|nº 139| Jan/Fev 09

EDITORIAL
Demissões na Vale e na Embraer

Lamentavelmente, duas empresas nas quais a PREVI detém uma participação relevante – a Vale e a Embraer – anunciaram a demissão de um número razoável de trabalhadores como conseqüência da crise e da queda de vendas. Não foram as únicas a fazer isso (infelizmente) visto que o mês de janeiro registrou um número recorde de demissões (mais de 100 mil) e as duas juntas respondem por apenas uma pequena parcela desse total. No entanto, quem acompanhou os jornais deve ter percebido que as demissões na Vale e na Embraer foram, de longe, as mais destacadas pelo noticiário, com freqüentes menções ao fato de a PREVI ser sócia em ambos os casos.

Vamos primeiro falar do que é mais importante: as demissões. É sempre lamentável falar em demissões. Acho que não pode ser desprezado, em momento algum, o impacto disso em cada pessoa atingida, nas suas famílias, e também na economia como um todo, uma vez que demissões em massa representam menos pessoas com salário no fim do mês. Por isso, não há dúvida de que a demissão deve ser um recurso utilizado apenas em caso extremo, quando a empresa tem certeza de que será necessário reduzir produção e custos.

Os casos Vale e Embraer são bastante claros. Em ambos, mais de 95% da produção destina-se ao mercado externo, em que as principais economias do mundo enfrentam severa recessão. A queda de demanda tanto de minério de ferro quanto de jatos é notória. As empresas não estão escondendo o jogo ou exagerando os problemas. E a perspectiva de retomada dos negócios no ritmo de meados de 2008 não é visível a médio prazo.

É bom lembrar que as empresas vinham trabalhando no ritmo de produção de uma economia global que apontava para um crescimento médio acima de 3% (no caso da China, o número era de 10%). Quando o cenário inverte-se para uma recessão, a capacidade anterior fica ociosa quase imediatamente, e manter a estrutura de custos sem realizar receita aponta para o desequilíbrio da empresa. E se uma empresa entra em dificuldades financeiras, a retomada fica bem mais difícil. Hoje há exemplos de sobra pelo mundo afora de empresas em dificuldades e, nesses casos, as conseqüências para os trabalhadores são bem mais devastadoras.

A segunda questão a comentar é o destaque dado pela imprensa a essas duas empresas e à participação da PREVI em ambas. O fato é curioso, porque em muitos outros momentos (quando as empresas estavam crescendo e contratando, por exemplo) não era comum destacar a PREVI como acionista das mesmas. E por que a imprensa citou só a PREVI? Por que não citou os outros sócios? Parece que a citação tem a seguinte mensagem por trás: “como a PREVI é sócia e é ‘ligada’ ao governo, a PREVI poderia ter impedido as demissões”. A mensagem é oculta e falsa ao mesmo tempo.
A PREVI atua na governança das empresas, mas não tem poderes isolados. A PREVI é ligada ao Banco do Brasil, que é uma empresa pública, mas a PREVI desenvolve suas atividades de forma a cumprir seus objetivos (pagar as aposentadorias dos seus associados). Se a PREVI tivesse poderes ou formas alternativas para evitar as demissões, estejam certos de que teríamos feito esforços nesse sentido.

Ao fazer esses comentários, queremos reafirmar nosso respeito aos associados e a todos os trabalhadores. Temos certeza de que sempre contribuímos para gerar investimentos e, portanto, empregos. As empresas nas quais participamos recebem nosso incentivo para crescer e adotar as melhores práticas na relação com seus colaboradores. Infelizmente, não podemos evitar totalmente as conseqüências de uma crise que se agigantou e afetou a todos.

Um abraço, Sérgio Rosa