|nº 145| Out 09

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É cada vez mais importante a questão da previdência

Para o professor emérito da FGV-SP, Paulo Sandroni, é importante a população em geral entender os conceitos da economia e se preparar para um mundo em que a previdência social e o mundo do emprego geram incertezas sobre o futuro

Paulo Sandroni é professor emérito da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, trabalha também como pesquisador e consultor. Conhecido por livros que tentam traduzir o “economês” para estudantes e para o grande público, como o Dicionário de Economia do Século XXI, obra que existe há 20 anos e que já vendeu mais de 200 mil exemplares em suas diversas edições, sendo considerada o “Dicionário Aurélio” da economia. Nesta entrevista exclusiva à Revista Previ , Sandroni fala sobre a importância de a população acompanhar a economia, pois ela influencia a vida de todos, e também ter educação financeira e aderir a planos de previdência complementar por conta das incertezas que rondam a previdência social e o mundo do trabalho.

Revista PREVI – O senhor tem livros lançados com a preocupação de traduzir a economia para o grande público, qual a importância disso?

Paulo Sandroni – Desde que comecei minha carreira na universidade, percebi que os alunos tinham muita dificuldade em entender os conceitos de economia, então procurei tornar mais fácil seu entendimento e sua abordagem. Escrevi coisas com grau de complexidade maior, mas em grande medida meus trabalhos mais conhecidos são aqueles dedicados a divulgar a economia, em transformar também a vida dos professores em algo mais fácil no trabalho cotidiano.

Revista – No dia a dia, é importante para a população em geral conhecer economia?

Sandroni – Acho que sim. As pessoas se assustam muito também porque grande parte dos economistas encarrega-se de deixar a economia mais complicada do que realmente é. Usa uma linguagem muito cifrada, que quando não entendida faz parecer que a coisa é instransponível. Quando se está falando para o grande público, não se pode falar como se estivesse entre seus pares. E o grande público merece isso porque sofre as consequências do que acontece na economia. Por essa razão me veio a ideia de fazer um dicionário de economia e agora um dicionário de economia e finanças. Os dois, de certa maneira, buscam ser um apoio para quem não entende muito bem o que está acontecendo na economia e procura se informar. E mesmo muitos alunos não entendem os autores mais famosos, que precisam ser, de alguma forma, mais simplifi cados, para que aqueles que estão entrando na escola não sintam repulsa por aquilo que não entendem.

Revista – Voltando para o dia a dia de um fundo de pensão, a PREVI lançou a possibilidade de o associado de um dos planos, o PREVI Futuro, optar por um perfil de investimento. Basicamente, se quer maior exposição ou não em renda variável, do saldo de conta que ele acumula para formar o benefício. O que é importante levar em conta nesse tipo de opção?

Sandroni – O mercado financeiro caracterizase pela incerteza e instabilidade, ninguém pode garantir qual o futuro imediato ou o médio prazo, nem o longo prazo. A primeira coisa que deve ser esclarecida para os participantes é que ninguém pode dar garantias de que aquela aplicação em renda variável será exitosa, deve-se advertir sobre os riscos e a incerteza. A segunda coisa que deve ser estimulada é que cada um faça uma análise de sua propensão ou aversão ao risco. Antes de procurar conselho de outras pessoas, precisa saber se se sente bem correndo riscos, se a perda será muito dolorosa. A satisfação de um pouco mais é maior que a dor de perder? Quem não está muito acostumado com mercado financeiro entra no momento em que deveria sair e sai quando deveria entrar. Mas é claro que, no caso da PREVI, há profi ssionais especializados para tocar os investimentos. Ao fazer a opção por renda variável, os gestores aplicam e podem fazer as distintas advertências e análises. O importante é que a pessoa, se perder, saiba porque perdeu. Segundo lugar, se perder, já estar contabilizando isso como uma possibilidade, não ficar como aquele que aplica e acha que vai ganhar sempre.

Revista – Para a pessoa poder ter opções é necessária a educação financeira. Qual a importância desse tipo de conhecimento?

Sandroni – A educação financeira cobra um significado muito grande agora, quando todo mundo está vendo que as condições da previdência universal tornam-se cada vez mais frágeis, porque a situação de grande geração de empregos na década de 1970 mudou. Além de as pessoas estarem vivendo mais, com necessidade de uma provisão maior para fazer frente aos desembolsos suplementares. O número de contribuintes também vem caindo em relação a quem recebe os benefícios. Então, a previdência complementar deve ser uma alternativa cada vez mais divulgada, principalmente para quem está entrando no mercado de trabalho. Tem gente que entra e já faz seu fundo de previdência, porque também há questão do desemprego ou da não existência do emprego permanente, como era antes. Portanto, é cada vez mais importante a questão da previdência. Temos de atuar como os japoneses e asiáticos, que fazem poupança para enfrentar um futuro em que a incerteza e a insegurança têm papel importante. Esse hábito deve ser estimulado. Brasileiro, hoje, ainda tem um hábito meio norte-americano de consumir, mesmo com taxas de juros muito altas. Mas agora eu vejo que a prática da previdência está se difundindo. Outra coisa que existia no passado e não existe mais, principalmente em famílias que vinham do campo, era a esperança de os filhos garantirem o futuro dos pais, hoje a coisa se inverteu. Em muitas famílias, é a aposentadoria dos pais que garante a manutenção da família.

Revista – Essa preocupação influencia no conhecimento da economia, como cálculo de juros etc.

Sandroni – O importante é fazer cálculo de juros compostos para o futuro, ver com quanto é necessário contribuir para ter a remuneração que se pretende. Todos esses cálculos são complexos, mas isso cada vez mais vai se tornando presente. Agora, com os meios de comunicação e com os computadores, em que há programas que fazem cálculos, simuladores, dá para planejar muito mais. É importante também que estamos passando por um período de baixa inflação, que contribui muito para poder fazer esses cálculos. Na hiperinflação quem poderia fazer cálculos para mais de uma semana? Tem uma série de mudanças que hoje estão contribuindo para isso.

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