais um ano, só podemos renovar nossas esperanças, sempre sonhando com um mundo melhor, e o fundamental para isso é aprender com nossos erros. Desejamos que nossas ações (e especialmente as ações do novo governo dos EUA) sejam realmente inspiradas por novos valores, de paz, de solidariedade, respeito e ética.

Sérgio Rosa