Edição 166 Agosto/2012

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O que muda nos investimentos

O cenário de queda de juros também deve provocar mudanças na estratégia de investimentos da PREVI

Inevitavelmente, o cenário de queda de juros também deve provocar mudanças na estratégia de investimentos da PREVI. “Voltamos à pergunta: que benefício queremos pagar?”, diz o diretor de Planejamento, Vitor Paulo Camargo Gonçalves. “Se queremos benefícios maiores, precisamos de mais rentabilidade e temos de diversificar a carteira.”

Vitor Paulo fala em diversificação ainda maior dos investimentos, uma vez que a PREVI já tem uma carteira variada, estratégia bem sucedida no tempo, como mostram as boas rentabilidades alcançadas. A posição consolidada em renda variável proporcionou seguidos resultados superavitários para o Plano 1 e houve mais diversificação da carteira de imóveis, de títulos privados e de investimentos estruturados.

A diversificação, explica Vitor Paulo, busca não apenas aumentar os rendimentos, mas também evitar riscos excessivos, de modo que a eventual queda de valor de mercado de uma empresa ou setor seja compensada por bons resultados em outra companhia, setor ou mesmo em outra classe de ativos. Um exemplo: o risco de ações ou títulos de empresas exportadoras é contrabalançado com investimentos em empresas com forte presença no mercado doméstico. “Isso cria uma espécie de proteção natural para os investimentos”, diz.

Na renda variável, onde a PREVI já possui uma grande parcela de recursos, a estratégia deve ser focada cada vez mais em empresas e setores que distribuam bons dividendos. Isso tendo em vista a necessidade de fluxo de caixa para o pagamento de benefícios do Plano 1 na próxima década, quando o número de aposentados será bem maior. Há ainda a tendência de pulverizar a carteira para reduzir riscos, o que deve levar a uma retirada lenta dos blocos de controle das empresas. Blocos de controle são grupos de acionistas com direitos que asseguram a maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores. “Esse processo será realizado sem pressa e busca dar mais liquidez a nossos ativos, pois as participações de controle são valiosas, porém mais difíceis de negociar”, diz Renê Sanda, diretor de Investimentos da PREVI.

Na renda fixa, a tendência será de alongar o vencimento das carteiras, mantendo o casamento do prazo com o desembolso dos benefícios a pagar. “Desse modo, atendemos às necessidades de fluxo de caixa”, observa Vitor Paulo. Além disso, haverá uma preferência crescente por títulos atrelados à inflação que, vale lembrar, determina a meta atuarial dos planos da PREVI.

Essa lógica vale não apenas para os papéis públicos, mas também para os títulos privados, que devem aumentar sua participação nos investimentos. “Desde 2010, estamos nos preparando para isso, capacitando nossos gestores para escolher os papéis com o menor risco de inadimplência”, diz Renê. Também destaca a importância crescente do Private Equity para a PREVI nos próximos anos. Esses fundos são uma forma de investir em empresas emergentes com grande potencial de crescimento e valorização. “É um caminho importante para o crescimento da Bolsa e esses fundos são uma forma de investir em novas empresas”, afirma.

O segmento imobiliário, por sua vez, também seguirá a estratégia de diversificação. Eventualmente, isso pode significar o investimento por meio de fundos imobiliários em vez da aplicação direta dos recursos em empreendimentos, especialmente em shoppings localizados longe dos grandes centros urbanos. “É uma forma de capturar o crescimento diferenciado do PIB em diferentes regiões do país”, explica Vitor Paulo.

“A redução dos juros exige uma gestão ativa”, continua. E isso engloba todas as áreas de investimento. Um exemplo foi a aquisição do edifício comercial Eco Berrini, em São Paulo. “Em apenas três meses, ele estava todo alugado, gerando rentabilidade para o nosso patrimônio.”

No médio e longo prazo, o novo cenário econômico também pode levar os investimentos da PREVI além das fronteiras do país. “Com a criação da Funpresp (o fundo de pensão do funcionalismo público), que será um grande investidor institucional, o mercado doméstico pode ficar pequeno para as nossas necessidades”, afirma Renê. “É um movimento que já aconteceu em países como o Chile e a Holanda, e que para nós teria mais o sentido de diversificação e redução de riscos do que de busca de rentabilidade”, complementa.

Uma orquestra econômica

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Para entender o impacto da queda da Selic na economia, é preciso lembrar que a taxa é o principal instrumento de política monetária do Banco Central e sua maior arma no controle da inflação. Quando a inflação está em alta, o BC sobe os juros para fazer os preços caírem por meio de uma contração do crédito. Já quando precisa aquecer a economia, o BC reduz os juros para estimular a demanda. “Nem sempre o mercado de crédito reage com a intensidade esperada, mas ele é o primeiro e mais importante canal de transmissão dos efeitos da Selic na economia”, explica Margarida Gutierrez, economista do Coppead UFRJ.

O segundo efeito se dá por meio do câmbio. “Quando o BC sobe os juros, ele espera um efeito cambial. A taxa mais alta torna o país mais atrativo para a captação de investimentos internacionais. Com a entrada de dólares, o real se valoriza e a inflação é empurrada para baixo”, diz Margarida. Por outro lado, a queda dos juros pode provocar evasão de dólares e alta de inflação. “Mas esse ainda não é o caso do Brasil, onde os juros ainda são relativamente altos, especialmente se comparados aos dos países da Europa.”

O terceiro canal de transmissão dos juros sobre a economia está nas expectativas dos agentes econômicos, explica Margarida. “O BC conduz a política monetária e tem metas de inflação a cumprir. Se faz um corte de juros em um momento de alta de preços, o Banco Central dá um sinal de que aceita conviver com inflação um pouco mais elevada, e isso deteriora as expectativas, o que acaba realimentando a alta de preços”, diz.

Os últimos cortes na Selic, no entanto, não deterioraram a expectativa inflacionária no Brasil, ressalta a economista. “Com a demanda doméstica em baixa e um cenário de desaceleração na economia mundial, a expectativa é de inflação decrescente.”

Além disso, os acordos costurados na União Europeia, com o socorro à Espanha e os debates sobre a união fiscal e bancária, tornaram menos provável uma catástrofe na Zona do Euro, o que é uma boa notícia para o Brasil. “Um cenário de ruptura na Europa é muito pouco provável”, diz Margarida. “No entanto, teremos um longo período de baixo crescimento nos países europeus, o que afeta um pouco as exportações, mas não chega a ter efeitos dramáticos para a nossa economia”, complementa.

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