Edição 196 Janeiro/2018

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Integridade: valor por inteiro

Cada dia mais valorizado, atributo é um pilar para o comportamento ético na sociedade e nas organizações

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A palavra Integridade, de origem latina, caracteriza a condição daquilo que está inteiro, que não sofreu qualquer diminuição, que se encontra em plenitude. É também, segundo pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos americana Robert Half Management Resources, no final de 2016, o traço de liderança mais valorizado entre funcionários e executivos no mundo corporativo. No total, 46% dos executivos financeiros e 75% dos funcionários entrevistados apontaram a Integridade como a principal característica para a boa liderança no mundo dos negócios.

Na ocasião do lançamento da pesquisa, o diretor-executivo da Robert Half, Tim Hird, observou que “líderes que agem com Integridade e tratam bem as pessoas colaboram para maximizar as contribuições dos funcionários e construir um ambiente de cooperação em suas organizações”. Além disso, destacou que essas características ajudam a impulsionar bons negócios, atrair investidores, clientes e talentos para a organização.

Princípios

Mas o que é, na prática, essa tão falada Integridade? Segundo o filósofo Clóvis de Barros Filho, no plano do comportamento, o termo remete a decisões de conduta. “É uma maneira de pensar e de agir, que preserva um certo número de princípios assumidos no passado”, explica. Mesmo que esses compromissos impliquem perdas ou abrir mão de vantagens potenciais. “A integridade está nessa coerência ou nesse alinhamento entre promessas, pactos, acordos, princípios assumidos em comum e práticas tomadas de decisão que somos obrigados a fazer diariamente”, continua o filósofo. E compara: “Se no pão integral é o trigo que permanece ileso, no caráter, o que permanece ileso é o vínculo entre discursos e práticas. É o presente que não estilhaça o passado.”

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Para Clóvis, a valorização social da Integridade tem a ver com a percepção dos efeitos nocivos que a falta de ética traz para a sociedade. “O que há de novo é que nos damos conta do quão nefasto é o desrespeito aos acordos e princípios assumidos em comum, aos valores que devemos respeitar”, afirma.

“A consciência das ações agressivas à convivência, e dos efeitos dessas ações por parte da grande maioria é que é novidade”, continua Clóvis. “É talvez o primeiro passo para uma reflexão que crie condições mais eficazes de respeito aos princípios e valores que toda convivência harmoniosa requer”.

O desafio, portanto, é transformar essa consciência em ações diárias, que tornem nossa sociedade mais íntegra em todos os níveis. Utopia? “Não”, responde a filósofa Marcylene Capper, do departamento de Filosofia da PUC-Rio. Segundo ela, a ética é uma forma de relacionamento e é nas interações sociais que ela acontece. “Quando cresço junto, construo junto e me sinto feliz. Aí se dá o desenvolvimento de todos e com todos”, diz.

Mundo melhor

Para Marcylene, a Integridade é fundamental para que esse desenvolvimento ético aconteça. “Quando penso em Integridade, vejo uma pessoa por inteiro, em sua totalidade, apta a se entregar ao outro, sempre disponível”, explica. “A importância disso para a sociedade é enorme, pois o valor da Integridade passa a ser a base de todas as medidas para a construção de um mundo melhor.”

E isso precisa ser um valor incorporado desde o princípio da vida social, ainda no seio da família. “No aprendizado, quando acompanhamos o crescimento de uma criança, esse deveria ser o rumo”, diz a filósofa. “Indicar caminhos, mostrar virtudes. Formar indivíduos autênticos, isto é, estimular condutas adequadas ao convívio.” Marcylene acredita que, no cenário atual, cada vez mais transparente, a mudança no padrão de comportamento da sociedade é urgente. E deve se refletir em um comportamento íntegro no dia a dia.

Eliane Dutra, diretora da Pro Fit Coaching e Treinamento, observa que a Integridade implica a sintonia entre pensar, falar e agir. “Essa sintonia se perde quando começamos a criar justificativas para não ter essa coerência”, alerta. “Isso acontece quando dizemos para um filho não fumar, e nós mesmos continuamos fumando, e dando justificativas para não largar o cigarro, porque é difícil, ou já estamos viciados, por exemplo”, diz.

Nas organizações, observa Eliane, a perda da Integridade também acontece quando a pessoa se coloca à parte dos problemas no ambiente de trabalho. “Se você vê algo errado e não toma uma atitude, você é parte do problema. A omissão é um tipo de ação negativa”, explica.

Perda de energia

Eliane acrescenta que a consequência pessoal da perda de Integridade é a perda de energia para reagir e fazer a coisa certa. “A honestidade é como um ouriço dentro da nossa cabeça”, compara. “Toda vez que você pensa em fazer alguma coisa errada, ele espeta o seu cérebro. Mas se você começa a quebrar as regras constantemente, o ouriço gasta os espinhos e você não sente mais nada. Quando esse filtro se perde, o erro se naturaliza e se torna parte do seu caráter.”

Por isso, a ética e o comportamento íntegro precisam ser valorizados diariamente. Em casa, na rua ou no trabalho. “É, de fato, um momento de valorização das pequenas atitudes. É urgente criar um novo ethos (uma nova ética)”, diz Marcylene, lembrando do chamado do Papa Francisco, em sua última encíclica Laudato Si (Louvado Sejas, no original, em latim). Nela, o líder da Igreja Católica fala dos cuidados que devemos ter com o planeta Terra. “Somos responsáveis por essa ‘casa comum’. Estamos no mesmo barco, e é preciso ter consciência disso. Não há tempo a perder.” 

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O filósofo Clóvis de Barros Filho fala sobre Integridade

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