Mais que um desconto no contracheque
Andréa Vanzillotta é formada em estatística
e atuária. Depois de trabalhar durante anos
em fundo de pensão, passou para as salas de
aula e hoje ensina previdência complementar
inclusive em curso de pós-graduação. Nesta
entrevista, fala que o participante de fundo de pensão faz
uma escolha entre consumo e previdência. Mostra que
comprar um sonho de longo prazo exige confiança na
instituição. E diz que poucas pessoas têm conhecimento
suficiente para administrar recursos por conta própria
quando o propósito é garantir um complemento de
aposentadoria.
Revista PREVI – Aposentadoria, para os mais jovens,
pode parecer ficção?
Andréa Vanzillotta – Não estamos acostumados a falar
ou planejar a aposentadoria quando somos jovens. Esse
assunto normalmente só entra em pauta por volta dos
40 anos, o que é um erro, porque, quanto antes começar
a se programar, mais barato sai a aposentadoria e maior é a possibilidade de acumular um recurso razoável. Previdência é uma poupança de longo prazo e a gente sabe
que, quanto mais tempo o dinheiro fica guardado, mais
você junta. E, quanto antes começar, mais em conta é a
parcela mensal a desembolsar.
Revista – Qual é a idade ideal para começar a pensar
nesse assunto?
Andréa – Não tem idade para começar a falar em aposentadoria.
Hoje, inclusive, pais já compram planos de
previdência aberta quando seus filhos nascem. É possível
que esses recursos nem venham a ser usados para uma
aposentadoria, mas podem pagar uma faculdade, um
curso no exterior. A aposentadoria passa muito pela idéia
de planejamento. Quanto antes você começa a planejar
alguma coisa, maior a chance de dar certo. O tempo
passa, as coisas mudam. Hoje você está solteiro e não tem
filhos; amanhã, está casado com dependentes. Questões
previdenciárias, como pensão por morte e seguro de
vida, já começam a ter um peso maior.
Revista – Hoje, desligar-se do banco com poucos anos
de trabalho é mais comum que no passado. O que você
diria a quem vive essa situação e pensa em tirar os
recursos da PREVI por achar que a reserva acumulada
aqui ainda é pequena?
Andréa – O valor da reserva em si não é o que deve
pesar na hora de decidir por ficar ou sair do fundo de
pensão. O que deve pesar é a questão do planejamento. Às vezes, só porque o dinheiro está disponível, a tentação
é sacar e gastar. A pessoa pode pensar “de repente troco
o carro ou dou uma entrada em alguma coisa”. A escolha
que é preciso fazer é entre o consumo e a poupança. Se
a pessoa não tem necessidade imediata do dinheiro, o
melhor é deixá-lo no fundo de pensão. É uma forma de
poupança. Aconselho sempre a manutenção do vínculo
com a previdência, porque para mim é um conceito
muito importante. Mas a tendência é que pessoas mais
jovens tenham uma visão de curto prazo como se a aposentadoria
fosse algo longínquo. O tempo passa muito
rápido, quando você vê aquela pessoa de 20 anos já está
com 40, e aí, o tempo passou.
Revista – A qualidade da administração dos recursos é
decisiva para o participante ficar no fundo de pensão?
Andréa – Previdência é um projeto de longo prazo, um
projeto de vida. Por isso, o participante precisa confiar
na solidez e na gestão do fundo de pensão. Imagine a
seguinte situação: uma pessoa sai da empresa patrocinadora
por qualquer motivo. Se ela está num fundo de
pensão que vem enfrentando dificuldades
(às vezes ocorrendo o mesmo com a patrocinadora),
vai pensar duas vezes em deixar
seu recurso lá. Em contrapartida, se está
num fundo de pensão como a PREVI que,
nos últimos anos, vem apresentando resultados
fantásticos, provavelmente vai pensar:
por que tirar meu dinheiro se aqui há boa
gestão? E mais: quem deixa os recursos no
fundo de pensão mesmo se desligando dos
quadros da empresa patrocinadora tem a
vantagem de vir a sacar a reserva a qualquer
momento. Nada impede que, daqui a alguns
anos, essa pessoa mude de idéia e decida
sacar sua reserva.
Revista – Então, a tendência é que os
fundos de pensão sejam cada vez mais
cobrados em termos de solidez e de boa gestão dos
recursos?
Andréa – Hoje, os participantes estão mais cientes de
que o fundo de pensão não é só um desconto no contracheque.
É preciso acompanhar e questionar. Os fundos,
de modo geral, fornecem uma quantidade enorme de
informações. É só o participante se dispor a olhar, pesquisar,
perguntar, telefonar para esclarecer a dúvida. Tem
que tomar conta mesmo.
Revista – Ter um parente que já está curtindo a aposentadoria
faz diferença para um jovem que decide ingressar
num fundo de pensão?
Andréa – Faz diferença. Muita gente diz: meu pai é
da PREVI, meu tio é da Petros. Dá para perceber que
o fato de o parente estar bem na aposentadoria é um
referencial. A melhor propaganda é você olhar em casa
e ver que alguém está recebendo uma boa aposentadoria
complementar e que isso faz diferença.
|