Edição 165 Junho/2012

vida boa

Volta ao mundo pelos trilhos

Conheça a história de José Francisco Pavelec, ferreomodelista e aposentado do BB

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Minha paixão pelo fascinante mundo dos trens começou há quase meio século, quando ainda era um menino. Nasci à beira de um rio, no interior do Paraná, em uma família praticamente toda formada por ferroviários. E, desde criança, me acostumei a ter como paisagem da janela de casa a linha férrea e o trem propriamente dito. Ainda nos anos 1960, comecei a me interessar por tudo ligado ao tema.

Quando criança, sempre que alguém me perguntava o que eu queria de presente, tinha a mesma resposta: um trem de brinquedo. Um dos primeiros que ganhei foi dado por minha avó. Era um modelo movido a corda. Brinquei tanto que ela arrebentou no mesmo dia. O primeiro conjunto completo recebi de minha mãe, quando eu tinha 11 anos. Eram trens de lata, que estão guardados até hoje em sua caixa original.

Comecei a trabalhar muito cedo, por volta dos 12 anos, como balconista, e, desde então, sempre que possível, adquiria mais um trem, mas ainda não pensava em ser colecionador. Prestei concurso para o Banco do Brasil bem jovem. Comecei em Pato Branco e encerrei minha carreira em Ponta Grossa, no Paraná.

Desde aí, graças à aposentadoria que recebo da PREVI, posso aproveitar os benefícios de tantos anos de dedicação, viajando e adquirindo itens para a minha imensa coleção, que começou efetivamente em 1982, em Ponta Grossa. Naquele ano, ouvi um anúncio no rádio, sobre a venda de um trem elétrico. Decidi comprá-lo, e assim nascia meu hobby, que inclui diferentes objetos em forma de trem. Ao longo dos últimos 30 anos, me associei a vários clubes e entidades ferroviárias, e dei seguimento à minha paixão, me tornando, verdadeiramente, um ferreomodelista. Vários amigos chegaram a sugerir que eu me inscrevesse no Guiness Book, mas ainda não pensei nisso.

Hoje, aos 61 anos, tenho uma seleção de aproximadamente 20 mil peças, que vai de miniaturas e brinquedos a objetos de diferentes usos, como telefone e gravata, todos em formato de trem. Viúvo há alguns anos, hoje passo meus dias viajando e aproveitando os benefícios da aposentadoria da PREVI. Para unir o útil ao agradável, sempre que visito algum lugar, busco saber se é possível fazer alguns trajetos em vias férreas e, claro, além de fazer o passeio, trago uma miniatura para casa.

Já estive em 33 países, e a experiência de fazer viagens curtas ou longas a bordo de trens é indescritível. Em agosto de 2011, por exemplo, embarquei no Transiberiano – que faz um percurso de 9 mil quilômetros, em 14 dias, entre Moscou, na Rússia, e Pequim, na China. Foi a realização de um sonho. Agora, em abril, fui para os Estados Unidos e no Canadá, onde também fiz uma viagem de trem.

Um dos meus xodós é a maquete de 15 metros quadrados que construí com a ajuda de minha falecida esposa. Levei seis meses para concluí-la, mas o trabalho valeu a pena. Ela tem estações de trem, pracinha, uma igreja católica e outra evangélica e até um lago cercado de árvores. Nela, projetei uma cidade, em que as locomotivas ganham vida. É um orgulho ouvir as pessoas que me visitam elogiarem esse trabalho.

Locomotiva ‘Big Boy’, a preferida

Numa coleção tão grande como a minha, às vezes é difícil eleger o item preferido, mas eu consegui: uma réplica da Big Boy, a maior locomotiva a vapor do mundo.  Ela, como a maioria das minhas peças, está em escala HO, que copia o original em tamanho reduzido em 87 vezes.

Gosto muito de trens, mas não sou maluco. Cada aquisição tem um motivo, é especial. É importante mostrar às crianças e aos jovens como eram os trens antigamente. Tenho um filho para quem tentei passar essa minha paixão, dando-lhe de presente, quando ele ainda era pequeno, o meu ferrorama de criança, mas não surtiu muito efeito. Hoje, aos 30 anos, ele é piloto da Força Aérea. Acho que a paixão dele é por aviões.

Quero perpetuar todo esse conhecimento, que vai além das imagens das miniaturas. Cada objeto tem uma história, que ajuda a entender os acontecimentos do mundo. Para ter certeza de que, quando eu não estiver mais aqui, esse acervo poderá ser conhecido, visitado em um museu, doei-o, em cartório, para a Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Ao longo dos anos, aprendi a valorizar a vida. Com a aposentadoria, decidi aproveitar cada momento livre fazendo aquilo que me agrada: cultivando as boas amizades, cuidando da casa e da saúde, me distraindo com as ferrovias, lendo, viajando. Nunca pensei em voltar a trabalhar. Não tenho tempo para isso. Preciso me divertir!

José Francisco Pavelec,

Ferreomodelista e aposentado do BB

Contato: pavelectrem@hotmail.com

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