|nº 114| Maio 06

Nesta Edição » Entrevista - José Bernardo Medeiros
Dever cumprido
José Bernardo de Medeiros Neto: mandato de 4 anos

O presidente do Conselho Fiscal da PREVI fala, nesta entrevista, sobre os desafios enfrentados em seu mandato, que termina neste ano

Quando assumiu vaga no Conselho Fiscal da PREVI, José Bernardo de Medeiros Neto, encontrou uma entidade com déficit de cerca de R$ 10 bilhões. Sai, agora, com mais de R$ 20 bilhões de superávit. Nesta entrevista à Revista PREVI conta quais foram os principais desafios enfrentados. “Saio com o sentimento de ter cumprido a missão que recebi dos participantes da PREVI na eleição de 2002. Houve momentos de aflição e de estresse, mas também momentos de satisfação e de alegria”, diz.

Revista PREVI – Como se sente ao término de seu mandato?

José Bernardo de Medeiros Neto – Aliviado e com a sensação de dever cumprido. Esforcei-me para desempenhar meu mandato de quatro anos com eficiência e dedicação e, dessa forma, contribuir para a melhoria da governança corporativa da PREVI.

Revista – Foi difícil o desempenho da missão de conselheiro fiscal da PREVI?

Medeiros – Antes de assumir, me afirmaram que era fácil. Falaram que o trabalho era pouco; que havia a auditoria interna e externa; que havia a fiscalização do Banco do Brasil na qualidade de patrocinador; além disso, existiam a Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e o Tribunal de Contas da União. Sobrava pouco para o Conselho Fiscal examinar. Ledo engano. O trabalho é imenso, complexo e pleno de responsabilidades, exigindo sacrifício e coragem dos conselheiros, que podem ser punidos pessoalmente pela SPC.

Revista – Quais as principais questões e matérias que o senhor examinou como conselheiro fiscal?

Medeiros – Destaco a questão do IGP-DI, quando apresentei voto consubstanciado pelo pagamento integral, divergindo do posicionamento da Diretoria na época. A sugestão para a criação do Compliance. A reestruturação da assessoria jurídica. A questão do pagamento do imposto de renda em 2002. O aperfeiçoamento contábil. O acompanhamento dos investimentos especiais e anormais. A inadimplência na Carim. O parecer sobre os estatutos e a participação do corpo social. O relatório sobre os controles internos e os enquadramentos. A invalidade jurídica dos atos do interventor com relação ao Fundo Paridade e sua inegociabilidade por se tratar de ato nulo. E tantas outras.

Revista – E quanto aos investimentos?

Medeiros – Todos os investimentos com anormalidades foram acompanhados de perto. Ultimamente tenho dedicado especial atenção ao Complexo Hoteleiro de Sauípe, à Brasil Ferrovias e ao Opportunity. Procurei visitar a maioria dos investimentos problemáticos para sentir localmente a realidade. E isso foi muito positivo.

Revista – Nesses dois anos como presidente do Conselho (entre 2004 e 2006), o que destacaria?

Medeiros – Estabeleci algumas prioridades e diretrizes para minha gestão, entre as quais uma posição mais aberta e transparente perante os associados, sempre que possível, sem violar os deveres de sigilo e de confidencialidade. Privilegiei mais corrigir os processos errados do que punir os procedimentos das pessoas, dando um enfoque somente técnico na análise dos problemas identificados, com o objetivo exclusivo de sugerir providências saneadoras. Venho insistindo na necessidade de implantação imediata de uma Ouvidoria na PREVI e que o Conselho Fiscal disponha de uma assessoria técnica adequada ao volume e complexidade atual de seus trabalhos.
Procurei estabelecer uma agenda de trabalho, analisar assuntos e áreas que nunca tinham passado pelo crivo do Conselho Fiscal. Busquei uma integração permanente com a auditoria interna e externa, bem como com a auditoria do patrocinador Banco do Brasil. Procurei criar um clima de harmonia e de plena independência nas reuniões do Conselho. Esforcei-me por fortalecer o órgão no ambiente corporativo da PREVI, mantê-lo atuante e voltado somente à sua missão de fiscalizar e cuidar dos controles internos. Portanto, sem interferir na gestão administrativa e com total alheamento de ingerências políticas ou partidárias no trabalho.

Revista – O ano de 2005 foi pleno de denúncias na imprensa contra a PREVI e os fundos de pensão. Como isso afetou sua gestão?

Medeiros – Provocou mais volume de trabalho e, naturalmente, certa apreensão. Foi um ano difícil. O ex-presidente do Conselho Deliberativo da PREVI esteve envolvido nos acontecimentos do Valerioduto e renunciou. Aconteceu a denúncia do conselheiro deliberativo Valmir Camillo na questão do Opportunity e Brasil Ferrovias. Houve a publicação na imprensa de mau uso dos cartões corporativos. A SPC, pela primeira vez, solicitou esclarecimentos do Conselho Fiscal, bem como providências. A imprensa me procurou e atormentou bastante. Enfim, foi um ano que demorou a passar e que não me deixou saudades. Entretanto, creio que atravessamos o temporal com saldo positivo e o resultado favorável serve como atestado de que o rigor e as medidas adotadas pelo Conselho Fiscal foram salutares para a Instituição.
Estabeleci prioridades e diretrizes para minha gestão, entre as quais uma posição mais aberta e transparente

Revista – Qual sua impressão sobre os quatro anos que passou na PREVI como conselheiro fiscal?

Medeiros – Como disse inicialmente, saio com o sentimento de ter cumprido a missão que recebi dos participantes da PREVI na eleição de 2002. Houve momentos de aflição e de estresse, mas também momentos de satisfação e de alegria. Acho que dei sorte, pois iniciei meu mandato com uma PREVI deficitária em quase R$ 10 bilhões e saio com quase R$ 20 bilhões de superávit. Contribuí tapando vários ralos e vazamentos e procurando imprimir o máximo rigor na análise dos investimentos. Levo a melhor impressão dos funcionários da PREVI com que trabalhei nesses quatro anos, pela sua capacitação técnica e por vestirem a camisa da Instituição. Agradeço aos diretores pela atenção recebida no exercício do meu mandato.

Revista – Uma mensagem final?

Medeiros – Sem dúvida. Aos meus prezados companheiros do Conselho Fiscal, especialmente ao meu estimado suplente, Luiz Carlos Teixeira, a minha mais sincera manifestação de apreço e de admiração pelo trabalho desenvolvido, com independência, competência e zelo, além da convivência fraterna e amiga que tivemos. Aos funcionários que prestaram apoio administrativo ao Conselho Fiscal, com destaque especial para a Denise e a Mara, que me auxiliaram ultimamente a organizar as reuniões, também o meu reconhecimento. E aos participantes da PREVI, da ativa, aposentados e pensionistas, bem como suas entidades representativas, em especial a AFABB-RS, a ANABB e a AAFBB, meu agradecimento pela confiança em mim depositada e a certeza de que unidos continuaremos a conduzir a centenária PREVI para um futuro que todos desejamos, de solidez e segurança para o patrimônio conquistado com tanto sacrifício e labor.