Edição 159 Junho/2011

administração

Bom conselho nunca é demais

Representantes nas empresas defendem interesses dos participantes

“A aposentadoria dos participantes também depende do sucesso das empresas onde temos participação”, diz Marco Geovanne, diretor de Participações da PREVI. Os números confirmam. Em 2010, os dividendos distribuídos por essas companhias representaram cerca de 40% dos benefícios pagos. E, com a perspectiva de juros mais baixos no longo prazo na economia brasileira, aumenta a importância dos investimentos acionários. Afinal, sem eles, ficaria cada vez mais difícil cumprir as metas atuariais. Por isso, o papel dos representantes nos conselhos de administração e fiscais das empresas é vital: são 180 pessoas que ajudam a zelar pelo patrimônio de 190 mil participantes.

É uma responsabilidade e tanto. Não custa lembrar: o conselheiro de uma empresa de capital aberto responde pessoalmente por seus atos aos acionistas da companhia, aos reguladores do mercado financeiro e à Justiça. Por isso, enquanto os conselheiros acompanham de perto as empresas, sua atuação também é avaliada em detalhes para garantir que eles cumpram adequadamente suas funções. “Temos um sistema automatizado, que acompanha mensalmente a produção de relatórios, a qualidade dos informes e a análise dos números para medir a eficiência do conselheiro”, diz Geovanne.

Não é à toa, portanto, que é difícil entrar nesse time. A seleção é rigorosa e o número de interessados, enorme. “Recebemos 4 mil currículos na última seleção”, conta Geovanne. A meta é manter uma taxa de renovação de cerca de 10% dos conselheiros a cada ano. Normalmente, eles permanecem na função por cerca de quatro anos. “É preciso dar tempo para que o conselheiro conheça profundamente a empresa e o mercado em que ela atua”, explica.

Um grupo diversificado, que inclui mulheres e aposentados

A seleção dos conselheiros também está em linha com a política de igualdade de gêneros da PREVI. Com isso, aumentou a presença de mulheres no grupo. Hoje, já são 20 conselheiras nas empresas participadas – ou seja, nas companhias em que a PREVI tem participação. Além disso, cerca de 70% dos conselheiros são aposentados do Banco do Brasil.

Eventualmente, são selecionados profissionais do mercado para preencher algumas vagas específicas, mas, em geral, os conselheiros também são participantes. “Ninguém tem mais interesse de cuidar desse patrimônio do que um participante da própria PREVI”, diz Geovanne.

Homens ou mulheres, aposentados ou ativos, participantes ou não, esses conselheiros têm um papel chave na transparência e na boa gestão das companhias. Em primeiro lugar, um bom conselho jamais deve ser uma simples instância burocrática de aprovação da diretoria. “Eles são o coração do sistema de governança corporativa. Os conselhos são estratégicos para o funcionamento da empresa”, diz Eliane Lustosa, conselheira do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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Segundo Eliane, os bons conselheiros monitoram as decisões da diretoria, corrigem falhas de gestão, mas não devem se limitar a isso. “O ideal é que não se atenham unicamente a deliberar sobre o que é apresentado pela diretoria executiva”, diz. “Eles devem saber buscar também aquelas informações que não chegam ao conselho e isso supõe uma postura ativa.”

Um leque de conhecimentos amplo é desejável, mas saber tudo é impossível. No entanto, o bom conselheiro deve ter um “kit básico” de habilidades, como defende Eliane: “Motivação, interesse e capacidade de defender pontos de vista próprios são fundamentais para a função”.

Todo esse esforço é recompensado com o aumento dos dividendos e a valorização das empresas. “Do ponto de vista de um fundo de pensão, isso é fundamental para adequar o valor dos ativos ao passivo de longo prazo, ou seja, à necessidade de pagar os benefícios dos participantes”, diz Eliane.

A conselheira do IBGC vê ainda um papel muito importante de investidores institucionais como a PREVI no amadurecimento do mercado brasileiro de capitais. “Um fundo de pensão tem um interesse primordial de valorizar a empresa, o que diminui o potencial de conflito de interesses que pode acontecer com outros grandes acionistas”, diz Eliane. “Por isso, os fundos acabam impulsionando a melhoria da governança corporativa nas empresas brasileiras.”

“Avanços na governança com certeza geram mais valor para os ativos”, afirma Geovanne, convicto do papel positivo dos investidores institucionais para melhorar a qualidade do mercado de capitais. “À medida que as empresas se modernizam e abrem o capital, elas passam a buscar recursos de longo prazo. E nós somos o carro-chefe da poupança de longo prazo no país, hoje”, argumenta ele. “Isso contribui para que as empresas adotem as melhores práticas de governança, até mesmo quando somos minoritários”, conclui.

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