Recentemente recebi o relatório de uma grande consultoria internacional
com suas previsões para a economia mundial. Na verdade, as previsões
vieram na forma de três cenários possíveis. No cenário mais otimista, a
economia mundial começaria a recuperar-se no final de 2009. No cenário
intermediário, a recuperação viria em cerca de dois anos. E no cenário
chamado de “depressão”, a recuperação demoraria de três a cinco anos
para começar. Como se pode concluir, a consultoria, na prática, não quis se
comprometer com nenhuma previsão, fez cenários para todos os gostos.
A última edição da Revista Exame trouxe na capa: “Para que servem os
analistas?”. Ao longo da matéria, a revista trata de algo que se tornou comum
questionar recentemente, ou seja, a total discrepância (ou incapacidade)
dos mais conceituados analistas em detectarem o tsunami que varreu a
economia neste ano. Entre os erros brutais dos analistas estavam as previsões
sobre valorização das ações, preço de petróleo, inflação, moedas e tudo
mais. E se já era difícil prever o que aconteceria, hoje fi cou pior: no presente
momento é difícil apostar que qualquer modelo de avaliação econômica
consiga capturar toda a complexidade da situação, ainda mais que as possíveis
alternativas de medidas e resultados são as mais diversas.
No entanto, há pelo menos duas coisas que nos consolam. A primeira é
que o Plano 1, cujos investimentos estavam bastante expostos em Renda
Variável, resistiu ao tsunami até aqui. Houve desvalorização de muitas
ações, é claro, mas a “gordura” acumulada nos últimos anos mostrou-se
de vital importância, fazendo o Plano manter-se superavitário. A segunda
razão para algum consolo é que a economia brasileira vem mostrando
uma resistência bem acima da média do restante do mundo. Há sinais
preocupantes, é certo, mas passamos com o sistema fi nanceiro incólume,
o consumo interno continua forte, as reservas cambiais estão fazendo seu
papel de proteger o país, medidas anticrise estão sendo tomadas e, em
função de tudo isso, temos uma boa chance de viver um impacto menos
grave do que seria normal em um cenário tão crítico quanto o atual.
Pensando bem, quando a gente olha um pouco para trás e vê o tamanho
dos erros que foram cometidos pelo governo do principal país do mundo
que, de um lado, permitiu uma espécie de farra financeira e, de outro,
incendiou os confl itos internacionais com guerras irresponsáveis (o que
agora até mesmo Bush admite), somos obrigados a concluir que estamos
pagando um preço pelo que foi plantado: nada acontece de graça.
Por isso, chegando ao final de mais um ano, só podemos renovar nossas
esperanças, sempre sonhando com um mundo melhor, e o fundamental
para isso é aprender com nossos erros. Desejamos que nossas ações (e
especialmente as ações do novo governo dos EUA) sejam realmente inspiradas
por novos valores, de paz, de solidariedade, respeito e ética.
Sérgio Rosa |