|nº 138| Dez 08

Nesta Edição » Investimentos » Opção para o futuro

Crise deve depurar o mercado

O professor William Eid Júnior, da FGV, acredita que a crise pode assustar e desestimular os jovens investidores. “As pessoas estavam mal acostumadas. Acharam que aquela seqüência de alta contínua é a realidade da bolsa e se esqueceram que investimentos têm riscos”, comenta. Para ele, essa crise está dando um choque de realidade e muitas pessoas vão repensar suas práticas. “O bom momento que vivíamos estimulava as pessoas a investirem em renda variável. Só que é preciso ter cuidado para entrar no mercado de capitais. É um investimento que precisa ser de longo prazo”, aponta.

O jornalista e economista Cláudio Gradilone lembra-se que em 1971 o Brasil viveu uma situação parecida. A economia do país estava muito aquecida pelo milagre econômico e muitos brasileiros decidiram investir na bolsa. “Quando caiu, desabou sem amortecedor. Muita gente perdeu muito dinheiro. Ali nasceu uma geração de pessoas que nunca mais quis ouvir falar em bolsa de valores”, recorda. Cláudio Gradilone acha que pode ocorrer a mesma coisa com a crise de agora. Ele comenta que o resultado que a Bovespa registrou nos últimos cinco anos é uma distorção. “O sujeito que olhou a Bovespa nestes últimos anos só viu alegria. O jovem investidor, que não é técnico, não tem conhecimento, não foi avisado que as ações também caem”, diz.

Eduardo Gomide, da Bovespa, diz que o Ação Jovem está trabalhando para que os jovens não abandonem a Bolsa. Ele destaca que a função das crises é assustar as pessoas. “A função do Ação Jovem é preparar o investidor para enfrentar este tipo de crise. Em nossos cursos aprofundamos os temas que todos que pretendem investir devem saber. Vendemos a idéia de que o investimento na bolsa tem de ser de longo prazo. Esperamos muito que esta crise não diminua o número de investidores”, explica Gomide. Para o professor William Eid, daqui a dez anos vamos olhar para esta crise e ela terá sido mais uma que entrou para a história. “O mundo não vai acabar por causa dela. Perdemos agora, daqui a pouco recuperamos”, comenta.

Para o professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, o mercado financeiro está passando por uma situação atípica e, assim que a crise mundial passar, os investimentos voltarão. “Mesmo com a boa fase que estávamos passando, o investimento das pessoas físicas na bolsa de valores ainda é baixo em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], se comparado com outros países. Estávamos começando a ingressar numa situação de normalidade. Diante da crise, muita gente saiu, até por necessidade. Mas as empresas que estão lá e a própria Bolsa de Valores de São Paulo são saudáveis, com boa rentabilidade. A economia brasileira está bem mais organizada do que era anteriormente. Temos uma estrutura bem melhor, por isso, a tendência é que os investidores voltem”, comenta. Para Leite, a rentabilidade da Bovespa vai continuar sendo muito grande no longo prazo. “Não sou daqueles que compartilham a idéia de que o crescimento do número de pessoas físicas na bolsa de valores nasceu a partir da desinformação ou de uma visão imediatista em busca do lucro. Era uma opção bastante razoável. Retirar o dinheiro neste momento é que é uma visão de pânico”, conclui.

Lição da crise

Umas das principais heranças que esta crise financeira mundial deve deixar é a importância de pensar numa perspectiva de longo prazo, quando se aplica em ações, e a necessidade de fazer esse investimento embasado por informações de boa qualidade. A PREVI pretende intensificar no próximo ano a disseminação de conceitos de educação financeira dentre seus participantes. Desse modo, terão melhores condições de compreender as opções proporcionadas pela Entidade à qual confiaram a gestão dos recursos que vão assegurar, no futuro, navegação em águas mais calmas.

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