Edição 193 Maio/2017

bem-estar

Vida equilibrada e hábitos saudáveis no combate ao estresse

Saiba quais os fatores que contribuem para uma vida mais estressante

Fernando Lidington deixou de lado a vida corrida em uma grande cidade em busca de mais qualidade de vida. Graduado em Ciências Contábeis, com especialização em Finanças e Gestão Corporativa, trabalhou como analista no Rio de Janeiro durante oito anos. No início de 2016, ele decidiu retornar ao Banco do Brasil no cargo de escriturário.

“Cheguei à conclusão de que precisava de mais qualidade de vida e, para isso acontecer, teria que mudar para um lugar mais tranquilo. Após muita reflexão, decidi sair do Rio de Janeiro e escolhi a agência de Treze Tílias, em Santa Catarina, por reunir as condições ideais de trabalho e de localização”, explica.

Aos 55 anos, Fernando vive em uma união estável e não tem filhos. Ele conta que, quando morava no Rio, enfrentava diariamente longos congestionamentos. “Minha vida durante a semana seguia basicamente a rotina de casa para o trabalho e vice-versa. Três vezes por semana nadava à noite para relaxar”, diz.

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Excesso de informações, exposição constante a smartphones e computadores, sedentarismo, poluição, congestionamentos e preocupação são exemplos de fatores do mundo moderno que contribuem para uma vida mais estressante. Na opinião da psicóloga Ana Merzel, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, momentos difíceis fazem parte da vida, mas é preciso diferenciar as situações desagradáveis do dia a dia de um quadro efetivo de estresse.

“Todas as pessoas passam por situações complicadas ou dias mais atribulados, independentemente da profissão. O que a gente observa no diagnóstico do estresse é o sofrimento da pessoa em relação a essas situações. Existe aquele estresse positivo que nos desafia e faz a gente alcançar as nossas metas e resultados. No entanto, o sinal de alerta é quando isso começa a gerar sensações que deixam a pessoa extremamente ansiosa ou deprimida, sem apetite ou com excesso de fome. É o momento de observar o que está acontecendo”, explica.

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E o brasileiro está cada vez mais estressado, segundo pesquisa realizada pela Associação Internacional do Controle do Estresse (Internacional Stress Management Association – Isma). O estudo, feito nos últimos anos em nove países do mundo, deixou o Brasil na segunda colocação, atrás apenas do Japão. As principais causas para o problema envolvem crises na vida profissional, em relacionamentos, dificuldades financeiras e violência.

As doenças do estresse

De acordo com a Associação Internacional do Controle do Estresse, fatores críticos como colesterol elevado, consumo de bebida alcoólica, tabaco, hipertensão e vida sedentária aumentam em até 12 vezes as chances de ataques cardíacos. Ana Merzel explica que nosso corpo possui mecanismos para responder a cada tipo de estímulo. O estado de estresse altera as funções hormonais do corpo, podendo deixar a pessoa mais vulnerável a infecções, alergias, inflamações, mudanças de humor, dores e dermatites.

“Uma pessoa com um desgaste emocional intenso pode ter problemas sérios de saúde, resultando no desenvolvimento de doenças como câncer, hipertensão, depressão, insônia e diabetes. Estresse é considerado uma doença de origem psicológica e já existem muitos estudos que comprovam sua relação com problemas cardíacos”, diz.

O tratamento adequado para o estresse ou o uso de medicamentos varia de acordo com cada paciente. “Muitos médicos já entendem a relação das doenças físicas com o estresse. Por isso, é importante tratar não apenas os sintomas do corpo. É preciso ir além e verificar o que está dando origem ao estresse”, esclarece.

A psicóloga orienta que uma boa estratégia é analisar os momentos mais estressantes do dia e pensar em alternativas para driblar cada situação. “Por exemplo, se eu percebo que o trânsito é algo que me deixa mais nervoso, eu preciso ver formas de minimizar isso. Talvez eu possa fazer academia depois do trabalho para fugir dos congestionamentos nos horários de rush”, diz.

Síndrome de Burnout

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 90% da população do planeta sofra com o estresse. No Brasil, esse número chega a 70% das pessoas. A Síndrome de Burnout é classificada na área da saúde como o grau mais elevado do estresse, tendo como característica o esgotamento físico e mental gerado por pressões na vida profissional.

Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, as pessoas estão se cobrando mais. Por este motivo, a Síndrome de Burnout atinge pessoas de diferentes idades. Os sintomas variam e podem incluir casos de agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, falha da memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa autoestima e ausência no trabalho. Sintomas físicos como dores musculares, problemas respiratórios, enxaqueca e palpitação também podem se manifestar.

“O estresse é um conjunto de reações orgânicas provocadas por agressões físicas, químicas, biológicas ou psíquicas, que perturbam o funcionamento do organismo. As consequências mais graves ocorrem quando o indivíduo desenvolve uma doença psiquiátrica ou adquire uma doença orgânica autoimune, hormonal, gastrointestinal ou cardíaca”, explica Marcelo Antero, médico e mestre em Ciências Cardiovasculares pelo Instituto Nacional de Cardiologia.

A busca por mais qualidade de vida é a melhor maneira para prevenir as complicações relacionadas ao estresse. “É preciso evitar preocupações desnecessárias e ter hábitos saudáveis, como noites tranquilas de sono, prática regular de exercício físico e alimentação adequada, priorizando os vegetais e evitando sal, açúcar e gordura”, afirma.

O tratamento para os sintomas físicos devem ser avaliados por um profissional, que pode indicar o uso de medicamentos, antidepressivos, terapias ou mudança no estilo de vida. “Acredito bastante nas técnicas de relaxamento, respiração e meditação como coadjuvantes para aliviar os sintomas. Muitos estudos científicos têm apontado nessa direção com resultados bastante promissores”, acrescenta.

Atualmente, Fernando Lidington tem uma rotina mais leve e não se arrepende da mudança. “Sem dúvida alguma, hoje tenho muito mais qualidade de vida. Resido com minha companheira em um lugar cercado de verde, seguro e com muito ar puro. Acordo diariamente com o som do canto dos pássaros na minha janela. Tenho certeza de que tomei a decisão correta. Muitas vezes, na caminhada da vida, temos que encerrar um ciclo para começarmos um novo. O aprendizado e a evolução precisam ser constantes na busca da felicidade”, finaliza.

Em busca do bem-estar

Um estudo realizado pela Universidade do Texas Tech, nos Estados Unidos, comprovou os efeitos positivos das técnicas de relaxamento sobre as dores causadas pelo estresse. O objetivo dos pesquisadores, segundo o Isma-BR, foi reduzir o uso excessivo de medicamentos e difundir a adoção de um tratamento multidimensional.

Telmo Vilela, graduado em Educação Física e especializado em Medicina Chinesa, realiza atendimentos de shiatsu há mais de 25 anos. Para ele, esse tipo de procedimento ativa pontos de energia no corpo do paciente: “Muito mais que uma sessão de massagem, é preciso analisar a rotina do paciente e traçar um perfil para conhecer seus problemas”.

O especialista recomenda a prática de exercício para ter uma vida mais leve. Técnicas orientais, como yoga, acupuntura e meditação transcendental, também ajudam a diminuir a ansiedade e a preocupação. “Com uma caminhada rápida ou outra atividade, o corpo libera serotonina e endorfina, baixando os níveis de estresse e aumentando a sensação de tranquilidade. São os chamados informalmente de ‘hormônios da felicidade’. Por sentirem os efeitos positivos no corpo, as pessoas acabam gostando dos exercícios”, acrescenta.

O professor Fernando Gregório, doutor em Ciências da Educação e Terapeuta Holístico, ministra o curso Técnicas de Autoajuda para Desativação do Estresse, na Universidade Federal Fluminense. Ele acredita que as pessoas devem conhecer seus limites para identificar as causas de tensão.

“Todo estresse parte de uma relação de dentro para fora. É fundamental ter um autoconhecimento do corpo para que saibamos reconhecer o que nos incomoda ou o que nos faz bem. Vai além de tomar um remédio para se anestesiar”, afirma em entrevista concedida a um canal da UFF no YouTube.

Reconheça os sinais do estresse

O nosso corpo costuma dar sinais quando algo não vai bem. No caso do estresse, é preciso ter atenção aos seguintes sintomas:

• Sensação de desgaste constante

• Dor de cabeça

• Alteração de sono (insônia ou sono em excesso)

• Constipação

• Tensão muscular e formigamento

• Alteração no humor e no apetite

• Falta de interesse pelas coisas

• Problemas de concentração e memória

• Problemas de pele

• Hipertensão

• Dores no estômago

• Ansiedade

• Depressão

• Queda de cabelo

• Náuseas ou diarreias frequentes

Causas mais comuns para o estresse

• Morte na família

• Divórcio

• Prisão

• Dificuldades no casamento

• Inatividade

• Dívidas

• Gravidez ou nascimento do primeiro filho

• Dificuldades no trabalho

• Mudanças em geral

Dicas para ter uma vida menos estressante

• Dormir bem

• Ter uma alimentação saudável

• Cuidar da saúde

• Fazer atividades físicas

• Evitar bebidas alcoólicas, excesso de cafeína e cigarro

• Ter um hobby e momentos de lazer

• Respeitar os próprios limites

Como combater o estresse no dia a dia

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