|nº 114| Maio 06

Nesta Edição » Perfil - A poesia de Tarciso
A poesia no meio do caminho
Tarciso recita uma de suas poesias na inauguração da agência Rio Branco/AC
As idas-e-vindas pelo Brasil, em sua carreira no BB, são contadas em versos por Tarciso, poeta e ex-auditor

A história de Luiz Tarciso Bezerra contada em verso
é parecida com a de muitos funcionários do Banco do Brasil.
Aprendiz de poeta, como prefere dizer, com inspiração em Carlos Drummond de Andrade e Patativa do Assaré, escreve desde criança e não parou com a lida em sua trajetória profissional, em que percorreu o país trabalhando em diversas funções e diferentes lugares no Banco do Brasil.
Minha Aposentadoria

Vou embora pro meu Ceará
Porque lá tenho um nome
Não sou Luiz com fome
E aqui não posso ficar

Foram vinte e oito anos
De trabalho no Banco
Agüentando firme no tranco
Como previam meus planos

A ambição era ser gerente da agência central de Fortaleza, cidade natal, mas, em seus 28 anos de carreira, seja como gerente seja como auditor, Tarciso trabalhou em cidades em todo o país. “O cearense tem mania de sair para um dia voltar, e eu não era diferente”, conta. “Tanto que quando dois conterrâneos se encontram, a conversa é sobre quando saiu, se foi cedo, se foi tarde. Mas tem sempre a pergunta sobre quando volta”, diverte-se.

Depois de tantos lugares diferentes, o plano de voltar à terra natal estava ligado à aposentadoria. Que só aconteceu em julho de 2004, antecipada pela PREVI, já que não reunia ainda os requisitos necessários pelo INSS. O motivo foi a possibilidade de ficar mais perto da mãe e da sogra, uma no Crato (região sul do sertão do Ceará) e a outra na ilha de Marajó (no Pará). As localidades de acesso restrito tornavam qualquer visita muito dispendiosa, já que ir com a família para um dos locais significava gastar quase todas as economias do ano. A aposentaria com a volta para Fortaleza pareceu a melhor opção. Mas acabou sendo adiada, mais uma vez, pelo destino, quando ao sair do BB passou num concurso do Banco da Amazônia e foi trabalhar em Soure (PA). O mesmo destino que já o mandara para um número de cidades quase do tamanho do mapa do Brasil.

Foram muitas as cidades por onde passou. Juazeiro do Norte (CE), Salgueiro (PE), Belém (PA), Recife (PE), Manaus (AM), São Luís (MA), São Vicente Férrer (PE), Manicoré (AM), Wanderley (BA), Picos (PI), Rio Branco (AC) e Manicoré (AM). “No poema não falei de todas as cidades porque não coube, não entrava na rima”, lamenta-se. Dentro de uma agência, “fui tudo que uma pessoa pode ser”, posto efetivo, passando a caixa, supervisor, gerente adjunto, gerente e auditor.
Esta história teve começo
No Sertão Pernambucano
Setenta e seis era o ano
Até o dia não esqueço

Foi em trinta de dezembro
Tomei posse em Salgueiro
E não houve desespero
Isso é coisa que não lembro
Depois fui pra Juazeiro,
Parnamirim, Piancó
E nunca me senti só
Em dezembro ou janeiro

Manicoré me abraçou
Na nossa grande Amazônia
Pois digo sem parcimônia
Quem passou ali gostou
Em todas as viagens, a família ia junto. Casou-se duas vezes, com dois filhos em cada, dois homens no primeiro e um casal no segundo. O primeiro casamento acabou, coincidentemente, quando Tarciso começou a trabalhar na Audit, em 1992. Curiosamente, entre as colegas de trabalho é que conheceu a atual esposa, de Belém.

Viver perto da Amazônia é hoje uma opção de Tarciso, mas foi plantada anos antes. Começou em Manicoré, no Amazonas, como gerente. “Ali, tudo é muito; muita beleza, muita água, muito ouro, muita fartura. Admiro pela grandeza.”

Picos e Rio Branco
As duas últimas paradas
Talvez melhores estadas
Das que tive no meu Banco
A volta para lá é mais complicada. Como a aposentadoria não veio pelo INSS, ele tinha planos de voltar a trabalhar, talvez até prestar um novo concurso no BB. “Aposentei-me em julho e, quando foi setembro, vi que não ia dar certo ficar sem fazer nada”, conta. Para quem pensa que o plano de permanecer na terra natal foi abandonado, Tarciso avisa: “Eu ainda volto de novo para o meu Ceará, meu apartamento está fechado, guardado direitinho”.

Em Picos, no Piauí, é que a poesia de Tarciso ganhou projeção. Não porque tenha produzido mais que em outras fases, mas foi quando ganhou coragem para reunir os escritos e publicá-los, sob o título Liberdade. Desde criança escrevia, “para uma namorada, para uma serra, uma fonte de água... Para os amores e para a natureza”. Um dia, recitou um poema para um colega, que lhe falou sobre a União Picuense de Escritores, que reunia os versados em artes da cidade. Pronto. Foi o incentivo que faltava para divulgar os versos. “Imprimi mil livrinhos de poesia e virei escritor”, orgulha-se. O título Liberdade, segundo o autor, é o que ele buscava ao escrever, fugir das regras predefinidas, ter liberdade para amar, viajar, filosofar. Depois da publicação, a produção triplicou, e ele mantém hoje um site e um blog na internet.

A poesia é uma paixão, mas o trabalho também foi fonte de realização pessoal. Por isso, ao ser promovido a auditor, passou a buscar um postura diferente, de quem aprendeu que as críticas ajudam a melhorar. “Eu procurava ser mais motivador que “policiador”. O comportamento lhe permitiu conquistar muitos amigos pelas agências por onde passou. “No tempo de auditor, passei por 142 dependências do Banco e saí bem.”

De todos os locais por onde passou, Tarciso diz não tem dúvida do que foi o melhor da história: “O povo é bom. Tem muito de brasilidade em tudo o que vi. Sempre gostei muito de gente. Se você for ver, o trabalho no Banco, principalmente como gerente de agência, é o dia todo em contato com gente”.

Não pisei subordinado
Nem puxei saco de Chefe
Pois não sou um mequetrefe
Tenho muito é trabalhado

Hoje estou realizado
Com a missão cumprida
E mais uma vez de ida
Para o meu solo prezado
(...)

Aos colegas meu abraço
Aos clientes agradecimento
Pois não há esquecimento
Na lembrança sempre trago

Quem te ama de bom grado
Por tudo que me destes
Diz feliz um cabra da peste
Banco do Brasil muito obrigado!