|nº 133| Jun 08

Nesta Edição » Responsabilidade Socioambiental - Investimento responsável

Investimento responsável

James Gifford, diretor executivo do PRI, defende a questão ambiental como agenda inevitável e diz que aderir aos princípios, além de ser ético e de criar condições de sustentabilidade no longo prazo, é também mais lucrativo

Lançado em abril de 2006, o PRI (Princípios para o Investimento Responsável, na sigla em inglês) é um acordo voluntário, idealizado pela ONU e firmado por investidores institucionais. A iniciativa visa a estimular práticas de respeito ao meio ambiente e responsabilidade social, incorporando variáveis ambientais, sociais e de governança corporativa em decisões de investimento. O objetivo é aperfeiçoar os retornos de longo prazo combinados com investimentos seguros e rentáveis.

Atualmente, o PRI conta com 21 signatários no Brasil e mais de 300 no mundo. Dentre os participantes no País estão os mais importantes fundos de pensão como Centrus, Funcef, Petros e Valia, além da PREVI, pioneira e integrante do grupo executivo, o board, do PRI. Os signatários do Programa são responsáveis pela gestão de mais de US$ 13 trilhões em investimentos, no mundo.

O diretor executivo do PRI, James Gifford, esteve no Brasil em maio e participou dos encontros com signatários do Acordo, realizados pela PREVI, no Rio de Janeiro, e pelo banco HSBC, em São Paulo. Leia os principais trechos da entrevista concedida à Revista PREVI.

Revista PREVI – Como surgiu seu interesse por investimentos responsáveis?
James Gifford – Em 2003, estava fazendo pesquisa para meu mestrado na Universidade de New South Wales, na Austrália, sobre novas maneiras de contribuir para investimentos socioambientalmente responsáveis. Concluí que fundos de pensão tinham o melhor perfil porque buscam investimentos sustentáveis e de longo prazo; terem cidadãos como membros; serem organizações sem fins lucrativos; precisarem agir no melhor interesse de seus participantes; e estarem muito mais alinhados com os interesses da sociedade que organizações com fins lucrativos. Com o tempo, porém, percebi que os mais interessados são os administradores de fundos e os investidores sociais. Hoje, 60% dos signatários do PRI são administradores de fundos.

Revista – Como o senhor vê o papel das empresas privadas nas questões socioambientais?
Gifford – As grandes corporações que lideram o mercado estão signifi cativamente na frente dos investidores em questões socioambientais e têm processos mais sofi sticados. De algum modo, quanto mais próximo da operação, mais clara torna-se a importância dessas questões.

Revista – E qual o papel dos consumidores?
Gifford – Não acredito que possamos confi ar exclusivamente nos consumidores para pressionar por mudanças. As organizações privadas são norteadas pelos investidores e é a complexidade da rede de diferentes agentes que pressiona a empresa e pode operar mudanças. Essa pressão vem de reguladores, consumidores, ONGs, investidores, inclusive os internos, os funcionários. Uma companhia não é algo monolítico, a Diretoria e o Conselho de Administração são os que exercem mais infl uência, mas não são os únicos com poder para operar mudanças. Seus membros têm que interagir com forças internas e externas.

Revista – Como o senhor espera ver o PRI daqui a cinco, dez anos?
Gifford – Hoje, um percentual relativamente pequeno do mercado adota investimento do tipo do PRI. Nesse prazo, eu gostaria de ver um terço do mercado global fazendo o que 5% fazem hoje. Nós realmente precisamos ver mais ação no que diz respeito a esse assunto.

Revista – Quais os principais obstáculos para que esse cenário se concretize?
Gifford – No curto prazo, acredito que sejam as análises financeiras. É preciso que os analistas levem em consideração as variáveis de meio ambiente, desenvolvimento social e governança corporativa nas análises de investimento. Mas isso exige mudança no status quo e leva tempo. Talvez a mudança dependa de renovação no meio acadêmico.

Revista – E quais são os fatores positivos?
Gifford – As questões socioambientais estão se tornando claramente importantes, é uma agenda inevitável.

Revista – Como o senhor vê as políticas governamentais nessa área?
Gifford – Cada país tem o governo que elege. Se a sociedade estiver preocupada com essa questão, o governo estará. O governo é um dos atores que podem infl uenciar a política socioambiental. Há outros com igual poder nesse processo, como a sociedade, os investidores, as ONGs, os empregados etc.

PREVI realiza o primeiro workshop latino-americano do PRI

A PREVI realizou o primeiro workshop latino-americano com signatários dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI). Realizado em maio, o evento reuniu 14 fundos de pensão e seis gestores de fundos para discutir as experiências mundiais e os desafi os para a implementação dos Princípios.

O workshop viabilizou a avaliação e acompanhamento de processos em andamento, divulgação de ferramentas de integração entre os representantes e orientação para os participantes. Durante o encontro, potenciais signatários foram convidados a conhecer a iniciativa.

Sérgio Rosa indicado para Conselho do PRI – O presidente Sérgio Rosa foi indicado para representar a PREVI no Conselho Gestor do PRI, que conta com 11 participantes de diferentes organizações signatárias, além de dois representantes das Nações Unidas. Ele substitui o ex-diretor de investimentos da PREVI, José Reinaldo Magalhães, cujo mandato encerrou-se em junho.