Edição 168 Dezembro/2012

vida boa

Corpo e mente em movimento

Conheça a história de Eunice Tereza, aposentada do BB

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Da vida só se leva a vida que a gente leva. Por isso, para mim, espalhar o bem – seja com a minha arte, com minhas ideias ou com as minhas atitudes – é o que importa. Minha história no BB durou 23 anos e foi muito feliz. Tomei posse aos 22 anos, em janeiro de 1973, em Vacaria, minha terra natal, no Rio Grande do Sul. Em 1974, vim para Porto Alegre, onde trabalhei até 1996, quando me aposentei como gerente de expediente. Sou formada em Direito, mas não exerci a profissão, porque, quando terminei o curso, estava grávida de minha filha e preferi continuar no BB, seguindo a carreira estável que ele me proporcionava.

Tenho 61 anos e sou aposentada do Banco há 16, mas nunca parei, de fato, de trabalhar. No entanto, meu foco mudou, e o que busco sempre é levar alegria às pessoas ao meu redor, da forma que puder.

Há quatro anos, uma apresentação de dança mudou minha ideia do que fazer de minha aposentadoria. Fui assistir ao espetáculo Derrubando Tabus, da Companhia de Dança Edison Garcia (Cdeg), em que aproximadamente cem bailarinos, entre 50 e 84 anos, se apresentavam ao som de diversos ritmos, como tango, valsa e samba. Fiquei encantada com a capacidade daquele grupo e decidi que queria fazer parte dele. Disse para minha filha que ia realizar um sonho: o de me apresentar num palco. E consegui mais do que entrar para a Cdeg: dei um novo sentido para minha vida, colocando corpo e mente em funcionamento constante.

Sempre gostei de arte e de suas diversas formas de expressão – canto, dança, teatro, artes plásticas – e isto se estendeu aos meus três filhos: uma arquiteta, um artesão e artista plástico, e outro formado em psicologia (mas que tem, como hobby, confeccionar suas próprias roupas). E eu, ao longo dos anos, estou descobrindo as minhas aptidões: na dança, na dublagem, na contação de histórias.

Aposentadoria só no papel

Minha aposentadoria, na verdade, foi só no papel. Logo que saí do Banco, passei a trabalhar com seguro de vida e consórcio imobiliário. Atualmente sou corretora de imóveis, profissão que exerço desde 2000.

Sempre digo que minha reforma interior começou em 1999, quando meu pai faleceu e comecei a frequentar um centro espírita. Lá, comecei a ver a vida de outra forma. Transmitir coisas boas para as outras pessoas tornou-se meu objetivo. Hoje, além de dançar e trabalhar, encontro tempo para atuar como voluntária, contando histórias para crianças doentes no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre – faço parte da associação Viva e Deixe Viver. Desempenho essa atividade há quase dois anos e me sinto realizada.

Um sentido maior para a vida

Para ser exata, meu fascínio pelas artes vem desde que eu era criança: já gostava de dançar e, ainda no colégio, participava de grupo de teatro. Meus grandes sonhos eram: dublar Clara Nunes, me apresentar dançando um tango e sair numa ala de Escola de Samba no Carnaval. Já realizei todos eles.

Mas a descoberta desse meu lado artístico só aconteceu mesmo depois que entrei para a escola de dança. Quando vi aquele espetáculo, em 2008, minha paixão reacendeu, e concluí que era isso que eu queria fazer até ficar velhinha: dançar, dublar e levar alegria às pessoas. Lá na Cdeg, nós, artistas da melhor idade, fazemos mais do que ensaiar e nos apresentarmos: colocamos nosso corpo e nossa mente em movimento, dando um sentido maior à nossa vida.

É impressionante como a arte revigora, faz bem. Já presenciei maravilhas que a dança, a música, ou qualquer outra expressão artística operam na vida das pessoas. Participar da Cdeg já nos proporcionou nos apresentarmos em teatros renomados de Porto Alegre como o Renascença, CIEE e Câmara Túlio Piva, e até em outras cidades. Quando nos convidam, vamos a asilos, festas particulares. Enfim, levamos alegria aonde pudermos.

Já fizemos apresentações em homenagem a Clara Nunes e a Elis Regina, que muito me orgulharam. Para esses espetáculos, assim como todos os outros, mergulho em um intenso trabalho de pesquisa, na internet, sobre o artista, sua música, suas vestimentas, seus trejeitos. Entre as dublagens que já fiz estão números como o tango Balada para un loco, de Astor Piazzolla e Amelita Balt; e o clássico La vida es un Carnaval, de Célia Cruz.

No momento ainda não é possível, mas o que eu gostaria mesmo era de poder viajar pelo país, apresentando minha arte e relatando minha experiência para inspirar outras pessoas. É isso que quero: mostrar como o cuidado com o corpo e a conexão com a alegria são necessários para sermos saudáveis e felizes.

A ideia é essa: nunca é tarde para realizarmos nossos sonhos!

 

Eunice Teresa Dall, aposentada do BB, corretora de imóveis, dubladora e dançarina

Contato: eunicedall@hotmail.com

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