Revista – Há quem olhe fundo de pensão como um
fundo de investimento. Isso chega a ser um problema?
Andréa – Quem é do PREVI Futuro (de Contribuição Variável) pode acabar tratando o Plano como se fosse um
investimento. Esse olhar faz ele acompanhar a rentabilidade
apesar de saber que não pode mexer naquele dinheiro
a qualquer momento. É um entendimento saudável,
um estímulo para quem é mais jovem acompanhar sua
reserva crescer, mesmo sabendo que o propósito desse
recurso é previdenciário. Pode ser até um estímulo para
contribuir mais.
Revista – O que você diria para quem pensa em tirar os
recursos do fundo de pensão para aplicar no mercado
financeiro?
Andréa – Costuma ser um erro. São poucas as pessoas
que têm a disciplina e o conhecimento necessários. A
disciplina é fundamental para resistir à tentação de mexer
naquele dinheiro diante da primeira dificuldade financeira.
Conhecimento também é indispensável, uma vez que,
num fundo de pensão, há pessoas pensando o tempo todo
em como fazer seu dinheiro render mais. Essas pessoas são
especialistas. A menos que você seja um desses especialistas,
vai ser difícil. Para lidar com dinheiro, é preciso ter
conhecimento e isso não é todo mundo que tem.
Revista – A PREVI tem dois planos distintos: Plano 1
(benefício definido) e PREVI Futuro (Contribuição Variável).
Faz sentido segmentar a comunicação com esses
públicos? Os perfis são realmente distintos?
Andréa – Talvez a abordagem tenha que ser um
pouco diferente porque cada Plano tem características
específicas. O grupo do Plano 1 tem idade média maior,
é um pessoal que já tem mais de dez anos de Banco.
Já o pessoal do PREVI Futuro é mais jovem, acabou
de entrar no Banco e tem perspectivas diferentes. Por
exemplo, em termos de rentabilidade, é injusto que o
PREVI Futuro se compare ao Plano 1. O pertinente é
se comparar com outros planos assemelhados do mercado.
Quando se faz isso, dá pra ver que o rendimento
do PREVI Futuro fica acima da média. Outro ponto é
o superávit do Plano 1. Quem não conhece bem as diferenças
entre os planos pode pensar equivocadamente
que a administração do Plano 1 é melhor e, por isso,
há superávit. É preciso explicar que um plano como o
PREVI Futuro não tem déficit nem superávit na fase
de acumulação. Outra diferença é que o PREVI Futuro
está numa fase em que paga pouquíssimos benefícios,
por isso é a qualidade da gestão dos investimentos e o
rendimento das cotas que faz diferença nesse momento.
Somente daqui a alguns anos, quando o número de
aposentados for maior, o foco será balanceado entre a
rentabilidade e a qualidade dessas aposentadorias – se
o pessoal aposentado estará satisfeito com o valor... Se
será compatível com o que imaginava para a aposentadoria.
Por enquanto, está todo mundo voltado para
a evolução da cota. São conceitos importantes que
precisam estar claros para os participantes.
Revista – Uma das diretrizes do governo é a educação
previdenciária e financeira. O interesse do brasileiro por
esses temas realmente vem aumentando? A previdência
complementar está mesmo se tornando uma opção?
Andréa – Sim. É fácil observar isso, principalmente na
previdência aberta, que experimentou um crescimento
absurdo nos últimos anos. Tem havido uma conscientização
maior de casais, que, assim que o filho nasce, já fazem
um plano de previdência para contribuir com R$ 100,
R$ 200 por mês. Hoje, já há mais matérias nos jornais,
reportagens específicas. Essa preocupação do governo
é válida. O brasileiro carece dessa educação porque só
começa a se preocupar com isso quando está próximo da
aposentadoria. Mas observo que vem aumentando a preocupação
com o planejamento do futuro, até porque, para
algumas pessoas, o nível do benefício da previdência social
pode não ser suficiente para garantir uma aposentadoria
tranqüila. A educação financeira também é fundamental.
Existem pessoas que não têm noções básicas sobre a
força da taxa de juros e, às vezes, se envolvem em dívidas
até por falta dessa compreensão. A educação sobre esses temas vai facilitar o diálogo com os participantes. Boa
parte dos problemas é por conta do mau entendimento
do participante em relação ao funcionamento do Plano e à legislação que está por trás. Exemplo: um participante
pede um empréstimo que não é concedido. Ele tem que
entender que são regras a que o fundo de pensão está
sujeito. Quando o participante começa a se envolver mais
com essas questões, fica mais compreensível.
Revista – O que fazer para tornar a previdência complementar
um tema nacional? Previdência não é um
assunto muito elitista?
Andréa – É um universo muito restrito no nosso país.
Se o Brasil continuar crescendo, é natural que as pessoas
passem a ter um salário melhor e comecem a se preocupar
com essas questões. Ainda é considerado um luxo. O
desenvolvimento das entidades abertas ajudou a popularizar
a previdência complementar, mas, de fato, ainda
não atingiu as camadas mais baixas. Mas não vai crescer
substancialmente de uma hora para outra; o crescimento
vai ter um ritmo constante até que, de fato, boa parte da
população tenha algum tipo de proteção complementar.
Revista – O que vai facilitar esse crescimento?
Andréa – Primeiramente, a estabilidade da economia.
Em previdência, você compra um sonho de longo prazo,
alguma coisa que espera ter próximo à velhice – seja na
previdência fechada ou aberta. Então, é um compromisso
de longo prazo baseado em credibilidade. Você tem que
acreditar que a instituição vai continuar saudável
para pagar aquele benefício. É preciso confiar
que a gestão vai ser feita com responsabilidade.
Mas confiança exige tempo. A própria PREVI já
passou por situações difíceis. Tinha um plano
deficitário, teve problemas inclusive com intervenção
e mudança no Estatuto. Depois desse período
conturbado, a situação se estabilizou com
uma gestão com continuidade e sem sobressaltos.
Isso vai dando uma confiança ao participante. O
mesmo vale para as entidades abertas. Não por
acaso, as maiores são ligadas a grandes bancos,
instituições grandes e sólidas. Imaginar um Bradesco,
um BB quebrar é complicado. Previdência é como um casamento: é preciso acreditar que
o fundo de pensão vai gerir bem o seu recurso
para pagar o beneficio que você imagina. Se essa
confiança é quebrada, resgatar é muito difícil.
Revista – Você considera um privilégio trabalhar em
empresa que oferece plano de previdência ao empregado – como é o caso do banco do brasil?
Andréa – Fico indignada quando alguém diz que
não entrou para o fundo de pensão da empresa em
que trabalha. A não ser em situações extremas – como
um fundo em situação ruim – nada justifica. É uma
oportunidade que poucos têm, uma vez que a empresa
está oferecendo um benefício a que não está obrigada.
Certamente, um dos motivos é a preocupação com o
bem-estar do empregado. Por isso, os grandes fundos
são de empresas estatais que, normalmente, têm uma
preocupação maior com essa questão. Em suma, é uma
oportunidade que o empregado tem que agarrar porque
ainda é para poucos no Brasil. Já ouvi dizer que hoje há
quem entre no BB com projeto de ficar pouco tempo
e, por isso, acaba deixando de ingressar na PREVI. Mas
esse pessoal pode acabar ficando muito tempo no Banco
e, lá na frente, perceber que perdeu anos preciosos por
não ter entrado no PREVI Futuro. |