|nº 140| Mai 09

Nesta Edição » Entrevista » Mais ferramentas para fazer escolhas

Revista – É difícil ter pensamento de longo prazo numa sociedade cada vez mais imediatista?

Vera – Sempre foi. Hoje ainda mais porque é valorizado o já, a juventude, a questão consumista. É muito difícil pensar no longo prazo e no contexto inteiro. Quando a bolsa estava “bombando”, as pessoas só pensavam “vou me dar bem para o resto da vida, não tem risco”. Quando virou, passaram a ter uma atitude inversa: “o mundo está desmoronando”. Há um movimento de manada tanto para subir como para descer. É uma visão parcial, fragmentada.

Revista – Aposentadoria é um projeto de vida. Fazer um planejamento desse tipo é mais difícil para os investidores mais jovens?

Vera – De um lado sim, porque está mais longe da aposentadoria. Mas o fato de a pessoa ter um emprego fixo é um facilitador, porque é mais difícil para um autônomo ter um projeto de previdência. No caso da PREVI, já há um apoio da instituição, você não tem de ir atrás, é só mostrar com mais clareza os benefícios no longo prazo.

Revista – A crise tem um lado didático, lembra que investimentos podem trazer perdas. Isso é importante?

Vera – A gente só realiza as coisas dentro da “realidade”. Pode sonhar, ter desejos, tudo é importante, mas só realiza no plano real. A situação econômica anterior não era sustentável e eu já mostrava isso há dois anos porque autores como o (Paul) Krugman já falavam.

Revista – Como lidar com as emoções nesse sobe-e-desce dos investimentos?

Vera – Os especialistas em Finanças Comportamentais costumam dizer algumas coisas que as pessoas não querem ouvir, como “deixa o investimento quieto”, não fica olhando no dia-a-dia. Tem gente que fala para olhar apenas uma vez por ano, para não ficar com tentação de achar que é um gênio das finanças e o único que vai ganhar se mexer daqui para lá. Uma vez por ano é exagerado, mas as pessoas devem ter a disciplina de fazer a contribuição mensal e não ficarem o tempo todo olhando para os investimentos.

Revista – Quais as informações necessárias na hora de aplicar ou escolher um perfil de investimento?

Vera – Informações concretas sobre o mercado financeiro e de qualidade. A dica do vizinho pode não ser relevante. Por outro lado, as informações sobre o próprio comportamento, como são tomadas as decisões, são importantes. Quanto mais a pessoa se conhecer, mais interessantes são suas ferramentas para escolher. Por exemplo, quando se está triste, tende-se a escolher qualquer coisa. Se estiver alegre, a ser mais otimista. É importante que a pessoa troque informações com a família, converse com consultores. E quanto mais sossegado estiver, maior a chance de escolher bem.

Revista – Como na vida, os investidores também podem “amadurecer”?

Vera – Essa é a pergunta que me faço desde o mestrado, quando estudei inflação. Talvez um pouquinho. Na crise agora, aconteceu uma coisa com a bolsa de valores. Os investidores aqui não ficaram tão em pânico. Saíram mais dos fundos, mas nem tanto das ações. É possível que isso seja fruto de todas as campanhas de popularização da própria bolsa, de divulgação de matérias em nossa área, de psicologia econômica, iniciativas de levar informações sobre o mercado para os investidores. Podem ter se sentido um pouco mais seguros.

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