Investimentos

Cenários Econômicos

04/12/2018

Dezembro de 2018

O “Boletim Macroeconômico” é um relatório periódico que tem como objetivo informar aos participantes da Previ sobre os principais acontecimentos e atualizações referentes à conjuntura econômica. Nesse relatório também são expostas projeções realizadas pelo mercado, provenientes de fontes públicas.


Setor Externo (dados coletados até 30/11/2018)

Em 27/11/2018, o Banco Central divulgou o Relatório de Investimento Direto com estatísticas e análises relacionadas ao ano de 2017. O investimento direto é a categoria de investimento de maior destaque no relacionamento econômico e financeiro do Brasil com o resto do mundo.

Segundo padrões internacionais, o investimento direto ocorre quando um investidor de uma economia detém poder de voto igual ou superior a 10% em empresa de outra economia, participando de forma efetiva do negócio e mantendo interesse estável e de longo prazo na empresa investida.

O investimento direto possui dois componentes: a Participação no Capital e as Operações Inter Companhias. A Participação no Capital refere-se ao investimento de residentes e não residentes alocado no capital de empresas residentes no Brasil e no exterior, respectivamente. Já as Operações Inter Companhias compreendem os créditos concedidos a empresas residentes no Brasil e no exterior por empresas residentes e não residentes pertencentes ao mesmo grupo econômico da empresa investida.

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Fonte: BCB

Em 2017, o volume de Investimentos Diretos no País cresceu 9,2% e atingiu US$ 768 bilhões, sendo 70% desses recursos alocados em Participações de Capital (US$ 540 bilhões) e 30% em Operações Inter Companhias (US$ 228 bilhões).

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Fonte: BCB

A Europa é a região com a maior participação em investimentos diretos no Brasil. Em 2017, esses recursos representaram cerca de 70% das participações em capital de empresas brasileiras. Os países baixos são os principais investidores na forma de Participação no Capital (25% do total) de empréstimos Inter Companhia (41% do total).

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Fonte: BCB

Sob a ótica da alocação setorial, observa-se que o setor de serviços é o que concentra a maior quantidade de recursos (57,1%), seguido da indústria (34,8%) e da agricultura (8,1%). O segmento de serviços financeiros representa 21,1% dos ativos alocados, o segmento de bebidas corresponde a 10,6% e a extração de petróleo e gás 4,6%.

Zona do Euro (dados coletados até 03/12/2018)

Riscos de médio e Longo Prazos

1) Benefícios da Imigração versus Crescimento de partidos políticos populistas anti-imigração

A Zona do Euro tem enfrentado um dilema importante relacionado a imigração. Ao passo que, nos últimos anos, intensificou-se a entrada de refugiados na Europa, aumentavam também  os temores sociais associados ao impacto no emprego, salários, crimes e identidade nacional. A questão da imigração é a mais urgente das preocupações segundo pesquisa realizada com os cidadãos da região. Desta forma, os partidos políticos populistas, autoritários, anti-globalistas e anti-imigração se beneficiam deste sentimento de insatisfação. 

Maiores preocupações dos europeus

 

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Fonte: Comissão Europeia, elaborado por Dipla/Gepoc

No entanto, do ponto de vista econômico, o crescimento econômico potencial de longo prazo da região depende da imigração, devido envelhecimento da população. Nas projeções da Comissão Europeia a migração liquida será em média 1 milhão por ano até 2050.

Os impactos de um cenário em que as imigrações diminuam substancialmente, são diversos e ficam a depender do cenário econômico e demográfico de cada país. Os países com demografia mais fraca e níveis elevados de dívida pública sofreriam consequências mais graves. A partir de 2020, países como a Espanha e Itália já teriam uma queda populacional. A Itália sofre em um risco adicional porque possui alto endividamento, produtividade baixa e, hoje, um governo anti-imigratório. A Alemanha seria afetada por apresentar uma taxa de fertilidade baixa.

2) Guerra Comercial

O comércio entre EUA e Europa tem crescido nos últimos anos, aumentando 18% e 20% respectivamente no último ano. No entanto, há um desequilíbrio estrutural no fluxo comercial, já que o excedente do saldo comercial, favorável a União europeia, cresceu em 50% na última década, principalmente impulsionada pelas exportações da Alemanha.

Contudo, medidas protecionistas não solucionam esta assimetria comercial. O EUA sofre de um déficit fiscal persistente, onde o total de investimentos é maior do que o total da poupança. Enquanto alguns países da União Europeia, como Alemanha e Holanda, possuem maior poupança do que consumo e investimentos. Por outro lado, há um desequilíbrio interno onde há países superavitários e outros deficitários, fato que prolonga ainda mais a crise na zona do euro.

3) Atenção na Itália

As incertezas políticas estão crescentes na Europa. A Itália, por exemplo, está sob o governo de um governo populista, anti-imigração, anti-zona do euro.   As políticas fiscais expansionistas do governo podem agravar os desequilíbrios da dívida soberana do país, aumentando as incertezas quanto ao país e piorando as perspectivas dos agentes, causando possível postergação dos investimentos e consumo. Em um cenário político mais adverso entre o país e o bloco europeu, há uma probabilidade, ainda baixa, de saída da zona do euro. Este fato traria ainda mais incertezas para uma economia que ainda não conseguiu alavancar.

Estados Unidos (dados coletados até 31/10/2018)

Apesar do aumento das incertezas quanto aos rumos do comércio internacional, em função da escalada das tensões comerciais entre os Estados Unidos e seus principais parceiros comerciais, a economia norte-americana vem apresentando crescimento robusto. A atividade econômica vem refletindo os bons fundamentos macroeconômicos, auxiliados pelos recursos adicionais da reforma fiscal.

Indicadores do mercado de trabalho apontam melhora contínua, porém ainda estão aquém das expectativas em função de pressões salariais. Já a inflação, do mesmo modo, vem sinalizando uma melhora gradual, em linha com a meta estabelecidas pelo Banco Central (FED) de 2%, o que condiz com a trajetória de aperto suave nas condições monetárias.  

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Nesse contexto, o FED vive um dilema na condução da política monetária. Se por ventura retardar o seu plano de elevação das taxas de juros básica, pode levar a economia a um superaquecimento, uma vez que a economia se encontra próxima a sua máxima capacidade produtiva ou de pleno emprego, com a taxa de desocupação em níveis muito baixos (atingiu 3,7%, menor nível em 50 anos). Soma-se a isso, os efeitos do impulso fiscal já em vigor, com estímulos adicionais que podem chegar a 1,3% do PIB, quando somados os anos de 2018 e 2019.

Por outro lado, se o FED elevar os juros muito rapidamente, poderia antecipar uma desaceleração da atividade econômica, interrompendo prematuramente o atual ciclo positivo de expansão. O equilíbrio entre estes dois cenários de ajuste na política monetária será o grande desafio daqui para frente.

O fato é que os riscos de recessão estão aumentando. O cenário de crescimento global sincronizado observado do início do ano, nas principais economias do mundo, arrefeceu. Houve elevação dos preços do petróleo e do dólar, com problemas de oferta ocasionados pela crise na Venezuela e pelo rompimento do acordo com o Irã. Mas o risco mais relevante vem, sobretudo, do acirramento das relações comerciais dos Estados Unidos com seus pares comerciais, especialmente a China, que pode levar a uma desaceleração em escala global. A atividade econômica nos EUA segue trajetória consistente, apesar dos aumentos dos riscos relacionados às incertezas dos mercados globais. O PIB norte americano avançou 4,1% no 2º trimestre de 2018 (trimestre a trimestre anualizado). Esse foi o maior ritmo desde 2014. O Consumo e os Investimentos apresentaram alta de 4,0% e 5,4%, respectivamente, indicando uma melhora da renda das famílias e da confiança dos agentes. As exportações tiveram forte elevação (9,3%) beneficiadas pela antecipação de parte das vendas pelo receio de mudanças de políticas tarifárias em resposta às sobretaxas ao aço e ao alumínio importado. Medidas fiscais adicionaram em torno de US$ 1,5 trilhão via corte de impostos, que somados a benefícios contábeis para investimentos, contribuíram para o resultado acima da média do PIB. O estímulo fiscal provavelmente contribuirá com 0,7pp para o crescimento do PIB em 2018 e 0,6pp em 2019. A Lei de Cortes e Empregos Tributários (TCJA) terá seu maior efeito marginal neste ano, enquanto os gastos da Lei Orçamentária Bipartidária (BBA) beneficiarão, principalmente, o crescimento em 2019.

Política Monetária

Com a inflação em linha com a meta de 2% ao ano; a taxa de desemprego em nível baixo, em função mercado de trabalho aquecido e as expectativas controladas, o FED deve manter seu plano original de elevação da taxa de juros de maneira suave e gradual. Por enquanto a trajetória de elevação dos juros está em linha com o mercado. Após sete elevações em três anos (início em 12/2015), o Federal Funds rate atingiu o intervalo de 2,00% a 2,25% na última reunião de setembro. O plano de normalização prevê novos ciclos de alta com previsão de atingir o patamar de 3% até 2020.  

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No último ano, a inflação apresentou evolução positiva (o PCE alcançou a meta estipulada pelo FED); o hiato do produto está fechando e o crescimento econômico, apoiado no estímulo fiscal, vem sustentando os ganhos de inflação. A partir de agora a preocupação dos membros do FOMC (Comitê de política monetária do FED) está em definir até onde a taxa de juros irá, ou seja, qual será taxa de juros neutra ou de equilíbrio.

Nesse sentido o debate indica que se formaram duas alas no Comitê do Banco Central, uma ala mais hawkish e outra mais dovish. A primeira se apoia em uma política monetária mais restritiva, dado que os indicadores alvos já foram alcançados, e por esse motivo a manutenção dos juros atuais, segundo eles, aumentaria o risco de uma repique inflacionário e um eventual desequilíbrio no mercado financeiro.

Por outro lado, a ala mais dovish acredita que, a estratégia de elevação lenta e gradual, seja a mais correta, podendo a autoridade monetária fazer uma eventual pausa no plano de elevação, caso os indicadores macroeconômicos se mostrem desfavoráveis. O fato é que o FED deve seguir uma linha de atuação muito relacionada aos indicadores da economia. Essa estratégia mais cautelosa, conhecida como data dependent, deve evitar apostas muito arriscadas podem ocasionar mudanças bruscas de rumo na política monetária, que tem se provado muito mais danosas à economia global.

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Nesse sentido, o Banco Central americano quer evitar é que um eventual movimento brusco na política monetária possa ocasionar um efeito recessivo na economia. É mais arriscado “errar a mão” e elevar os juros além do necessário e causar uma recessão, do que fazer um movimento muito suave de elevação dos fed funds e causar um eventual sobreaquecimento. Lidar com recessão é mais complicado, pois o FED não possui munição para combatê-la, tendo em vista que os juros já estão baixos demais. Quando se olha sob a perspectiva histórica, para combater a recessão é exigido, em média, uma queda de 500 pontos base (p.b.) dos juros básicos. Algo que atualmente o FED não dispõe.    

Expectativas de Mercado (dados coletados até 30/11/2018)

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O presente boletim, de caráter informativo, foi produzido com base em dados publicamente divulgados. A Previ não declara, tampouco garante, de forma expressa ou tácita, que tais dados sejam imparciais, precisos, completos ou corretos. Cenários, análises, projeções, prognósticos e estimativas com base em tais dados estão sujeitos a riscos e incertezas e podem ser, ainda, e a qualquer momento, prejudicados, desconsiderados e descartados, até mesmo como decorrência, por exemplo, de mudanças na conjuntura nacional e/ou internacional, divergências nos critérios e métodos interpretativos e/ou nos fatores de riscos sistêmicos e/ou associados a alterações geopolíticas, políticas, econômicas, sociais, legislativas ou regulatórias. Este boletim não deve, em nenhuma circunstância, ser considerado como indicação, orientação, recomendação ou fonte para tomada de decisões. Compete a cada leitor realizar pesquisas, estudos e análises devidas. Qualquer eventual decisão ou ação é de sua exclusiva responsabilidade, não podendo a Previ, em nenhuma hipótese, ser de qualquer forma responsabilizada, inclusive, por qualquer perda ou dano, direto ou indireto. A Previ não assume qualquer compromisso ou obrigação, inclusive de revisar, atualizar ou complementar este boletim. A reprodução, divulgação, distribuição ou compartilhamento não expressamente autorizado deste boletim,  ou de qualquer parte dele, sujeitará o infrator às penalidades legais.

Previ - Diretoria de Planejamento