|no 130| Março 08

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Mulheres na PREVI
Dia Internacional da Mulher é oportunidade para homenagear todas as associadas

Rebeka Barion tem 26 anos, três anos de carreira no Banco do Brasil, e optou pelo PREVI Futuro em fevereiro. Angélica Mancini tem 95 anos, trabalhou por 36 anos no ambulatório do BB em São Paulo, e já conta 30 anos de aposentadoria. Rebeka pensa no futuro com independência, e levou certo tempo para se tornar participante da PREVI porque tinha dúvidas quanto ao seu rumo profissional. Não sabia se queria ficar no BB. Angélica conta que na época em que trabalhava no ambulatório, as mulheres tinham de batalhar a autorização do pai ou do marido para começar a trabalhar.

São gerações distantes, mas conectadas pela história das conquistas femininas no mercado de trabalho. O horizonte profissional das amigas de Angélica se obliterava logo ali, dentro de casa, na figura do pai ou do marido. Mas o horizonte de Rebeka, embora mais generoso, ainda está calcado sobre conquistas muito recentes, que precisam ser renovadas no dia-a-dia.

Quem está no Banco do Brasil há pouco mais de 20 anos ainda se lembra das votações que aprovaram o direito das mulheres de incluir seus maridos como beneficiários da Cassi. Isso ocorreu em 1987, logo ali. esse direito tão importante das mulheres do Banco do Brasil é contemporâneo daquelas bandas de rock brasileiro, que tanto sucesso fizeram nas rádios e ainda soam tão atuais.

Garantia do futuro

O número de mulheres é pouco menos da metade do de homens, no Plano 1 – 12 mil, contra cerca de 25 mil. No PREVI Futuro, a proporção é mais equilibrada: são quase 26 mil homens e 18,5 mil mulheres. Mas a quantidade anual de adesões femininas ao PREVI Futuro é, hoje, 9% maior que a de homens.

Parece ser um indicativo de que as mulheres estão pensando mais no valor do amanhã. “eu já tinha de ter me inscrito há mais tempo”, conta Rebeka. “Acho que com pequenos descontos agora, fazemos um grande investimento para o futuro”, diz uma das mais recentes gerentes de núcleo do BB, lotada na agência de Sapopemba, na Grande São Paulo.

Em 1998, ano da criação do PREVI Futuro, 892 mulheres escolheram o Plano como forma de planejar sua aposentadoria. Em 2007, esse número saltou para 3.318. Não deixa de ser um pequeno recorte local de grandes mudanças sociais e econômicas que levaram as mulheres para a disputa de um lugar ao sol, praticamente em pé de igualdade com os homens, no árido mercado de trabalho.

A cada ano, mais mulheres se aposentam pelo Banco e começam a desfrutar da aposentadoria paga pela PREVI. No final de 2007, já eram mais de 21 mil, o equivalente a 31% do total de aposentados pelo Plano 1 e PREVI Futuro. em comparação a dezembro de 2006, representa um aumento de 9,64%.

Mais conquistas

As dificuldades sempre foram grandes para a mulher, mas, após a promulgação da Constituição de 1988, foram conquistados espaços maiores. Atenta à igualdade de gêneros, a PREVI seguiu a reforma. O ano de 1997 foi um marco para a conquista feminina. Há apenas 11 anos, com a mudança do estatuto, foi garantido o direito de incluir o marido ou companheiro como beneficiários. Antes disso, pagavam o mesmo que os homens, mas não podiam deixar pensão aos cônjuges. Atualmente, são mais de 46 mil dependentes cadastrados com faixa etária acima de 24 anos.

Com a evolução dos costumes, é impensável que as mulheres não tenham igualdade de direitos em relação aos homens. Mas o que felizmente hoje é realidade, no passado estava fora de cogitação. Graças à adequação do Regulamento realizada em 2007, hoje duas mulheres recebem pensão porque foram incluídas como companheiras por participantes do mesmo sexo.

“Somente a partir da década de 70 o Banco do Brasil passa a admitir trabalhadoras mulheres. Até então, o que havia eram poucas “gatas pingadas” contratadas para trabalhar em determinados setores daquele universo masculino. Hoje, somos gerentes, superintendentes, presidentes, mas não podemos perder de vista o esforço e o tempo consumidos nestas conquistas e continuar firmes. Há de chegar a hora da igualdade”, afirma a presidente do Conselho Fiscal da PREVI, Paulina Pasquina Benedetti Terra.

Os valores das aposentadorias recebidos pelas mulheres gira em torno dos R$ 4.400, conforme dados de dezembro de 2007. Diferença expressiva quando comparada à média da aposentadoria para participante do sexo masculino, de aproximadamente R$ 7.500.

A evolução do número de mulheres participantes mostra que há um processo de mudança no perfil da mulher no mercado de trabalho. Os números evidenciam crescimento significativo na atuação feminina, embora estejam ainda distantes da equiparação aos homens não só em números, mas na igualdade de cargos e salários.

“A mulher vem conquistando espaço, mas ainda de forma tímida. Ainda existe um longo caminho pela frente que deve ser buscado com firmeza e determinação, sem que se perca a feminilidade. As mulheres têm provado sua qualificação e competência quando surgem oportunidades, porém infelizmente ainda somos poucas a ocupar postos de comando. Geralmente, ficamos responsáveis por carregar o piano, com a responsabilidade adicional de deixá-lo limpo e brilhante”, afirma a diretora de Planejamento da PREVI, Cecília Garcez.

Rebeka Rodrigues Barion concorda: “As mulheres estão conquistando seu espaço, porém os cargos de alto escalão pertencem ainda aos homens”. Rebeka entrou no BB em busca da independência financeira, oportunidade de ascensão profissional e pela mobilidade para trabalhar em qualquer lugar do Brasil. Ocupando outro lugar na linha do tempo, Angélica Mancini tem opinião similar: “hoje em dia as mulheres ocupam cargos mais altos, se especializam. A mulher tem mesmo que trabalhar. Tem que ser independente”, diz, com saudade e orgulho da trajetória profissional. Hoje com quase 95 anos, a enfermeira se atualiza com as publicações que recebe da PREVI e do Banco do Brasil, na casa em São Paulo, onde mora com a irmã.

POESIA FÊMEA

Elisa Lucinda é poeta, escritora, compositora, atriz de televisão, teatro, cinema e ganhadora de vários prêmios. Nascida em Vitória (ES), vive no Rio de Janeiro desde 1986. Descreve a mulher guerreira, sensual, feminina, mãe. Publicou “O aviso da lua que menstrua”, “Sósias dos sonhos”, “Os Semelhantes”, dentre outros livros. Por tão bem retratar a mulher contemporânea, a PREVI pediu e a poeta gentilmente cedeu este poema para homenagear as participantes.

ESCOLHA
de Elisa Lucinda

Eu te amo como um colibri resistente
incansável beija-flor que sou
batedora renitente de asas
viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto.
Pingas na minha boca umas gotas poucas
do que nem é uma vacina.
Eu uma mulher, uma ave, uma menina
Assim chacinas o meu tempo de eremita:
quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias.
Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto
Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias
eu te amo.
De todos os nossos montes
fico com as encostas
De todas as nossas indagações
fico com as respostas
De todas as nossas destilarias
fico com as alegrias
De todos os nossos natais
fico com as bonecas
De todos os nossos cardumes
as moquecas.