Edição 184 Setembro/2015

vida boa

Nas asas da vida

Conheça a história de Francisco Paulo da Silva, aposentado do Banco, beneficiário da PREVI, escritor e aviador

vida boa - francisco paulo.jpgMinha paixão pela aviação começou quando eu ainda era criança e olhava com fascínio para os aviões que cruzavam os céus de Campo Grande, cidade onde nasci, no Mato Grosso do Sul. Cresci e esse fascínio só aumentou. Por isso, um dia, dando vazão a essa vontade extrema de voar, decidi que ia aprender a pilotar para ter o meu próprio avião.

Em 1971, aos 26 anos, me tornei funcionário do Banco do Brasil pela primeira vez. Ser funcionário do Banco era a certeza de fazer uma carreira segura e poder trabalhar em uma instituição importante. Assim, logo após tomar posse, aproveitei para colocar em prática o meu sonho de aprender a voar. E, depois de um ano de estudos e treinamentos, finalmente recebi o meu brevê, o ‘passaporte’ para tirar do papel o meu grande desejo: comprar o meu próprio avião e voar pelos céus do Brasil. O sonho se realizou em parte, porque nem tudo foi exatamente como eu planejei.

Minha história com o Banco do Brasil é bem atípica: fiz concurso e fui aprovado duas vezes. Minha primeira posse foi em 1º de abril de 1971, em Aquidauana, no Mato Grosso, e fiquei até 1977, quando pedi demissão para explorar outras opções de trabalho. Entre uma passagem e outra, fiquei 17 anos fora do BB. Senti necessidade de voltar a ter um emprego estável, por isso voltei para o BB em 1994, ainda em Campo Grande, mas tomei posse em Piracicaba, no interior de São Paulo. Essa segunda passagem durou até 2004 quando, aos 55 anos, me desliguei pela segunda vez, por meio de um plano de demissão voluntária oferecido pelo Banco. Em 2011, eu me aposentei definitivamente pelo INSS e pela PREVI. Foram anos felizes de trabalho, mas, para quem tem o espírito livre como o meu, saí na hora certa.

Com certeza, ter sido funcionário do Banco e hoje ser aposentado da PREVI me proporcionaram a vida tranquila de que desfruto hoje. Durante meu tempo de trabalho, pude, inclusive, aproveitar os benefícios oferecidos, como contratar a Capec, da qual a minha ex-mulher é a beneficiária, e fazer Empréstimos Simples.

Brevê para realizar um sonho

Minha paixão pela aviação era tanta que, mesmo sem saber se algum dia conseguiria voar profissionalmente, comecei, em 1972, a estudar para piloto no aeroclube de Aquidauana. Treinava bem cedinho para não atrapalhar meu expediente no Banco e, em janeiro de 1973, conquistei meu brevê de piloto. Eu costumo dizer que a ‘aviação é como uma cachaça, porque vicia’. Quanto mais você voa, mais quer voar. Não dá para descrever a satisfação de olhar lá de cima aqui para baixo.

Nessa época, eu já era casado havia oito anos, e minha esposa apoiava essa minha paixão por aviões. Tanto que eu não sonhava em ter um carro, como qualquer jovem, mas um avião para trabalhar com táxi aéreo no interior do Brasil. Cheguei a tentar conciliar voos esporádicos com meu trabalho no Banco, mas não foi possível.

Entre os meus dois períodos de trabalho no Banco eu aproveitei para também voar profissionalmente, sempre em aeronaves pequenas, monomotores. Cheguei a comprar um avião em 1982 pensando em ir para o garimpo no Norte do País, que estava no auge. Foi uma pena, mas o projeto não deu certo. A aeronave, um CESNA 170B PT-ATA, fabricada em 1956, era muito velha e estava cheia de problemas. Tentei regularizar a situação, mas, como não consegui, acabei desfazendo o negócio e devolvendo para o antigo dono.

Em 1985, me tornei piloto de um fazendeiro no Pantanal por oito meses. Esse era um projeto de vida no qual fui muito feliz durante o tempo que durou. E mesmo sem ter avião próprio e seguir carreira na aviação comercial, eu continuei voando. Comprava horas nos aeroclubes, como o de Campinas, para me manter ativo. No entanto, como a idade não me permitiu renovar o meu brevê, há 11 anos eu voo de uma forma mais ‘segura’: em um simulador que comprei e mantenho no computador de casa, onde voo umas três vezes por semana.

Paixão familiar

A minha família sempre entendeu minha paixão por aviões. Fui casado por 30 anos e me separei há 20, mas continuo mantendo uma boa relação com minha ex-mulher. Tanto que a gente nem se divorciou oficialmente. Não há como desfazer o grande laço familiar que nós temos. Afinal, são três filhos, seis netos e dois bisnetos.

O meu voo solo inicial, por exemplo, foi assistido por minha esposa e pelos meus filhos. Um dos meus netos, o João Vitor, se tornou paraquedista. Em 2009, ele me deu de presente um voo de planador, no aeroclube de Marília. Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Não dá para descrever a emoção e a satisfação de voar numa aeronave sem motor.

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E na aposentadoria surge um escritor

Depois de me aposentar fiquei morando por algum tempo em Campinas e, há cinco anos, decidi me mudar para Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, uma cidade barata, turística e com clima ameno, onde moro sozinho e levo uma vida bastante tranquila, exatamente como eu sempre desejei. O tempo que tenho livre aproveito para fazer muitas coisas que nunca imaginei fazer, como escrever livro e estudar teatro, além de aproveitar para passear, dançar forró, viajar para visitar os filhos, netos e bisnetos e, claro, ser feliz.

Meu livro de estreia, Cheiro de Avião, lançado em 2010, surgiu da minha vontade de contar a história de uma aeronave, desde a sua decolagem até pouco antes do seu pouso, que acaba se transformando em um desastre aéreo. Minha ideia ao escrevê-lo era propor uma reflexão sobre a fragilidade do universo masculino e as sutilezas do mundo feminino. Embora tenha termos técnicos, a história é acessível, divertida e dirigida ao público que gosta de aviões e que deseja conhecer um pouco do ambiente pitoresco dos aeroclubes.

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Atualmente estou escrevendo uma peça de teatro chamada A revolta dos gafanhotos, mas ainda está em finalização. Quem sabe um dia consigo montá-la? Ter alguém encenando minha história seria maravilhoso.

E, como meu novo hobby é a escrita, já estou com outra história para um livro na cabeça. Assim, entre um voo simulado, uma ida ao forró e uma viagem para visitar a família e os amigos, vou colocando no papel aquilo que penso da vida e dando asas à minha imaginação.

Francisco Paulo da Silva, aposentado da PREVI, escritor e apaixonado aviador

Contato: chicoasa@yahoo.com.br

Francisco Paulo da Silva, um apaixonado por aviação

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