Edição 165 Junho/2012

bem-estar

Reeducando o paladar

A nutricionista Sonja Salles afirma que nunca é tarde para mudar hábitos alimentares

E quanto aos adoçantes? Eles podem ser uma opção para quem não consegue abrir mão dos sabores doces? “Geralmente, eles são muito ruins e alguns provocam outros problemas de saúde, como a sacarina”, critica Sonia Hirsch. “A stevia é a melhor opção entre eles”, diz. Mas, para que toda essa dieta menos doce funcione, é preciso passar por uma reeducação. “Somos viciados em gostos fortes”, constata a jornalista. “Precisamos limpar o nosso paladar, voltar a sentir os sabores mais neutros e perceber o gosto natural dos alimentos”, recomenda.

Como o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores mundiais de açúcar, essa tarefa não é das mais simples. O hábito está arraigado demais em nosso dia a dia. Sonia lembra que, uma vez, no interior de Minas Gerais, entrou em uma lanchonete para pedir um café. Só tinha com açúcar. Ela pediu para fazerem um outro para ela. “Sem açúcar?”, perguntou o balconista.
“Sem açúcar”, confirmou a jornalista. “Juntou gente para ver se eu ia beber mesmo o café amargo”, conta. “Por sinal, ao tirar o doce do café, a gente também diminui o consumo dessa bebida, o que faz bem para a saúde”, diz.

“É preciso mudar toda uma cultura”, afirma Gonzalez. “Costumo dizer que as oficinas culinárias que promovemos deviam ser patrocinadas pela Lei Rouanet”, brinca. O médico explica que a ideia é usar apenas o açúcar natural presente nos alimentos para criar opções mais saudáveis e gostosas.

Como a musse de maracujá e manga. “Você prepara a massa com a manga doce e adiciona a polpa de maracujá”, explica Gonzalez. “Depois, você joga na massa um pouco de missô, um sal japonês encontrado em lojas de produtos naturais. Ele dá um toque ligeiramente lácteo e fica uma delícia”, garante o médico, que tem uma cozinha para desenvolver receitas culinárias em sua clínica, em São Paulo.

Ou a receita simples de doce de fruta sugerida por Sonia Hirsch. “Você pode utilizar bananas ou qualquer fruta de época bem madura, como manga, maçã ou caqui, que são mais doces e mais baratas”, diz ela. “Cozinhe a fruta bastante tempo, sem ou com pouca água, em fogo baixo, numa panela bem grossa, com uma pitada de sal ou uma bolinha de missô, até desmanchar. E quanto mais você cozinha a fruta, mais doce ela fica, porque a frutose fica mais concentrada. O sal também ajuda a puxar o sabor doce da fruta. Depois, tempere com cravo ou pauzinhos de canela e guarde em potes na geladeira.” Como se vê, a vida pode continuar doce, mesmo com pouco açúcar. “Nunca é tarde demais para se começar a mudar seus hábitos alimentares”, lembra a nutricionista Sonja Salles.

Açúcar, cocaína e dopamina

A química e cientista Conceição Trucom, responsável pelo site sobre alimentação saudável Doce Limão, pergunta: o que o açúcar, a cocaína e o trigo refinados têm em comum? São brancos, apresentam rápida absorção pelo sangue por causa do refino e interferem na liberação de dopamina no cérebro.

A dopamina, explica Conceição, é um importante neurotransmissor do cérebro, que promove, entre outros efeitos, a sensação de prazer e motivação. “Ela age como estimulante do Sistema Nervoso Central”, diz. “Produzida e liberada por causas naturais, a dopamina faz parte da bioquímica humana, seja para momentos de defesa e sobrevivência, seja para lutar por sentido e significância existencial.”

No entanto, a substância também está por trás da dependência do jogo, sexo, álcool e outras drogas. “Como o efeito da dopamina dura menos de dez minutos, é preciso consumir a droga continuamente, em doses cada vez maiores, para manter a sensação de prazer”, alerta Conceição. “Como isso não é possível, surge um estado de depressão ou melancolia, revestido de medo, ansiedade e desconforto físico, uma mescla de distúrbios fisiológicos e neurológicos.”

A cientista acrescenta que as anormalidades causadas pela dopamina estão relacionadas a desordens como a esquizofrenia e também ao Mal de Parkinson. “A ordem é se reeducar”, diz Conceição. “É uma ilusão pensar primeiro no prazer e não nos danos que ele pode causar. Temos de quebrar essa compulsão”, conclui.

Curta Dica

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Sem Açúcar, Com Afeto, Sonia Hirsch (Editora Corre Cotia) – Best-seller da jornalista e ex-viciada em açúcar, lançado em 1984, revisto e atualizado em 1996, o livro dá dicas e receitas para se livrar do vício.

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Lugar de Médico é na Cozinha, Alberto Peribanez Gonzalez (Editora Alaúde) – O médico Alberto Peribanez mostra, com base científica, que a chave para a cura e para a saúde pode estar bem à mão, nos alimentos da horta e do pomar, dentro de sua própria cozinha. Inclui 88 receitas saudáveis e saborosas.

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Alimentação Desintoxicante, Conceição Trucom (Editora Alaúde) – A química e cientista, responsável pelo site Doce Limão, diz que desintoxicar-se é uma necessidade diária. O livro explica como praticar a desintoxicação, em linguagem acessível a todos.

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Sugar Blues, O Gosto Amargo do Açúcar, William Dufti (Editora Ground) –
O pesquisador norte-americano conta a história do açúcar pelos séculos e mostra como uma substância sem valor nutritivo se tornou quase onipresente na dieta ocidental contemporânea.

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