|nº 108| Novembro 05

Nesta Edição » Entrevista - Presidente do IBGC

PREVI: exemplo
de governança


O presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa fala da importância das boas práticas nas empresas brasileiras, o que representa avanço para toda a sociedade

Graduado em Economia, especialista em gover-nança corporativa e membro de conselhos de diversas empresas brasileiras, como Natura e Nossa Caixa, José Guimarães Monforte conhece bem o código do governança corporativa da PREVI. Para ele, é um dos mais completos que existem no País. Veja abaixo entrevista exclusiva à Revista PREVI.


Para Monforte, do IBGC, empresas de boa governança têm desempenho superior à média das outras

Revista PREVI – Por que as boas práticas de governança são importantes para as empresas?

José Guimarães Monforte – A evolução das empresas como forma ideal encontrada pelas sociedades para combinar os fatores trabalho, capital e tecnologia remonta ao século XIX e tem obtido grande sucesso. O que significou, nestes dois últimos séculos, que muitas invenções se tornassem úteis para as pessoas, que muitos empregos fossem criados e, nesse processo evolutivo, que a atividade de prover financiamentos a esses empreendimentos bem-sucedidos fosse de grande intensidade.

A resultante é que as empresas passaram a utilizar capital de terceiros, não mais somente de seus fundadores. Em muitos casos, isso diluiu os blocos de controle. Somado ao fato de que o sucesso dessas empresas passou a significar elemento de grande impacto nas sociedades em que se inseriram e nos ambientes em que atuavam, indicando a importância de processos decisórios que buscassem sempre o avanço com equilíbrio, para que essas empresas alcançassem a perenidade.

Os sistemas de governança corporativa, com sua missão de orientar estrategicamente as empresas e monitorar a execução por parte de sua diretoria, reúne as condições para buscar o tratamento equânime das partes interessadas, exigir dos gestores a prestação de contas de seus atos, atribuir-lhes a responsabilidade pelos mesmos e, muito importante, garantir que haja a máxima transparência nos assuntos relativos a seus negócios. Um negócio operando nesse contexto aumenta enormemente suas chances de sucesso.

Revista – A prática da governança aumenta o valor dessas empresas?

Monforte – Sem dúvida nenhuma. Uma forma de constatar isso na prática é observar o desempenho das ações de empresas de boa governança nos mercados em que estão listadas. Têm desempenho significativamente superior às médias das ações de outras empresas. E a razão é relativamente simples. Os mercados de onde provêm os recursos para as empresas são mecanismos de desconto. Explico-me. Ao determinar o custo dos recursos que serão ofertados às empresas esses agentes levam em consideração basicamente dois conjuntos de elementos. O primeiro se refere às chances de determinado empreendimento ser bem-sucedido. O segundo diz respeito à chance de esse agente participar dos resultados de forma plena, na proporção de sua participação.

Com relação ao primeiro elemento, ao respondermos à primeira pergunta procuramos demonstrar o quanto um sistema de governança corporativa pode contribuir para o bom desempenho das organizações. Ele faz as escolhas estratégicas, seleciona as lideranças, supervisiona a gestão de riscos e monitora o desempenho. Sob esse prisma, então, os agentes de mercado podem deduzir que suas chances de sucesso são amplas e podem valorizá-la mais do que outras.

Já o segundo conjunto de análise, que tem a ver com o risco de expropriação, leva em conta a existência de mecanismos que eliminem esses riscos. Uma empresa que adota os bons princípios de governança terá atribuído direito de voto amplo a seus acionistas, terá um conselho com participação expressiva de membros externos e independentes, terá um conjunto de crenças e valores que claramente prioriza o comportamento ético. Enfim, terá uma arquitetura organizacional e funcional que resultará num elevado nível de confiança de todas as partes que com ela interagem.

Novamente neste caso os agentes de mercado tendem a atribuir valor maior a essa empresa, o que equivale a dizer que ele aplica um desconto, ou cobra um prêmio de seguro menor, pois nesse ambiente de elevada confiança os riscos de expropriação são menores.
“Considero o Código da PREVI de Governança Corporativa um dos mais completos e modernos que conheço”


Revista – Qual é o papel da PREVI no sentido de incentivar as empresas a ter governança corporativa?


Monforte – É interesse direto da PREVI que as empresas tenham boa governança. O importante, repetindo a mesma imagem que utilizei em um Congresso da PREVI do qual participei, é que ela tem exército, munição e trincheira, mais do que qualquer outro agente para batalhar pela causa da governança, que lhe interessa diretamente.
Os participantes do sistema PREVI e sua capacidade de atrair profissionais de alto gabarito para servir em Conselhos de Administração e Fiscal são seu exército. O volume significativo de recursos investidos no capital das empresas é sua munição. A oportunidade de ocupar cadeiras nesses conselhos, que é resultante do direito de voto que seus investimentos lhe dá, são suas trincheiras.

O que temos testemunhado é que a PREVI tem-se empenhado de forma determinada nessa batalha. A face mais visível talvez esteja nos casos relacionados às privatizações e que ganham manchetes, uns pelo sucesso que alcançaram, como a CPFL, e outros pelos problemas que geraram e que levaram a PREVI a ter de agir com persistência e determinação. Há, porém, um outro lado muito divulgado, que tem sido a atuação da PREVI em movimentos e instituições como o IBGC. No nosso caso, tem sido de extrema importância para a divulgação das boas práticas de governança.

Revista – O senhor conhece o Código PREVI de Melhores Práticas de Governança Corporativa? Qual a opinião do senhor sobre ele?

Monforte – Conheço bem o Código PREVI de Governança. Uma das decisões que a Instituição tomou antes de divulgar esse seu belo trabalho foi submetê-lo à apreciação do IBGC. Nosso Conselho teve a oportunidade de analisá-lo e oferecer sugestões. Assim, não sou totalmente isento para responder a essa pergunta, mas, de forma bastante transparente, gostaria de dizer que considero o Código da PREVI um dos mais completos e modernos que conheço. Completo porque não só inclui todos os blocos importantes de um sistema de governança, como também desce a um nível de detalhes que possibilita àqueles que o utilizam um profundo entendimento de cada uma das questões nele tratadas.

Ele é moderno porque avança nas questões amplas da governança, ou seja, as relativas à responsabilidade social e ambiental e também à preocupação com o tratamento equânime de todas as partes interessadas. O Código é, portanto, um documento importante para a adoção mais ampla da boa governança em nosso País.