Crise deve depurar o mercado
O professor William Eid Júnior, da FGV, acredita
que a crise pode assustar e desestimular os jovens
investidores. “As pessoas estavam mal acostumadas.
Acharam que aquela seqüência de alta contínua é
a realidade da bolsa e se esqueceram que investimentos
têm riscos”, comenta. Para ele, essa crise está
dando um choque de realidade e muitas pessoas
vão repensar suas práticas. “O bom momento que
vivíamos estimulava as pessoas a investirem em
renda variável. Só que é preciso ter cuidado para
entrar no mercado de capitais. É um investimento
que precisa ser de longo prazo”, aponta.
O jornalista e economista Cláudio Gradilone
lembra-se que em 1971 o
Brasil viveu uma situação
parecida. A economia do
país estava muito aquecida
pelo milagre econômico e
muitos brasileiros decidiram
investir na bolsa. “Quando
caiu, desabou sem amortecedor.
Muita gente perdeu
muito dinheiro. Ali nasceu
uma geração de pessoas que
nunca mais quis ouvir falar
em bolsa de valores”, recorda.
Cláudio Gradilone acha que
pode ocorrer a mesma coisa
com a crise de agora. Ele comenta
que o resultado que a
Bovespa registrou nos últimos cinco anos é uma
distorção. “O sujeito que olhou a Bovespa nestes últimos anos só viu alegria. O jovem investidor,
que não é técnico, não tem conhecimento, não foi
avisado que as ações também caem”, diz.
Eduardo Gomide, da Bovespa, diz que o Ação
Jovem está trabalhando para que os jovens não
abandonem a Bolsa. Ele destaca que a função das
crises é assustar as pessoas. “A função do Ação
Jovem é preparar o investidor para enfrentar este
tipo de crise. Em nossos cursos aprofundamos os temas que todos que pretendem investir devem
saber. Vendemos a idéia de que o investimento na
bolsa tem de ser de longo prazo. Esperamos muito
que esta crise não diminua o número de investidores”,
explica Gomide. Para o professor William Eid,
daqui a dez anos vamos olhar para esta crise e ela
terá sido mais uma que entrou para a história. “O
mundo não vai acabar por causa dela. Perdemos
agora, daqui a pouco recuperamos”, comenta.
Para o professor da Trevisan Escola de Negócios,
Alcides Leite, o mercado financeiro está passando
por uma situação atípica e, assim que a crise mundial
passar, os investimentos voltarão. “Mesmo com
a boa fase que estávamos passando, o investimento
das pessoas físicas na bolsa de valores ainda é baixo
em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], se comparado
com outros países. Estávamos começando a
ingressar numa situação de normalidade. Diante da
crise, muita gente saiu, até por necessidade. Mas as
empresas que estão lá e a própria Bolsa de Valores
de São Paulo são saudáveis, com boa rentabilidade.
A economia brasileira está bem mais organizada do
que era anteriormente. Temos uma estrutura bem
melhor, por isso, a tendência é que os investidores
voltem”, comenta. Para Leite, a rentabilidade da
Bovespa vai continuar sendo muito grande no
longo prazo. “Não sou daqueles que compartilham
a idéia de que o crescimento do número de pessoas
físicas na bolsa de valores nasceu a partir da desinformação
ou de uma visão imediatista em busca
do lucro. Era uma opção bastante razoável. Retirar
o dinheiro neste momento é que é uma visão de
pânico”, conclui.
Lição da crise
Umas das principais heranças que esta crise financeira mundial deve deixar é a importância de
pensar numa perspectiva de longo prazo, quando
se aplica em ações, e a necessidade de fazer esse
investimento embasado por informações de boa
qualidade. A PREVI pretende intensificar no
próximo ano a disseminação de conceitos de educação
financeira dentre seus participantes. Desse
modo, terão melhores condições de compreender
as opções proporcionadas pela Entidade à qual
confiaram a gestão dos recursos que vão assegurar,
no futuro, navegação em águas mais calmas. |