|nº 107| Outubro 05

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De bancária a Senadora
A trajetória da paraense Ana Júlia Carepa a partir de seu ingresso no Banco do Brasil, em 1983, passa pela atuação sindical, pela carreira política como vereadora, vice-prefeita, deputada federal, senadora. Atualmente, empunha a defesa dos interesses dos participantes dos fundos de pensão no Senado

A história da senadora paraense Ana Júlia Carepa é marcada pela postura combativa e engajamento em questões sociais. Conhecida por desafiar madeireiros e grileiros em seu estado, ela hoje é relatora do Projeto de Gestão Ambiental no Senado e defende proposta para mudança na Lei de Royalties dos minérios no País. Tem papel de destaque, também, na bancada dos defensores dos associados de fundo de pensão. O que muita gente não sabe, porém, é que a atuação política de Ana Júlia ganhou força a partir do início de sua carreira como bancária. E foi com o apoio da categoria que alcançou os primeiros mandatos para cargos públicos.

A política esteve presente na vida de Ana Júlia desde a juventude. Ainda como estudante, presidiu o Centro Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), no final da década de 70. “Fui a primeira presidente do CA após a redemocratização do país”, recorda. Na época, também estava envolvida com o Movimento de Mulheres local. Em 1982, Ana Júlia filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). E, no ano seguinte, começou sua carreira profissional como bancária.

“Entrei no BB como escriturária, em 1983, e assumi meu cargo em Itaituba, no interior do Pará. Dois anos depois, ao ser transferida para o município de Castanhal, entrei para o Movimento de Oposição Bancária, contra a direção do sindicato da categoria na época”, recorda. A partir de 1986, quando passou a trabalhar na capital, Belém, até o início da década de 90, Ana Júlia teve participação destacada no processo de reorganização da categoria bancária no Estado.

Por esse motivo, foi convidada a se candidatar a vereadora nas eleições de 1992. “Não pensava em sair candidata, já havia recusado até um convite do PT para disputar uma vaga como deputada federal, em 1990. Mas, naquela eleição, em 1992, meus colegas insistiram tanto que eu não pude recusar. E fui eleita”, conta. Seu mandato como vereadora foi marcado, entre outros projetos, pela obrigatoriedade de portas de segurança nos bancos, até então inexistentes nas agências de Belém.

Recentemente, a senadora acusou o presidente do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, de mentir em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a compra de votos na Câmara Federal Em 1994, Ana Júlia decidiu, enfim, aceitar a disputa por uma vaga na Câmara Federal. E mais uma vez obteve sucesso. “Tive grande apoio de todo o movimento sindical, em especial da categoria dos bancários. Na época, procurei atuar contra o modelo de privatização imposto pela gestão Fernando Henrique Cardoso e também a favor da quebra de monopólios. Lutei muito, também, pela liberação de recursos para o Banco do Brasil”, resume.

Foi então que, em 1996, aceitou sair como vice-prefeita de Edmílson Rodrigues na chapa que venceria as eleições municipais em Belém. No período de um ano e meio, Ana Júlia acumulou também a função de secretária de Urbanismo, resgatando os conhecimentos de sua formação acadêmica como arquiteta. Depois tentou uma vaga no Senado em 1998, sem sucesso, mas foi eleita vereadora novamente na capital paraense em 2000.
“Direcionei essa minha segunda atuação na Câmara Municipal de Belém para a restauração do patrimônio histórico e incentivo às políticas do primeiro emprego, direcionadas à juventude”, ressalta. Em 2002, conseguiu se eleger senadora, passando a apoiar o programa do presidente Luís Inácio Lula da Silva, como as reformas tributária e política e a revisão do modelo de desenvolvimento para a região Norte do país.

Ana Júlia sempre destaca a importância dos bancos públicos como alicerce para projetos como o Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), implantado no País a partir da região Norte. “São instrumentos de alavanca para regiões menos desenvolvidas”, frisa a senadora. “O Banco do Brasil, por exemplo, tem ajudado muito a expansão e sustentação da agricultura familiar. O Pará é hoje o quinto estado do Norte e Nordeste em volume de recursos liberados por intermédio do Pronaf”, acrescenta.

Outra linha marcante de atuação de Ana Júlia no Senado tem sido em favor dos fundos de pensão. De acordo com a senadora, apesar de terem investido recursos significativos, os fundos de pensão têm de conviver com decisões que agridem seus direitos de investidores. “Após as privatizações, o Grupo Opportunity, como administrador, não permitia que nossos fundos de pensão sequer participassem dos conselhos deliberativos. E não tinham o direito de vender ações no mercado”, afirma.

Recentemente, a senadora acusou o presidente do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, de mentir em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a compra de votos na Câmara Federal. “Ele mentiu ao afirmar que os fundos de pensão tinham garantido o direito de vender suas ações em conjunto com os outros fundos administrados pelo Opportunity, que controlavam diversas empresas”, sustenta, ciente de que essa batalha é apenas mais um capítulo de sua atividade política. Uma vocação descoberta há mais de 20 anos, a partir do envolvimento com a política sindical na categoria bancária. E que hoje se estende no Senado.