|nº 136| Set 08

Nesta Edição » Capa » Crise: maior, mais longa e mais complexa do que se imaginou
Os bancos, por sua vez, transformavam os créditos imobiliários em produtos financeiros complexos, como cotas de fundos, que eram negociados em Bolsa. Para fins de colocação em mercado, dividiam essas cotas e as agências especializadas as classifi cavam em três grupos, conforme o grau de risco desses créditos.
De modo simplificado, esse processo de agrupar as dívidas e transformá-las em papéis que são comprados e vendidos no mercado financeiro chama-se securitização. Por um lado, a securitização permite que os bancos emprestem mais dinheiro para financiamentos imobiliários e dilui o risco de cada hipoteca individualmente. Por outro, ela se tornou um canal, nesse caso, para espalhar os prejuízos por todo o setor e levar a bolha imobiliária a instituições financeiras, seguradoras e fundos de investimento mundo afora.
De acordo com o Boletim Visão do Desenvolvimento nº 44, elaborado pelo BNDES, depois de chegar a 8,2 milhões de residências comercializadas em 2005, as vendas caíram gradualmente. Os preços das casas começaram a ceder ao fi nal de 2006 e os juros, que vinham subindo desde 2004 para conter a infl ação, encareceram o crédito. Com isso, fi cou mais difícil renegociar uma hipoteca subprime. O imóvel já não era sufi ciente para garantir o empréstimo. E começou a onda de inadimplência, que adquiriu proporções cada vez maiores.
Em fevereiro de 2007, o HSBC nos EUA foi o primeiro banco a anunciar perdas. Em abril, uma das principais instituições de hipotecas subprime dos EUA, a New Century Financial, pediu concordata. Em junho, dois fundos de investimento do Banco Bear Stearns quebraram. Em julho do ano passado, outra gigante do setor, a Countrywide Financial, anunciou péssimos resultados. Em setembro, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a reduzir a taxa básica de juros para estimular a economia e tentar afastar os temores de uma recessão.
Em 2008, as notícias ruins continuaram. Em fevereiro, o Banco da Inglaterra nacionalizou o banco Northern Rock, em graves dificuldades. Em março, o segundo maior banco americano, JP Morgan, comprou o Bear Stearns, com apoio do Fed, para evitar o efeito dominó na quebradeira. Em julho, o Banco IndyMac, com forte atuação em hipotecas subprime, sofreu intervenção. Em setembro, duas grandes agências hipotecárias norte-americanas, Fannie Mae e Freddie Mac, foram nacionalizadas. E, finalmente, os episódios recentes do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimento dos EUA, da aquisição do Merril Lynch pelo Bank of America e da estatização da AIG.
Final de 2006
Preços dos imóveis nos EUA caem
Fev 2007
HSBC anuncia perdas
Abr 2007
New Century Financial pede concordata
Jun 2007
Fundos de investimento do Bear Stearns quebram
Jul 2007
Countrywide Financial anuncia péssimos resultados
Set 2007
Fed reduz taxa básica de juros nos EUA
Fev 2008
Inglaterra nacionaliza o banco Northern Rock
Mar 2008
Banco JP Morgan compra o Bear Stearns
Jul 2008
Banco IndyMac sofre intervenção
Set 2008
Agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac são nacionalizadas
Set 2008
Banco Lehman Brothers quebra
Set 2008
Bank of America compra o Merril Lynch
Set 2008
Seguradora AIG é estatizada
Set 2008
Governo americano tenta aprovar pacote de socorro aos bancos

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