|nº 140| Mai 09

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Mais ferramentas para fazer escolhas

A psicanalista e psicóloga Vera Ferreira fala sobre a importância do autoconhecimento na hora de investir

É preciso vencer a tendência de agir com a emoção na tomada de decisões em relação a investimentos. Ter informações confiáveis, conhecer a si mesmo e traçar objetivos para a aposentadoria são fatores essenciais na escolha de como investir. Veja abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva concedida à Revista PREVI por Vera Rita de Mello Ferreira, representante no Brasil da Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica.

Revista PREVI – A senhora, em livros, diz que é praticamente impossível tomar decisões puramente guiadas pela razão. Elas vão da euforia à depressão. Como fugir dessas armadilhas e ser mais racional?

Vera Rita de Mello Ferreira – É bom entender um pouco sobre quando falo das emoções estarem indissociadas da razão. O nosso funcionamento mental vem evoluindo desde o início da espécie humana e até há algumas dezenas de milhares de anos o que dominava era a parte do cérebro que processa as emoções. A tomada de decisão era quase instintiva. Se vejo um perigo, corro dele. Alguma coisa me agrada, corro em direção a ela. Essa sinalização em termos de prazer e sofrimento é o que nos guia desde quando viemos dos macacos. Os macacos não têm a parte do lóbulo frontal, onde é processada a razão. Esse nosso mecanismo é mais recente e mais frágil. A gente tem de vencer a tendência a funcionar com a parte emocional para colocar em ação o circuito racional, mas não tem como deixar a emoção de lado.

Revista – Os jovens, atualmente, estão mais preparados para os investimentos?

Vera – Começam a estar. Para a minha geração, com mais de 50 anos, não existia isso, a gente era hippie, então era até feio pensar em dinheiro. Culturalmente, as coisas foram mudando a partir dos anos 80 e virou moda falar em dinheiro, as pessoas perderam até um pouco do pudor, mas agora está mudando de novo por causa da crise. O lado bom de falar sobre dinheiro é que as pessoas ficaram mais conscientes sobre a necessidade de planejar, além do fato de não ter mais inflação alta desde 1994. Com a estabilidade e mais longevidade, as pessoas começam a ficar um pouco mais ligadas, mas ainda é insuficiente.

Revista – Na hora de tomar decisão sobre investimentos, o que é mais importante levar em consideração?

Vera – Tem de pensar em seu próprio caso, idade, perspectivas para a aposentadoria... Tem gente que pensa em se aposentar aos 65 para abrir um novo negócio, outros querem morar na praia. A pessoa tem de conhecer o máximo possível suas pretensões e entender como está sua situação atual financeira, familiar, pessoal, profissional para tentar casar o que pretende com o que tem condições de fazer. O que todo mundo tem é aversão a perder, não a se arriscar. Em situações determinadas, mesmo o mais conservador é capaz de correr muitos riscos. Por exemplo, se está perdendo ou quando perdeu e está inconformado. Fica tomado pelo desconforto e quer virar o jogo e correr risco, como uma pessoa que perde num cassino.

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