|nº 105| Agosto 2005

Nesta Edição » Social - Perfil do Associado
Do preconceito nasce um clube
Geraldo Magnanelli, funcionário do Banco do Brasil desde 1952, lembra que a fundação do Satélite ocorreu por discriminação ao quadro de portaria
Nos primeiros anos da década de 1930, o cenário é o Brasil da oligarquia rural e de muitos preconceitos. E é justamente de um desses preconceitos que nasce o Satélite Clube. Quem conta a história é Geraldo Magnanelli, presidente de seu conselho deliberativo e funcionário do BB desde 1952.

Fundada em 1934, em seu time de futebol, a AABB contava com muitos contínuos e porteiros, na maioria negros. Num jogo da seleção de São Paulo contra a do Rio de Janeiro, eles foram barrados na hora do baile por um diretor da AABB cujo nome se perdeu na história. Ao contrário dos jogadores, que depois da discriminação fundaram o novo clube, em que podiam jogar futebol e ir às festas.

A primeira diretoria, que tomou posse em 1935, foi presidida por Luís Roberto Arruda. O campo de futebol usado na capital paulista ficava na Avenida Francisco Matarazzo, onde hoje existem prédios da Previ e é perto do campo do Palmeiras. A primeira sede ficava na Praça Liberdade, um predinho de dois andares ao lado da Igreja dos Enforcados. A roupa dos jogadores era lavada por dona Brasilina, mulher de um dos diretores, já que não havia dinheiro para nada. Depois vieram as sedes sociais, os bailes...

Mas os caminhos de Magnanelli e do Satélite se cruzam em 1952, quando o já militante do PCB toma posse como contínuo no BB e participa da grande greve que ocorreu no setor bancário, cujas reuniões do comando aconteciam no Satélite. Magnanelli lembra que, junto com ele, nessa época freqüentava a sede, que ficava no Edifício Martinelli, no centro de São Paulo, Juca de Oliveira, ator e autor teatral, que à época era militante e funcionário do Banco de São Paulo.

Mudanças

Quando o preconceito diminuiu na AABB, Magnanelli tornou-se o primeiro contínuo a conquistar o cargo de diretor de sede. “É que ninguém queria ficar tomando conta de bêbado, abrindo a sede e tendo de ficar lá até o final”, diz. Na década de 1960, o banco também decidiu que não deveriam existir dois clubes por cidade e o Satélite carioca acabou se transformando na AABB Tijuca. O de São Paulo resistiu e mudou seu foco, passando a gerir colônias de férias, como a primeira construída em Itanhaém.

Na época também acontece outro fato marcante na vida de Magnanelli. Dirigente da Federação dos Bancários e do Sindicato de São Paulo, é cassado no golpe de 1964, algemado dentro do banco e fica 69 dias no presídio do Hipódromo. Quando sai é transferido para o Rio Grande do Norte, destino melhor que o de colegas que acabaram demitidos ou sumiram nos porões da ditadura. Depois de um ano no Nordeste, volta para Jundiaí, interior de São Paulo, depois para a agência Campos Elíseos e, finalmente, para o Cesec São Paulo, onde se aposentou em 1983.

Nesse tempo todo, não se afastou nem da militância política e sindical nem do Satélite, que ajudou a construir e tem orgulho do patrimônio consolidado, com diversas colônias e prédios, bem diferente do começo. E reclama: “o grande problema hoje é que os bancários do BB que ganham muito pouco não têm nem condições de usufruir tudo isso que conquistamos.”