Edição 165 Junho/2012

Aposentadoria

Os últimos moicanos

Quem são os últimos participantes a reunir condições de se aposentar pelo Plano 1, encerrando um ciclo que começou há 108 anos

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Alberto Alves Júnior trabalha na Diretoria de Relações com os Funcionários do Banco do Brasil, em Brasília. Hoje com 40 anos, ele entrou para o Banco em 1994, quando se tornou também participante da PREVI. Quatro anos depois, a Entidade viria a criar o Plano PREVI Futuro, para abrigar apenas os funcionários que entraram no Banco de 1998 em diante. Alves Júnior nem pensa em se aposentar e se surpreende em saber que é um dos “últimos moicanos” do Plano 1. Ou seja, um dos últimos participantes da ativa que terão condições de pedir aposentadoria integral por tempo de contribuição pelo plano antigo. “Não imaginava isso”, diz, surpreso.

Ele é daqueles participantes que vestem a camisa do fundo de pensão. “Não penso meu futuro sem a participação da PREVI”, diz Alves Júnior, que também é participante da Capec. O funcionário considera que a Entidade possui um papel importante na educação previdenciária dos participantes. “Tenho uma filha e fiz um plano de previdência do BB para ela desde o primeiro dia, para que ela continue a pagar no futuro ou use o dinheiro para começar sua carreira profissional.”

Faltam 10 anos para que Alves Júnior possa pedir o complemento antecipado de aposentadoria da PREVI, pois completará 50 anos de idade. Mas, como atuou um tempo sem carteira assinada antes de entrar para o BB, precisa trabalhar por mais de 17 anos para requerer a aposentadoria pelo INSS.  “Penso em pedir o complemento da PREVI e continuar no mercado de trabalho mais um tempo, com uma segunda renda, aproveitando minha experiência”, diz. “Pelo menos até minha mulher poder se aposentar também, para então finalmente parar, viajar e curtir a vida.”

Ruimar Gonsalves, funcionário da área de tecnologia do Banco, em Brasília, é outro participante do grupo dos “últimos moicanos”. Aos 40 anos, conta que ainda não tem planos fechados para o futuro. “Faço o que gosto”, diz, afirmando que continua lutando para ascender na carreira dentro do Banco.

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Gonsalves também entrou para o BB em 1994 e já sente a mudança de geração no dia a dia do trabalho. “Meus colegas estão todos se aposentando, e eu conheço cada vez menos gente. Nós, do Plano 1, já somos minoria entre o pessoal da ativa”, observa. De fato, hoje já são quase três participantes da ativa no PREVI Futuro para cada um dos 31 mil participantes ativos do Plano 1. Com o tempo, não haverá mais funcionários ativos no Plano, apenas aposentados e pensionistas, até que ele seja finalmente extinto, encerrando um ciclo iniciado com a fundação da Caixa de Montepio dos Funccionarios do Banco da Republica do Brazil, há 108 anos.

O fluxo de pagamento de benefícios cresce ano a ano: R$ 6 bilhões em 2010, R$ 9,6 bilhões em 2011, contando com o Benefício Especial Temporário (BET). E continuará crescendo até meados da próxima década, quando todos os participantes do Plano 1 já estiverem aposentados. A partir daí, os pagamentos anuais começam a declinar gradativamente até cerca de 2080, quando está previsto o pagamento do último benefício para o  beneficiário remanescente.

Como o Plano 1 vem apresentando seguidos superávits, já tem gente preocupada se sobrará dinheiro quando o plano se extinguir. É o que pergunta Alves Júnior: “quem fica com o dinheiro que sobrar?”. O fim do Plano 1 não significa que o último participante receberá uma fortuna. Na verdade, não haverá sobras.

O patrimônio será usado no pagamento de benefícios, e os eventuais superávits obtidos serão distribuídos entre os participantes a cada três anos, conforme estabelece a lei. Superávits acontecem quando o plano de previdência tem recursos mais do que suficientes para honrar todos os seus compromissos com o pagamento de benefícios futuros. Nos fundos de pensão, a medida dos compromissos é a chamada reserva matemática.

A lei determina que, se houver superávit, deve-se compor uma reserva de contingência correspondente a 25% da reserva matemática. Se as sobras forem maiores que este percentual, a diferença será contabilizada como reserva especial para revisão do plano e deverá obrigatoriamente ser distribuída ao final de três anos consecutivos de reserva especial. Feita a distribuição, começa novamente a contagem de três anos.

Esse mecanismo estabelecido pela legislação impede a sobra de recursos no final do plano. A partir do final da década de 2020 a reserva matemática do Plano 1 será reduzida gradualmente, à medida que o número de aposentados diminuir. A reserva de contingência diminuirá na mesma proporção, as reservas especiais serão distribuídas periodicamente e, lá pelos idos de 2080, restarão poucos milhares de reais para pagar o último benefício do derradeiro participante.

Patrimônio intangível

 

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Quanto valem 108 anos de conhecimento acumulado no setor de previdência? A pergunta ainda não tem uma resposta em números, mas, para a consultora de Comunicação Eliane Miraglia, essa experiência tem um valor inestimável. “A reputação consolidada e inquestionável, o método de trabalho, a gestão institucional, o atendimento a uma rede gigantesca de participantes pulverizada por todo o país, o comprometimento da equipe de trabalho. Tudo isso são ativos intangíveis que a PREVI possui e que não aparecem no balanço”, diz.

Segundo Eliane, os ativos tangíveis (estrutura, capacidade, porte da instituição) da PREVI são completados pelos intangíveis. “O que movimenta toda a estrutura é a inteligência das pessoas, uma lógica que faz funcionar essa máquina como um relógio. Sem tal competência, a tendência de uma estrutura desse tamanho seria a dispersão”, diz.

Um dos segredos do sucesso destes 108 anos, afirma Eliane, está no comprometimento das pessoas com os valores e a cultura da instituição. “São elas que transformam em realidade os valores da PREVI todos os dias”, diz a consultora. “Os valores de uma organização têm de ser algo mais do que uma declaração pregada na parede”, conclui.

Foi pensando nisto que a diretoria da PREVI resolveu, há alguns anos, administrar a entidade com funcionários cedidos pelo Banco do Brasil e participantes do plano de previdência. Mesmo os poucos que não são funcionários do BB também são participantes de um dos planos. Um dos motores da PREVI é a motivação daqueles que sabem que estão administrando o próprio patrimônio e devem ter todo o zelo com isto.

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