|nº 138| Dez 08

» Cultura Previdenciária » Mais que um desconto no contracheque

Revista – Há quem olhe fundo de pensão como um fundo de investimento. Isso chega a ser um problema?
Andréa –
Quem é do PREVI Futuro (de Contribuição Variável) pode acabar tratando o Plano como se fosse um investimento. Esse olhar faz ele acompanhar a rentabilidade apesar de saber que não pode mexer naquele dinheiro a qualquer momento. É um entendimento saudável, um estímulo para quem é mais jovem acompanhar sua reserva crescer, mesmo sabendo que o propósito desse recurso é previdenciário. Pode ser até um estímulo para contribuir mais.

Revista – O que você diria para quem pensa em tirar os recursos do fundo de pensão para aplicar no mercado financeiro?
Andréa –
Costuma ser um erro. São poucas as pessoas que têm a disciplina e o conhecimento necessários. A disciplina é fundamental para resistir à tentação de mexer naquele dinheiro diante da primeira dificuldade financeira. Conhecimento também é indispensável, uma vez que, num fundo de pensão, há pessoas pensando o tempo todo em como fazer seu dinheiro render mais. Essas pessoas são especialistas. A menos que você seja um desses especialistas, vai ser difícil. Para lidar com dinheiro, é preciso ter conhecimento e isso não é todo mundo que tem.

Revista – A PREVI tem dois planos distintos: Plano 1 (benefício definido) e PREVI Futuro (Contribuição Variável). Faz sentido segmentar a comunicação com esses públicos? Os perfis são realmente distintos?
Andréa –
Talvez a abordagem tenha que ser um pouco diferente porque cada Plano tem características específicas. O grupo do Plano 1 tem idade média maior, é um pessoal que já tem mais de dez anos de Banco. Já o pessoal do PREVI Futuro é mais jovem, acabou de entrar no Banco e tem perspectivas diferentes. Por exemplo, em termos de rentabilidade, é injusto que o PREVI Futuro se compare ao Plano 1. O pertinente é se comparar com outros planos assemelhados do mercado. Quando se faz isso, dá pra ver que o rendimento do PREVI Futuro fica acima da média. Outro ponto é o superávit do Plano 1. Quem não conhece bem as diferenças entre os planos pode pensar equivocadamente que a administração do Plano 1 é melhor e, por isso, há superávit. É preciso explicar que um plano como o PREVI Futuro não tem déficit nem superávit na fase de acumulação. Outra diferença é que o PREVI Futuro está numa fase em que paga pouquíssimos benefícios, por isso é a qualidade da gestão dos investimentos e o rendimento das cotas que faz diferença nesse momento. Somente daqui a alguns anos, quando o número de aposentados for maior, o foco será balanceado entre a rentabilidade e a qualidade dessas aposentadorias – se o pessoal aposentado estará satisfeito com o valor... Se será compatível com o que imaginava para a aposentadoria. Por enquanto, está todo mundo voltado para a evolução da cota. São conceitos importantes que precisam estar claros para os participantes.

Revista – Uma das diretrizes do governo é a educação previdenciária e financeira. O interesse do brasileiro por esses temas realmente vem aumentando? A previdência complementar está mesmo se tornando uma opção?
Andréa –
Sim. É fácil observar isso, principalmente na previdência aberta, que experimentou um crescimento absurdo nos últimos anos. Tem havido uma conscientização maior de casais, que, assim que o filho nasce, já fazem um plano de previdência para contribuir com R$ 100, R$ 200 por mês. Hoje, já há mais matérias nos jornais, reportagens específicas. Essa preocupação do governo é válida. O brasileiro carece dessa educação porque só começa a se preocupar com isso quando está próximo da aposentadoria. Mas observo que vem aumentando a preocupação com o planejamento do futuro, até porque, para algumas pessoas, o nível do benefício da previdência social pode não ser suficiente para garantir uma aposentadoria tranqüila. A educação financeira também é fundamental. Existem pessoas que não têm noções básicas sobre a força da taxa de juros e, às vezes, se envolvem em dívidas até por falta dessa compreensão. A educação sobre esses temas vai facilitar o diálogo com os participantes. Boa
parte dos problemas é por conta do mau entendimento do participante em relação ao funcionamento do Plano e à legislação que está por trás. Exemplo: um participante pede um empréstimo que não é concedido. Ele tem que entender que são regras a que o fundo de pensão está sujeito. Quando o participante começa a se envolver mais com essas questões, fica mais compreensível.

Revista – O que fazer para tornar a previdência complementar um tema nacional? Previdência não é um assunto muito elitista?
Andréa –
É um universo muito restrito no nosso país. Se o Brasil continuar crescendo, é natural que as pessoas passem a ter um salário melhor e comecem a se preocupar com essas questões. Ainda é considerado um luxo. O desenvolvimento das entidades abertas ajudou a popularizar a previdência complementar, mas, de fato, ainda não atingiu as camadas mais baixas. Mas não vai crescer substancialmente de uma hora para outra; o crescimento vai ter um ritmo constante até que, de fato, boa parte da população tenha algum tipo de proteção complementar.

Revista – O que vai facilitar esse crescimento?
Andréa –
Primeiramente, a estabilidade da economia. Em previdência, você compra um sonho de longo prazo, alguma coisa que espera ter próximo à velhice – seja na previdência fechada ou aberta. Então, é um compromisso de longo prazo baseado em credibilidade. Você tem que acreditar que a instituição vai continuar saudável para pagar aquele benefício. É preciso confiar que a gestão vai ser feita com responsabilidade. Mas confiança exige tempo. A própria PREVI já passou por situações difíceis. Tinha um plano deficitário, teve problemas inclusive com intervenção e mudança no Estatuto. Depois desse período
conturbado, a situação se estabilizou com uma gestão com continuidade e sem sobressaltos. Isso vai dando uma confiança ao participante. O mesmo vale para as entidades abertas. Não por acaso, as maiores são ligadas a grandes bancos, instituições grandes e sólidas. Imaginar um Bradesco, um BB quebrar é complicado. Previdência é como um casamento: é preciso acreditar que o fundo de pensão vai gerir bem o seu recurso para pagar o beneficio que você imagina. Se essa confiança é quebrada, resgatar é muito difícil.

Revista – Você considera um privilégio trabalhar em empresa que oferece plano de previdência ao empregado – como é o caso do banco do brasil?
Andréa –
Fico indignada quando alguém diz que não entrou para o fundo de pensão da empresa em que trabalha. A não ser em situações extremas – como um fundo em situação ruim – nada justifica. É uma oportunidade que poucos têm, uma vez que a empresa está oferecendo um benefício a que não está obrigada. Certamente, um dos motivos é a preocupação com o bem-estar do empregado. Por isso, os grandes fundos são de empresas estatais que, normalmente, têm uma preocupação maior com essa questão. Em suma, é uma oportunidade que o empregado tem que agarrar porque ainda é para poucos no Brasil. Já ouvi dizer que hoje há quem entre no BB com projeto de ficar pouco tempo e, por isso, acaba deixando de ingressar na PREVI. Mas esse pessoal pode acabar ficando muito tempo no Banco e, lá na frente, perceber que perdeu anos preciosos por não ter entrado no PREVI Futuro.

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