|nº 110| Janeiro 06

Nesta Edição » Entrevista - Presidente Sérgio Rosa
Realizações em todas as áreas
Sérgio Rosa, presidente da PREVI
Para o presidente da PREVI, Sérgio Rosa, 2005 foi um ano difícil, mas em que se encontraram soluções e no qual a PREVI se fortaleceu

Para fazer um balanço de 2005 e falar das perspectivas para 2006, a Revista PREVI entrevistou no começo de janeiro o presidente da entidade, Sérgio Rosa. Veja abaixo os principais trechos:

Revista PREVI – Iniciando um balanço de 2005, quais fatos o senhor destacaria em relação à PREVI?

Sérgio Rosa – 2005 foi um ano muito curioso. De um lado as coisas foram muito bem, diria até que nunca foram tão bem. Tivemos muito sucesso nos investimentos e resolvemos problemas antigos, que afetavam os participantes. De outro lado, sofremos com muitas denúncias totalmente infundadas e desleais.

Tenho certeza de que 2005 vai ficar marcado na história da PREVI. Atingimos o terceiro ano consecutivo de superávit, que vai, inclusive, superar os 25% da reserva matemática. Três empresas, que representam 30% da nossa carteira, atingiram a classificação de investment grade pela primeira vez na história, o que representa valorização e menor risco. Tivemos uma vitória importante contra o Opportunity e retomamos o controle da gestão da Brasil Telecom, passo importante para sua recuperação. Finalmente colhemos os frutos da reestruturação de algumas empresas, especialmente do setor de energia, entre tantos outros fatos positivos.

Na área de benefícios, demos um grande passo em relação à Parcela PREVI, que vai representar renda real para milhares de aposentados. Praticamente concluímos a reestruturação da Carim, inclusive permitindo o uso do FGTS em alguns casos, também pela primeira vez, e fizemos uma mudança estrutural na Capec, que deverá garantir a perenidade dessa carteira. Enfim, foi um ano de muitas realizações em todas as frentes de ação, e os resultados concretos são muito mais fortes que qualquer outra coisa.

Revista – O enfrentamento da PREVI com o Opportunity tornou-se uma questão polêmica e gerou muita atenção da mídia em 2005. Essa história já acabou? Já podemos saber o quanto a PREVI ganhou com isso?

Sérgio – Essa história é extremamente complexa e, infelizmente, não acabou. Demos passos importantes para retomar o controle sobre os recursos que investimos, retomamos o controle de duas empresas e pusemos um fim aos abusos praticados ali. Mas ainda dependemos de decisões judiciais definitivas e sabemos que eles não vão desistir fácil. Vão continuar nos atacando de todas as formas: seja no campo jurídico, plantando informações na imprensa, ou usando seus aliados políticos de maneira dissimulada, mas muito forte. Alguns veículos da imprensa contaram essa história de maneira bem realista, e ela mostra o quanto certos grupos econômicos acreditam em resolver seus interesses por meio da manipulação política. Mas com a PREVI isso não deu certo.

Revista – No final de tudo, a PREVI vai ganhar com isso? Não foi muito arriscada essa disputa?

Sérgio – Acho que a PREVI vai ganhar de diversas formas. Vamos evitar o abuso em relação às empresas, valorizar participações que estavam praticamente perdidas e, inclusive, mostrar para todo o mundo que fundo de pensão tem que ser respeitado, que dinheiro dos trabalhadores tem que ser respeitado. Muita gente sempre achou que podia abusar dos direitos dos fundos de pensão porque a cultura era não reagir. Como os gestores dos fundos vêm e passam e não são efetivamente os “donos” do dinheiro, muita gente achava que a passividade seria a regra. Chegaram a nos chamar de “barnabés”, numa alusão preconceituosa a uma suposta postura preguiçosa do funcionário público, que não brigaria para defender o patrimônio público. Nós mostramos que a coisa mudou, e quero reconhecer o trabalho e a postura de muitas pessoas, até antes desta gestão, que contribuíram para isso.

Revista – Segundo as projeções, a PREVI vai encerrar o ano de 2005 com patrimônio de mais ou menos R$ 82 bilhões. É um volume de recursos impressionante, que gera muita especulação, cobiça e até dúvidas. Ainda existem pessoas que acham que esse valor é irreal? O que o senhor diz disso?

Sérgio – O tamanho do patrimônio da PREVI é uma demonstração de sucesso da entidade. É o sucesso de uma idéia centenária, de um modelo de gestão compartilhado, da força do Banco e de seus funcionários. Esse patrimônio é real e muito concreto. Às vezes respondemos a dúvidas normais e bem formuladas sobre os critérios de contabilização e temos prazer em esclarecer cada vez mais os associados. Às vezes, no entanto, assistimos a alguns posicionamentos de má-fé, pessoas que fazem afirmações e colocam em dúvida a situação da PREVI sem nem ao menos terem feito o esforço de buscar um esclarecimento prévio. Posso dizer, com toda a tranqüilidade, que a contabilidade da PREVI reflete da melhor maneira possível o real valor dos seus ativos.

Na Parcela PREVI, o que se buscou foi uma alternativa viável...
Quanto mais a gente jogasse para a frente, mais retardaríamos qualquer solução em benefício dos associados
Revista – Em 2005, um dos grandes debates envolveu a Parcela PREVI. Parece que se chegou a uma solução, mas ainda assim há questionamentos. Foi uma boa solução para o associado?

Sérgio – Sempre existem opções para resolver certos problemas. Acho que, na Parcela PREVI, o que se buscou foi uma alternativa viável e que tivesse o apoio de todas as partes. Quanto mais a gente jogasse para a frente esse assunto, mais retardaríamos qualquer solução em benefício efetivo dos associados. Entendo que o acordo entre o Banco do Brasil e a Comissão de Empresa foi bastante equilibrado e razoável. Trouxe benefício direto para os associados e a PREVI continua tendo seu equilíbrio econômico-financeiro totalmente preservado. A negociação em torno do Fundo de Paridade também foi importante, uma vez que a questão estava na Justiça e poderia levar dez anos ou mais para uma solução definitiva.
Revista – Quando passará a valer a nova Parcela PREVI e serão revisados os benefícios?

Sérgio – Após a aprovação do acordo estão sendo tomadas as medidas formais para implementar a nova PP. É necessário tramitar o acordo pela Justiça, onde estão as ações do Fundo Paridade, e obter a aprovação da Secretaria de Previdência Complementar, mas acredito numa tramitação rápida para tudo isso, pois é do interesse de todos.

Revista – Com o superávit de 2005 poderão ser discutidas outras medidas para melhorar benefícios?

Sérgio – De fato, vamos atingir o terceiro ano de superávit e superar o percentual de 25% das reservas matemáticas. Acho que é um fato para comemorar e, a partir daí, refletir bastante sobre a melhor destinação dos recursos, de forma segura e cautelosa. Nós vamos levantar estudos técnicos, ouvir bastante, fazer simulações e construir alternativas maduras que atendam aos interesses de todos e preservem a saúde da PREVI.

Revista – Uma das medidas adotadas pela atual gestão foi a reformulação da Carim. Qual o balanço que se pode fazer dessa reestruturação? Foi bom para os mutuários? Foi bom para a PREVI?

Sérgio – Nos últimos anos, a principal fonte de reclamações junto à PREVI referia-se à Carim. A maior parte dos mutuários dizia que estava pagando prestações altas, que não conseguia amortizar os saldos devedores, que o valor da dívida aumentava mais que o valor do imóvel, e a inadimplência só crescia. O projeto Nova Carim resolveu a maior parte desses problemas. Milhares de contratos foram repactuados, as prestações, limitadas, os valores de saldo devedor foram ajustados, muitos contratos foram quitados antecipadamente e com desconto, inclusive com uso do FGTS. Tudo isso representou benefício direto para os mutuários e também para a PREVI, que recebeu recursos antecipadamente e passou a ter uma carteira mais equilibrada. A inadimplência foi interrompida e começamos a reduzi-la. O fato é que a Carim deixou de ser o maior motivo de reclamação e passamos agora para outra fase: o estudo para reabertura dos financiamentos.

Revista – No final de 2005, a PREVI lançou também a nova versão da Capec. Já dá para fazer um balanço?

Sérgio – Demoramos um pouquinho para apresentar uma solução que consideramos de longo prazo para a Capec. Demoramos porque procuramos ouvir muito, conversar com as entidades, fizemos pesquisa junto aos associados, pesquisamos o mercado e tudo mais. A Nova Capec foi apresentada em dezembro. Nos preparamos para receber as ligações, ouvir as dúvidas e as eventuais críticas dos associados. Acho que está acontecendo tudo dentro do previsto. É claro que muita gente não gostou dos aumentos dos prêmios. Mas as dúvidas estão sendo esclarecidas, a razão disso está sendo explicada. As pessoas estão entendendo que a Capec iria morrer se todo mundo pagasse a mesma coisa e os mais jovens fossem saindo por conta disso. Acho que agora a Capec ficou equilibrada para todos.

Revista – Vamos voltar para a questão dos investimentos. A PREVI tinha em sua carteira muitas empresas problemáticas, com desempenho ruim. O que foi feito para diminuir esses problemas?


Sérgio: Previ atingirá
seu terceiro superávit
consecutivo

Sérgio – Quando assumimos a gestão da PREVI dissemos que iríamos dar prioridade para recuperar as empresas e os investimentos que já estavam na carteira. A imprensa, especialmente, sempre insistiu em perguntar em que setores a PREVI iria investir e eu sempre disse que nós íamos investir muito pouco em novos empreendimentos, que iríamos dar prioridade para a recuperação das nossas empresas. Foi exatamente o que fizemos. Concentramos os esforços para recuperar investimentos semiperdidos. Em 2005, não foi diferente. A Brasil Ferrovias foi o maior desafio do ano, mas estamos vencendo. Transformamos um grande risco em algo de valor, apesar de muita gente ter apostado no contrário. A Paranapanema é outro exemplo. Está faltando muito pouco para superar definitivamente os problemas dessa empresa, que se arrastavam desde a origem, desde 1997.

Revista – O ano de 2005 foi marcado pelas CPIs. Em alguns momentos a PREVI esteve no centro das denúncias junto com outros fundos de pensão. Isso não foi desgastante?

Sérgio – Vamos olhar a coisa por outro lado. Nunca a PREVI foi tão investigada. Alguns parlamentares ficaram obcecados em investigar a PREVI. O TCU passou a investigar a PREVI. A imprensa lançou seus melhores repórteres para investigar os fundos de pensão, e a PREVI em particular. Um dos nossos grandes adversários contratou até a Kroll para investigar seus inimigos. Estamos com o sigilo bancário, fiscal e telefônico quebrados pela CPI. Tudo isso é desgastante? Claro que é. Mas o que é que encontraram depois de tudo isso? Nada, absolutamente nada. Todos os negócios da PREVI foram feitos dentro das regras e no melhor interesse dos associados. Todas as denúncias foram esclarecidas. Então eu diria que a PREVI está passando por sua maior prova de fogo e passando muito bem, não só pela prestação de contas, mas por que não paramos de fazer o que tínhamos que fazer em nenhum momento.

Revista – Mas a grande dúvida, o grande medo, é se o Governo não influenciou os negócios da PREVI. Muitas pessoas afirmam isso. Como foi a relação com o Governo em 2005 e no período recente?

Sérgio – Qual foi o negócio que o Governo obrigou os fundos ou a PREVI a fazer? Nenhum. Que tipo de problema o Governo criou para a gestão dos fundos? Nenhum. Esse Governo estabeleceu de forma muito correta sua relação com os fundos. Convidou os fundos a opinar sobre a legislação e sobre os investimentos, mas não impôs nada. Os fundos tiveram espaço e voz de acordo com a importância que têm na economia e foram respeitados em sua autonomia. O Governo resolveu a questão da tributação de forma definitiva. Esta foi uma grande vitória. 2005 foi o primeiro ano sem nenhum Imposto de Renda a pagar. Foram cerca de R$ 100 milhões de economia. Além disso, a política econômica do Governo favoreceu os fundos e ajudou muito no resultado que tivemos. Um exemplo foi a nova regulação do setor de energia, que ajudou a valorizar nossas empresas. Alguns parlamentares tentaram criar essa história de ingerência do Governo nos fundos, mas não há fato nenhum para sustentar a tese.

Nunca a PREVI foi tão investigada... A imprensa lançou seus melhores repórteres. Estamos com o sigilo bancário, fiscal e telefônico quebrados pela CPI. O que encontraram depois de tudo isso? Absolutamente nada

Revista – Em que medida a política econômica e as políticas setoriais ajudaram a PREVI? Há muito debate sobre a política econômica, como foi isso para a PREVI?

Sérgio – Eu diria que a PREVI favoreceu-se muito do desempenho da economia no último período. Nossos bons resultados decorreram não só de medidas da gestão, mas também do ambiente econômico favorável. Além disso, encontramos um espaço de diálogo importante. Com o BNDES, por exemplo, tivemos a chance de resolver problemas antigos e comuns, em que o banco era credor e nós éramos acionistas. A diminuição do risco Brasil, esse é outro exemplo, influenciou diretamente na valorização de algumas empresas, que passaram a ter acesso à captação de recursos em melhores condições e cujas ações passaram a ser mais atrativas para o investidor estrangeiro.

Revista – E as relações com o Banco do Brasil, enquanto patrocinador, e com os participantes em geral, como foi?

Sérgio – A tônica fundamental foi o respeito e o diálogo com todas as partes. Com o Banco tivemos uma relação muito direta, muito franca e respeitosa. Prestamos contas do que fizemos, mostramos que as coisas estão indo bem, buscamos o apoio para as iniciativas que precisamos tomar e sempre tivemos compreensão e apoio. O Banco foi parceiro não só como patrocinador, mas como sócio da PREVI em alguns casos. Com os participantes, também procuramos intensamente o diálogo e dar a maior transparência a tudo, discutir as questões mais importantes com antecedência, demos uma abertura muito grande para esse relacionamento. No caso da Capec, por exemplo, antes de levar o assunto para deliberação final, fizemos reuniões com as entidades representativas, pesquisa, ouvimos muitos associados e só então tomamos a decisão.