Revista – O senhor saiu do Planalto depois de
dois anos, seu plano já era trabalhar por conta
própria, sem fazer parte dos grandes veículos?
Kotscho – Isso foi amadurecendo quando estava
lá, preocupava-me com o futuro. Depois de ver por
dentro o governo e as relações com a grande mídia,
não tinha vontade de voltar para lugar nenhum,
tinha trabalhado em todos os veículos grandes, só
não trabalhei na Veja e na Record. Aí surgiu um
convite do Luiz Schwartz, editor da Companhia
das Letras, para fazer um livro de memórias. Como
faço muitas palestras, muitos professores me sugeriam
escrever sobre o que eu falava.
Em 2005, fui remunerado para fazer o livro, com
uma antecipação de direitos autorais. Descobri
que dava pra viver com frilas, escrevendo no site
NoMínimo. Empatando estava bom, preciso de dinheiro
para pagar as contas, ir à praia, só não gosto
de ficar devendo. E hoje dá para fazer isso, muita
gente jovem faz, trabalha como freelancer porque
a melhor coisa do mundo é ser dono do próprio
tempo, fazer sua agenda. No jornal, quem faz a
agenda é o chefe, o editor, o pauteiro. No governo,
o presidente. Agora sou eu. É a melhor coisa.
Trabalho também na revista Brasileiros, cujo
dono é um fotógrafo, ex-diretor da IstoÉ que, ao
receber a indenização, realizou o sonho de todo
jornalista: fazer o próprio veículo. Por sorte,
não entrei como sócio, porque não sei lidar com
dinheiro. E faço muita palestra também. No governo,
era palestra não remunerada, por causa do
código de ética. E parei. Depois, não sabia cobrar,
ou fazia de graça ou por pouco, pela passagem ou
cerveja. A minha filha passou a cuidar de mim,
agora estou ganhando bem. Faço menos palestras,
porque alguns não aceitam, mas ganho mais.
Revista – A aposentadoria para profissões como
a de jornalista costuma ser uma realidade distante.
Como o senhor vê a questão?
Kotscho – Já pensei em parar há algum tempo,
mas não tem mais sentido. Com internet, no meu blog, não paro mais. Você pode ir para o sítio, para
a praia, e trabalhar. A profissão é muito estressante
de modo geral e, no meu caso, mais ainda porque
eu só viajava, a vida inteira. Conheço todo o Brasil,
todos os estados, e metade do mundo, como
repórter e assessor do Lula. Em 1994, rodamos 50
mil quilômetros de ônibus na Caravana da Cidadania.
Na quinta Caravana eu já não agüentava
mais. Como a idéia tinha sido minha, tinha que
seguir. Meu sonho era morar na praia, tentei uma
vez em 2000, fiquei dois meses e vim embora.
O problema da aposentadoria é que, quando comecei
a trabalhar, eu contribuía sobre 20 salários
mínimos, o teto da época, e receberia isso. Hoje,
com o salário mínimo de R$ 415, seriam R$ 8,3 mil,
mas o teto caiu para dez salários e ninguém se
aposenta com o teto, porque tem a média. Minha
mãe se aposentou com o teto, trabalhou a vida inteira
na Volkswagen e no fim da vida ganhava dois
mínimos. Por isso, não é por ser uma entrevista
para a Revista PREVI, é o que falo também para
minhas filhas. Começou a trabalhar, entre para
um plano de previdência complementar. É básico,
como plano de saúde. Já terminei os 20 anos em
que tinha de pagar para a previdência privada e
tirei o montante. Foi a melhor coisa que fiz. É a
garantia que tenho hoje.
Revista – E o blog? Como foi a transição do
NoMínimo para o blog?
Kotscho – No NoMínimo não tinha periodicidade,
mas pagavam por coluna, e bem. Resolvi fazer
toda semana. Depois, entraram em uma crise, e
passou a ser mensal. Uma coluna por mês é nada,
mas pagava meu aluguel. Faliu o site, aí fiquei sem
fazer internet. Em abril, passei a ser fixo no IG
para fazer coluna e agora o blog também. Reportagem,
entrevista, o que eu tiver de material sem
exigência de volume, e uma reportagem por mês
para a Brasileiros. No blog não tem periodicidade
definida, foi uma exigência que fiz, porque se ficar
o dia inteiro na frente do computador, como vou
ter novidade? Muita gente faz isso. Só fala sobre o
que terceiros apuraram. Acho um horror, sempre
gostei de escrever sobre o que vi, nem por telefone
gosto de fazer matéria. É contar história, que
sempre foi minha profissão.
Revista – Existe alguma diferença na produção
do impresso para o on-line?
Kotscho – Na linguagem, no tipo de matéria
que faço, não faz diferença. Tanto faz escrever para
a Brasileiros, uma revista mensal, quanto para o
jornal, para um site ou um livro. Este livro Uma
Vida Nova e Feliz é formado de artigos escritos
para o NoMínimo e saiu em livro. Varia de caso
a caso, conto histórias, novidades, tanto faz. Só
escrevo no blog quando dá vontade.
Revista – Com as novas tecnologias, é mais fácil
fazer esse tipo de escolha profissional, de organizar
o próprio tempo? Pode ser uma tendência?
Kotscho – Já é, mas não geral. Conversando
com o presidente da agência Mapi, o Ricardo
Sérgio, bem mais jovem que eu, de 40 anos, dei o
livro para ele, que disse que queria chegar a esse
ponto. Quando entreguei o livro para o Fernando
Henrique Cardoso, por ocasião de uma entrevista,
ele disse que estava como eu. Do governo, a
única coisa de que sinto falta são as secretárias,
organizadíssimas. Até hoje, às vezes apelo para
elas. Mas é isso que vivemos hoje, antigamente, o
cara se aposentava e não fazia mais nada. Hoje, se
aposenta e continua trabalhando. |