Edição 184 Setembro/2015

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O mercado em debate

Executivos, conselheiros e especialistas discutem o futuro do mercado brasileiro no Encontro PREVI de Governança Corporativa 2015

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Um grande fórum para debater as questões mais importantes do mercado e da economia brasileira. Em sua 16ª edição, o Encontro PREVI de Governança Corporativa serviu para traçar uma radiografia do mercado de capitais no país, apontando seus desafios e alternativas de crescimento.

O primeiro dia do Encontro, realizado no Rio de Janeiro, em agosto, foi exclusivo para conselheiros de empresas indicados pela PREVI. “Os conselheiros são os olhos da PREVI dentro de cada uma dessas organizações. É muito importante que esses profissionais participem da formulação do pensamento estratégico das empresas”, destacou Renato Proença Lopes, diretor de Participações da Entidade.

Renato apontou alguns riscos que demandam a atenção apurada dos conselheiros para resguardar o crescimento e a longevidade das empresas em que atuam. “A resistência às mudanças estratégicas e a lentidão para implementar essas mudanças podem matar companhias”, alertou. “Temos vários exemplos de líderes de mercado que não viram a necessidade de mudar sua estratégia até ser tarde demais.”

Dinamismo

No painel ‘Deveres e Responsabilidades dos Administradores’, José Écio Pereira da Costa Júnior, membro do Comitê de Auditoria Estatutário da Fibria, apontou a necessidade de os conselheiros ficarem atentos à visão de médio e longo prazo para enfrentarem o dinamismo do mercado. E alertou para o papel fiscalizador desses profissionais. “Isso é muito importante para que as empresas não percam valor por problemas relacionados à corrupção”, disse.

Richard Blanchet, coordenador da Comissão Jurídica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, chamou a atenção para a responsabilidade pessoal dos conselheiros diante desse dever. Segundo Blanchet, é preciso ter uma atitude proativa. “Temos visto muitos casos de conselheiros responsabilizados pessoalmente por atos da administração. O conselheiro estará protegido quanto mais for preparado e diligente, sempre fiscalizando a atuação da diretoria.”

Em tempo de incerteza, um dos papéis mais importantes dos conselheiros de empresas é saber ler os sinais de que uma crise em seu setor se aproxima. “Crises vivem etapas. Primeiro há a negação, diz-se que o problema está no ambiente externo e nunca no interno. Depois disso, procura-se esconder o fato, na esperança de que tudo vai desaparecer. O terceiro momento já é a desintegração da empresa, seguindo para o colapso total, quando não existe mais nenhuma capacidade de se tomar decisões, fazendo apenas a gestão de caixa”, observou Richard Doern, da Tiradentes Educacional, na conclusão do painel ‘Gestão de Crises – Sinais a que os Conselheiros Devem Estar Atentos’.

Reduzir impactos

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Os conselheiros indicados pela PREVI também debateram o tema em mesas-redondas e apresentaram suas conclusões. Luiz Cláudio Moraes, coordenador de um dos grupos de trabalho, ressaltou que, diante da crise, a readequação muitas vezes é necessária. “É essencial trabalhar para reduzir impactos e mapear riscos para desenvolver medidas saneadoras eficientes”, afirmou. Já Luiz Alberto Falleiros ponderou que é preciso avaliar com mais critério o que é político e o que é econômico em uma situação de crise.

O segundo dia do Encontro foi aberto a conselheiros indicados por outros investidores, analistas de mercado e executivos de empresas, que se juntaram ao debate com os conselheiros indicados pela PREVI. O painel ‘Perspectivas dos Investidores – Desafios e Oportunidades do Mercado Brasileiro’ reuniu Matheus Villares, da Temasek; Luiz Simões Lopes, CEO da Brookfield Brasil; Ricardo Câmara Leal, professor titular de Finanças e ex-diretor do Coppead/UFRJ, na moderação; e Fernando Borges, diretor do Carlyle Group no Brasil. Eles discutiram os desafios e oportunidades que novos projetos, como os de infraestrutura, oferecem a investidores.

“No Brasil os investimentos de infraestrutura não correm risco de demanda. Há uma enorme demanda de consumo reprimida”, observou Simões Lopes. Já o moderador Ricardo Câmara Leal comentou que, em momentos de crise, muitas vezes ocorrem melhorias importantes na estrutura de regulamentação, assim como no campo institucional.

Grande mercado global

Matheus Villares, da Temasek, acredita que o Brasil será um dos principais mercados globais de consumo. “Na verdade, é muito mais fácil convencer as pessoas a investir num momento positivo e errar junto com todo mundo do que convencê-las num momento ruim, em que você está certo sozinho. De todo modo, estamos otimistas com o Brasil no longo prazo, e isso dá uma vantagem incrível para enxergar oportunidades no momento de crise”, completou.

Em seguida, o painel ‘A Atuação de Acionistas Minoritários no Brasil: Sinais de Ativismo?’, reuniu Carlos André, diretor de Gestão de Ativos da BB DTVM; Mohamed Mourabet, diretor de Investimentos da Victoire Brasil; Pedro Rudge, sócio-fundador da Leblon Equities, na moderação; e Ricardo Garcia, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores – IBRI. Os executivos discutiram o forte movimento de acionistas minoritários na busca por representação nos órgãos de governança das empresas em que investem e o que os motiva.

“Hoje temos um maior acompanhamento dos investidores minoritários no cotidiano das empresas, que, por sua vez, alimentam esse movimento ao darem mais legitimidade e transparência às suas decisões estratégicas. Isso é recente no Brasil, onde a cada ano temos visto mais conselheiros participando do dia a dia das companhias”, destacou Rudge.

Longuíssimo prazo

Mohamed Mourabet falou sobre a diferença entre o ativista que visa resultados no curto prazo e a atuação dos investidores engajados em uma relação de parceria com as empresas. “Ser dono de uma empresa é ser criador de valor em longuíssimo prazo. Mesmo quando você tem um prazo um pouco mais longo, de cinco anos, o nível de engajamento e parceria com a empresa não é o mesmo de um investidor que não tem um horizonte definido.”

Outro tema de destaque nos debates foi o desenvolvimento do mercado de créditos privados, uma alternativa de investimento importante para o setor de previdência complementar, mas que tem demorado a decolar. Guilherme Cavalcanti, diretor de Finanças e Relações com Investidores da Fibria Celulose, observa que os juros altos limitam o crescimento desse mercado. “Quando a taxa básica de juros chega aos 14%, o título de crédito privado fica com um ganho muito pequeno em comparação à Selic. Com isso, o portador do título privado não tem como auferir ganhos de capital, nem consegue liquidez. Enquanto tivermos taxas de juros nas alturas, acredito ser difícil ter um mercado líquido.”

Alexandre Muller, gestor de Fundos de Créditos da JGP Gestão de Recursos, por sua vez, saudou a entrada das pessoas físicas no segmento de crédito corporativo, estimuladas por incentivos fiscais direcionados a essa modalidade de investimento. “Isso já começa a se refletir em dados do mercado secundário e irá ampliar a pauta, pois o número de negócios nesse segmento tem crescido substancialmente”, afirmou.

Carlos Eduardo Omine, gerente executivo na Diretoria de Mercado de Capitais do BB e responsável por Distribuição de Renda Fixa e Renda Variável, quer aproveitar esse impulso. “O Banco do Brasil quer ser protagonista nesse segmento”, disse. “Acabamos de lançar um home broker para facilitar o acesso de pessoas físicas ao mercado de forma estimulada”, finalizou.

Política de Estado

O mercado de títulos privados também é visto como um instrumento importante para diversificar a fonte de financiamento das empresas que não podem depender exclusivamente de recursos próprios ou de empréstimos para crescer. Para Selmo Aronovitch, superintendente financeiro do BNDES, essa diversificação é estratégica para o país e deveria ser uma política de Estado. “Não existe desenvolvimento sustentável que dependa de uma única fonte de recursos. Nenhum país do mundo conseguiu isso com poucas fontes de financiamento de longo prazo.”

No último painel do evento, ‘Desenvolvimento do Mercado de Renda Variável: Limitações e Alternativas’, Antonio Castro, presidente da Abrasca; Fernando Pires, sócio-diretor da Dynamo; Flavia Mouta Fernandes, diretora de Regulação de Emissores da BM&F BOVESPA; e, como moderador, Carlos Antonio Rocca, da Cemec Ibmec, falaram sobre a importância do aumento do número de empresas com papéis negociados na Bolsa de Valores e como atrair novos investidores.

Bolsa para gigantes

Rocca destacou que, infelizmente, o mercado de ações no Brasil é apenas para gigantes. “Grandes emissões, de grandes empresas, assessoradas por grandes bancos”, enumerou. Flavia Mouta Fernandes, por sua vez, falou da resistência das pequenas empresas em aderir à Bolsa. “A primeira dificuldade que constatamos foi a resistência em perder o poder e entrar no ciclo de valor. O segundo fator foi a questão do costume, o senso comum de não querer entrar na Bolsa por conta do alto custo, mas sequer calcular quanto isso custa efetivamente antes de decidir”, afirmou.

No encerramento do evento, o diretor de Participações da PREVI, Renato Proença, agradeceu aos presentes e resumiu o espírito do Encontro. “Foi uma grande oportunidade de trocar experiências e informações, analisarmos os desafios, e criarmos oportunidades”, concluiu.

Até 2016.

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