|nº 137| Out/Nov 08

» Governança corporativa » Postura ativa em momento de crise

Postura ativa em momento de crise

PREVI adota medidas e pede explicações a empresas das quais é acionista minoritária e tiveram prejuízos milionários com a variação cambial, entre elas Sadia, Aracruz e Votorantim

No dia 3 de novembro, a Sadia realizou Assembléia Geral Extraordinária convocada a partir de pedido de esclarecimentos formulado pela PREVI – acionista minoritária da empresa, com 7,32% do capital total – sobre os prejuízos de cerca de R$ 777 milhões anunciados pela Sadia no terceiro trimestre. A iniciativa da PREVI se baseou no Artigo 123 da Lei no 6.404/76, que faculta o pedido de convocação de assembléias aos acionistas que tiverem pelo menos 5% do capital total das companhias.
O caso da Sadia é um dos mais emblemáticos entre empresas que fizeram apostas financeiras arriscadas com derivativos cambiais e acabaram amargando prejuízos milionários, frente à variação cambial dos últimos meses, a qual interrompeu trajetória de quatro anos de valorização do real frente ao dólar.
Além da Sadia, também anunciaram prejuízos milionários gigantes como a Aracruz e Votorantim, das quais a PREVI também é acionista minoritária (3,07% da Aracruz e 1,84% do capital total da Votorantim Celulose e Papel – VCP – empreendimento do Grupo Votorantim).  No caso da Aracruz, as perdas  chegaram a US$ 2,1 bilhões. Na VCP, foram de R$ 2,2 bilhões. A situação das empresas chegou a ser apelidada de “subprime brasileiro”, numa referência às hipotecas americanas que iniciaram a crise econômica dos últimos meses.
“A PREVI, na condição de acionista, solicitou explicações detalhadas à Sadia porque o nosso interesse é na saúde da empresa e na proteção do patrimônio dos nossos participantes”, afirmou Sérgio Rosa, presidente da PREVI.
Conforme a Sadia, o prejuízo foi realizado porque, diante da severidade da crise internacional e da alta volatilidade da cotação da moeda norte-americana, a companhia decidiu liquidar antecipadamente a posição em operações cambiais, para reenquadrar a exposição de risco da empresa.  No Fato Relevante divulgado em 25/09, a Sadia informa que possuía operações ligadas ao dólar em “valores superiores à finalidade de proteção das atividades da Companhia expostas à variação cambial”.  
Entre os assuntos propostos pela PREVI, a AGO da Sadia abordou a Política Financeira Geral da Companhia e o detalhamento das operações financeiras atreladas à variação cambial. Entre as deliberações, a assembléia acolheu, por unanimidade, a solicitação da PREVI de realização de Auditoria Especial para apuração de eventual responsabilidade dos administradores. A empresa BDO Trevisan foi indicada pela Companhia para realizar a auditoria e tem 90 dias para entregar relatório detalhado com a indicação dos responsáveis. Nesse prazo, nova assembléia será convocada para deliberar sobre o resultado do relatório.
A fim de garantir a disponibilização de informações mais detalhadas sobre a exposição das companhias abertas às operações com derivativos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou, em 17/10, a Deliberação no 550. A medida traz recomendação às companhias para que divulguem, além do detalhamento de informações, análises de sensibilidade de suas posições, fornecendo aos seus acionistas e ao mercado referenciais concretos para a avaliação do risco trazido pelas posições assumidas pela companhia.
A Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec), com o apoio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e da Associação dos Profissionais de Investimento (Apimec Nacional),  também defende a transparência. As associações pedem que as empresas forneçam espontaneamente mais informações aos acionistas e aconselham também que os acionistas cobrem ativamente as companhias, solicitando dados e participando das assembléias que venham a ser convocadas sobre o assunto.
Com participação em cerca de 80 empresas, a PREVI recomendou aos conselheiros que estejam atentos ao desenvolvimento e ao cumprimento de políticas de movimentações financeiras adequadas quanto à exposição ao risco e à consonância com as operações produtivas.  

<< Primeira | < Anterior | 1 | 2 | 3 | Próxima > | Última >>