|nº 141| Jun 09

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Intercâmbio entre gerações

O aumento da longevidade da população brasileira já proporciona e continuará estimulando a convivência e as transferências entre as gerações, desde o mais idoso ao mais jovem. Como resultado, cresce o intercâmbio de valores, expectativas e experiências vividas, segundo Fernando Albuquerque, gerente do Projeto Componentes da Dinâmica Demográfica, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e professor de demografi a da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (veja sua análise sobre o comportamento demográfico na próxima página). Também para Agostinho Both, os jovens dos anos 60 e 70, que romperam com o comportamento padrão da época de submissão aos adultos, envelheceram e também não aceitaram o papel até então reservado aos mais idosos.

Um dos exemplos dessa mudança de papéis na sociedade é Casimiro Correia Nunes, de 57 anos, dos quais 37 deles no BB. “Desde que me aposentei, em setembro de 2007, não passei uma tarde em casa. Olha que tenho bons motivos, meu sofá é bem confortável, e tenho uma ótima televisão”, diz. Em lugar de botar o pijama, Casimiro tornouse uma figura vital para pelo menos 70 crianças de um bairro carente de Joinville, onde montou uma escola. Ele conta que ao longo da vida sempre procurou ajudar quem precisasse. Tinha como projeto vender tudo o que conquistou e, após a aposentaria, mudar-se para o interior do Nordeste e dedicar-se a uma comunidade local. Porém, percebeu que não precisava ir tão longe.

A cerca de 20 quilômetros de sua casa, conheceu o Jardim Paraíso. Apesar do nome, um bairro perigoso e carente. Começou com o trabalho de alfabetização de adultos que a esposa já fazia. Aí, percebeu que era necessário fazer algo pelos filhos daqueles adultos. Então foi alugada uma casinha de madeira e criada a sede do Grupo de Assistência Social Paraíso (Gasp), uma sociedade civil voltada à assistência social. Mais tarde, a prefeitura doou um terreno onde foi montada a escola, com duas salas de aula, um refeitório e um “escovatório” de dentes, em que são atendidas crianças entre 3 e 6 anos. Há duas merendeiras, três professores e um assistente pedagógico, todos da própria comunidade. As crianças além das refeições recebem material escolar, uniformes, calçados e tratamentos dentários.

“Prefiro usar meu tempo na busca de apoio ao Gasp, atrás das documentações exigidas pela Secretaria de Educação, além de fazer todo o trabalho burocrático e contábil de lá. Também estou empenhado em transformá-la numa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para ter direito a verbas federais. Como sou jipeiro, também não parei nas últimas enchentes, levando enfermeiros e alimentos nas áreas de difícil acesso daqui de Santa Catarina. Ainda pretendo instigar meus colegas da AABB a arregaçarem as mangas porque tem muita coisa a ser feita. Se estão cansados do trabalho burocrático, podem contar histórias para as crianças”, avisa Nunes, que recebeu dois prêmios como exemplo de trabalho voluntário indicados pelo Sesc.

Casimiro, Eduardo e Carlos são apenas alguns exemplos dessa nova realidade vivida por pessoas que chegam à idade da aposentadoria joviais e com muita disposição. Mas não é preciso ter grandes projetos ou mudanças radicais para “rejuvenescer”. Simplesmente ter mais tempo disponível para dedicar-se aos afetos (cônjuges, pais, filhos, netos), aos estudos ou aos hobbies já é uma forma de viver melhor no período cada vez mais longo da pós-aposentadoria. Eduardo Valente, por exemplo, lembra que a perspectiva de se desligar do Banco era um tanto aterradora. “O segredo é ter um novo objetivo na vida. Provavelmente se eu tivesse me aposentado em 2001 e vestido o pijama, hoje não estaria dando entrevista. No site que mantenho, tento mostrar para outros aposentados que é perfeitamente possível conhecer novos lugares e novas culturas. Meu pai está com 82 anos e ainda viaja bastante, dirigindo seu próprio carro”, diz. E a vida continua.

BRASIL – Participação (%) dos grandes grupos populacionais na população total 1940/2050
Grandes Grupos Participações relativas (%)
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2020 2050
0 a 14 anos 42.6 41.8 42.7 42.1 38.2 34.7 29.6 25.6 20.1 13.1
15 a 64 anos 55.0 55.7 54.6 54.8 57.7 60.4 64.5 67.6 70.7 64.1
65 anos e + 2.4 2.4 2.7 3.1 4.0 4.8 5.9 6.8 9.2 22.7
Total 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0
Fonte: Censos Demográficos 1940/2000. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 1980/2050. Revisão 2008.

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