Edição 199 Setembro/2018

Informação

Fake ou news

Como se proteger da proliferação de notícias falsas nas redes sociais

Fake news. A expressão, que quer dizer literalmente ‘notícias falsas’, foi popularizada pelo presidente dos  Estados Unidos, Donald Trump. Pouco depois de assumir o cargo, em 2017, ele acusou uma rede de televisão americana de divulgar informações falsas para prejudicá-lo politicamente. A troca de acusações, desmentidos e o acirrado debate público que se seguiram, colocou definitivamente as fake news na pauta de discussões em todo o mundo.

Para tornar o cenário ainda mais complexo, as redes sociais se transformaram em um campo de batalha. Com o advento das redes sociais e a massificação da comunicação móvel, cada usuário é um produtor de conteúdo em potencial, o que multiplica exponencialmente o volume de informação disponível para o público, vindo de fontes muitas vezes desconhecidas. O resultado foi simultâneo: de um lado, abre-se espaço para maior liberdade de expressão e participação democrática. De outro, cresce a força dos boatos e notícias deliberadamente falsas se espalham com muito mais rapidez.

Apesar de tudo, o fenômeno não é exatamente novo. “A desinformação faz parte da sociedade. Há séculos, os boatos são usados como arma no mundo todo”, lembra o cientista político Fábio Vasconcellos, da Uerj. O que mudou foi a forma de transmissão que, ironicamente, nos leva de volta a um comportamento típico dos períodos que antecederam o surgimento da comunicação de massa no século 19.

“Você é meu parente? É meu amigo? Então, passo o conteúdo adiante, mesmo que não tenha absoluta certeza da informação”, diz Vasconcellos. Segundo o cientista político, esse comportamento nunca deixou de existir completamente, mas ganhou força com a fragmentação na forma de se produzir e receber informações na era dos smartphones e redes sociais.

Esse filtro feito por meio de relações pessoais favorece a disseminação dos boatos. “Muitas vezes, isso acontece por um senso de proteção. Se há um boato de ataque de criminosos em um bairro, a pessoa repassa para os amigos, por via das dúvidas, mesmo sem saber se é verdade”, explica Vasconcellos.

Por isso, a pessoa desinteressada, que simplesmente repassa a informação, é um elo essencial na cadeia das fake news. Se ela não existir, ou pelo menos for cuidadosa antes de passar uma informação não confirmada, o problema diminui sensivelmente.

Mas que problema? A prática pode ter consequências das mais graves. Na Índia, boatos em redes sociais sobre supostos sequestros de crianças causaram linchamento de inocentes em diversas partes do país.

As fake news podem ainda ser usadas com fins de manipulação econômica. “É preciso ficar muito atento, porque a desinformação pode esconder interesses pesados”, alerta o professor de Comunicação da UFRJ, Cristiano Henriques.

De fato, informações falsas podem provocar graves prejuízos a empresas e investidores, por exemplo, desestabilizando o mercado e as Bolsas. Para o público dos fundos de pensão, isso deve ser motivo de grande preocupação e cautela, antes do compartilhamento de notícias, mensagens e dados sobre as entidades e seus planos de previdência.

Vasconcellos, no entanto, destaca a importância de se separar os boatos das chamadas fake news. “É preciso diferenciar. As fake news são notícias falsas que imitam o estilo das notícias verdadeiras, publicadas em meios tradicionais ou eletrônicos para tentar enganar o leitor deliberadamente”, explica. “Isso é diferente do boato, que não tem um formato definido, e nem sempre tem um interesse claro por trás.”

Para Henriques, não há saída à vista. “Não acredito que se possa terceirizar de forma eficiente a checagem das notícias por meio de grandes grupos, como estão tentando fazer”, avalia. “A única solução possível é desconfiar das notícias e tentar perceber o quanto a informação pode estar permeada por interesses, antes de repassar para seus contatos”, conclui.

 

SINAIS DE NOTÍCIA FALSA

Alguns sinais que podem ajudar você a desconfiar se uma notícia é falsa. E a pensar duas vezes antes de passá-la adiante.

Manchetes excessivamente alarmistas!!! O caráter sensacionalista é muito comum nesse tipo de manipulação. Por isso desconfie.

Pesquisas na Europa afirmam... Menções genéricas a pesquisas, institutos ou sites no exterior, sem uma fonte reconhecida, são uma forma comum de criar um disfarce de credibilidade em uma informação duvidosa.

Fotos para dar contexto. É muito comum usar imagens para dar contexto à informação falsa. Geralmente, são fotos sem identificação de fonte, com alguma imagem meio genérica. Um post que viralizou durante a Copa do Mundo, em uma rede social, criticava os brasileiros por ver os jogos da seleção, em vez de dar atenção a um jovem humilde que teria ganhado uma Olimpíada de Matemática no exterior. Só que o jovem da foto era simplesmente um ator de filmes pornográficos...

Rápido, antes que retirem esta revista de circulação! Alertas do tipo “leia isto, porque o governo, os bancos, a Igreja, Hollywood ou a Liga da Justiça não querem que você veja” são um dos sinais mais claros de que a notícia provavelmente é falsa.

Frases polêmicas. Cuidado com as frases polêmicas e ultrajantes atribuídas a autoridades, políticos ou empresários. Elas podem simplesmente ser mentira. Tente checar se a frase saiu mesmo publicada em alguma fonte confiável de notícia. De preferência em mais de uma. Um meme com uma frase cruel sobre professores, por exemplo, já circulou em dezenas de versões, atribuídas a diversas pessoas. E nenhuma delas era o verdadeiro autor da frase.
 

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