|nº 131| Abr 08

Nesta Edição » Social » Gerações na PREVI

Gerações na PREVI

A história da PREVI confunde-se em muitos momentos com a da família Lacerda, com mais de 30 integrantes dentre funcionários do BB e aposentados

Em 16 de abril de 2008, a PREVI completou 104 anos. E boa parte dessa história pode ser contada pela família Lacerda. A determinação e o sucesso de pioneiros serviu de exemplo para o empenho e o comprometimento de futuras gerações. Assim foi – e é – com a família Lacerda, cuja história ilustra a Revista. Assim foi – e é – com a PREVI, que nasceu pela determinação de 52 funcionários em 1904 e, atravessando séculos, hoje conta com cerca de 170 mil participantes. Muitos Lacerda, inclusive.

Uma longa história
Desde 1929, com a entrada de seu Hermínio, 31 membros da família ingressaram no Banco do Brasil. E ainda há quem conte os dias para integrar essa lista. É o caso de Jane Lacerda Braz, de 26 anos, que já passou em dois concursos e aguarda convocação.
Quem conta essa saga familiar, e sua própria história, é “seu” Jacyr de Lacerda, que, aos 91 anos, fez levantamento e um texto contando toda a trajetória (veja a relação completa dos familiares no box). Ele lembra que o pioneiro foi Hermínio Cândido da Silveira, contratado em fevereiro de 1929, como servente, na agência 1º de Março, no centro do Rio de Janeiro. Silveira era sobrinho do marceneiro Antonio Lacerda, pai de seu Jacyr.
A família vivia sérias dificuldades financeiras na cidade de Cataguazes, em Minas Gerais, quando o primo, entusiasmado com seu emprego, aconselhou o patriarca da família Lacerda a tentar a vida no Rio de Janeiro. Em 1932, levou a esposa e os oito filhos, quase todos menores de idade, à então capital brasileira.
Tempos depois, Lacerda montou uma mini-oficina de marcenaria no porão da casa alugada, próxima ao Morro do Pinto, e passou a fabricar e fornecer móveis ao BB. À medida que as encomendas foram aumentando, Lacerda foi convidado a trabalhar como marceneiro no Banco. Mais tarde, também entraram para o Banco o primo, o filho, a filha, o genro, a nora, a neta... Enfim, de lá para cá, já são quase quatro gerações de empregados no BB, considerando a situação de Jane, aprovada em setembro de 2007, em concurso do Banco realizado no Estado do Rio de Janeiro. “Abro o site do BB para pesquisar a lista dos convocados diariamente. Estou na maior expectativa. Sou formada em Letras, dou aulas de inglês. Porém, é uma área complicada para fazer carreira. Acredito que no Banco não vou estacionar. Terei chance de crescer”, diz a professora, que vive em Angra dos Reis.
Para ela, a história de sua família é um forte estímulo para trocar as letras pelos números. “Minha grande inspiração foi meu avô (Paulo Lacerda). Ele começou lavando banheiro, fez duas faculdades, viajou o mundo e até hoje vive bem. Ele sempre contava que começou de baixo, ralou muito e tudo o que conquistou foi por meio de muita dedicação. Depois, minha mãe entrou para o Banco. Agora é minha vez”, diz Jane.

O quinto integrante
Voltando ao início da saga da família Lacerda, seu Jacyr relembra que foi o quinto integrante da família a entrar no BB. Garantiu sua vaga em 1936. Antes disso, ele costumava visitar o primo Hermínio no trabalho e pensava no dia em que trabalharia ali.
Em Porto Alegre, para onde mudou e casou, passou no concurso para escriturário. Seu Jacyr, que gosta de escrever poesia e tocar gaita, também traz em sua memória, ainda lá do Rio Grande do Sul, cenas do incêndio num elevador do Banco, que ajudou a apagar em meio a uma enchente, em 1941, quando a água atingiu cerca de metro e meio de altura. “Quando eu digo que teve incêndio em meio à enchente ninguém acredita, mas é verdade. Acho que deu curto-circuito. Sofri queimaduras de 1º e 2º graus. Sei que recebemos uma carta da presidência do Banco cumprimentando-nos pela dedicação”, descreve.
De volta ao Rio, o bancário, a esposa e as filhas foram viver no subúrbio de Cascadura. Depois, mudaram-se para a Tijuca. Após alguns anos, vendeu o imóvel e, com financiamento da PREVI, adquiriu uma nova casa no mesmo bairro, onde viveu por aproximadamente 15 anos.
Entre as muitas histórias que seu Jacyr gosta de contar, está a de sua participação, em 1945, nas ações da Comissão de Ajuda aos Bancários Convocados (CABC) para a Segunda Guerra Mundial. Ora recolhendo mantimentos, ora embalando-os para envio aos bancários que estavam no front italiano, seu Jacyr fez questão de ser solidário. Até hoje guarda a fotografia que serviu como prova para justificar para a primeira esposa o atraso para chegar em casa. “A família Lacerda não ‘pertence’ ao BB e à PREVI, o BB e a PREVI é que ‘pertencem’ à família Lacerda”, brinca o poeta, que está publicando seu segundo livro.
Duas das três filhas de seu Jacyr também fizeram carreira no Banco. Henriqueta de Lacerda Farago, de 65 anos, por exemplo, começou em 1962 e só saiu do BB na hora da aposentaria. Passou pelos departamentos de Estatística, Comércio Exterior e Carteira de Câmbio.

O caminho de um Lacerda
Outro que se anima a relembrar os tempos de BB é o aposentado Paulo Lacerda, de 79 anos, que foi referência para a decisão da neta Jane em prestar concurso. Já formado em Contabilidade, entrou, em 1954, para trabalhar no período noturno como servente na agência Bandeira, no Centro do Rio de Janeiro. Durante o dia, era escriturário na Cooperativa do Banco do Brasil, onde também escrevia os boletins da fundação. Antes disso, trabalhou no Diário Carioca, no qual publicou uma série de reportagens. Sua meta era aprimorar-se nas técnicas de redação.
Nas horas livres, estudava. Após três anos, Paulo viajou para São Paulo para fazer concurso de escriturário. Foi aprovado. Por dois anos atuou na Carteira de Crédito Agrícola e Industrial. Depois, foi transferido para o departamento de comércio exterior, onde permaneceu por cerca de 20 anos. Formou-se em Economia, tornou-se chefe de núcleo de estudos. Ali, foi indicado pelo Banco a participar de um curso de extensão universitária promovido pelo Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (GATT, pela sigla em inglês), atual Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na Suíça. Mais tarde, foi convidado a atuar como assessor da Direção Geral (Cacex/Dicex), onde ficou até se aposentar, totalizando 31 anos de trabalho. Diz sentir-se realizado ao olhar sua trajetória.

Novas gerações
Outra influenciada pelos relatos dos parentes foi Renata Vianna Lacerda, de 47 anos, nora de Paulo, que entrou no BB em fevereiro de 2003, e está de licença desde maio de 2007, acompanhando o marido que se mudou, temporariamente, para a Coréia do Sul. Ela conta que, ao ver tantos familiares realizados profissionalmente no Banco, decidiu fazer o concurso, já que estava voltando a viver no Rio depois de 12 anos em Angra dos Reis, onde trabalhava como professora de inglês. Adorou a mudança e pretende retomar sua rotina na agência da Barra da Tijuca em breve.
A reportagem da Revista esteve em uma reunião da família em Taubaté. E para quem pensa que, com tantas pessoas integrando o universo do BB, eles só falam de trabalho, engana-se. Os Lacerda falam também de seus sonhos, desejos e esperanças, como o da Jane e tantos outros de milhares de famílias espalhadas pelo País. Nelas, todos querem segurança e tranqüilidade no presente e no futuro. Esta é a história das pessoas que vêm, há 104 anos, fazendo também a história da PREVI. Exatamente como você, leitor.

Solidariedade na guerra

Seu Jacyr participou, na sede do Sindicato dos bancários no Rio de Janeiro, do esforço para enviar alimentos para os bancários convocados para a Segunda Guerra Mundial.
Para comprovar à então esposa onde ficara naquela noite, atrás da foto vinha uma declaração assinada e carimbada pela Comissão de Assistência ao Bancário Convocado em que atestava-se que trabalhara na sede do Sindicato até as 22h30 de 11 de novembro de 1944.

Todos os Lacerda no BB

Alda Íris Lacerda Cesário, neta
Antonio Lacerda, patriarca
Denizar Lacerda, filho
Elisabeth de Lacerda Biondi, neta
Henriqueta de Lacerda Farago, neta
Hermínio da Silveira, sobrinho
Hugo da Silveira, sobrinho
Jacyr de Lacerda, filho
Jane Lacerda Braz, bisneta de Antonio, aguarda a convocação
Joaquim Costa, genro de Antonio Lacerda
Joel Guimarães Rodrigues, genro de Jacyr
José Maria Caiado, genro de Juvaltério
Juvaltério Lacerda, filho
Kleber Alcazar, bisneto
Lidemar Cazuca, prima
Lúcia Brandão de Lacerda, nora de Rivail
Márcio Cazuca, primo
Nivalda da Silva Cazuca, prima
Paulo Lacerda, filho
Paulo Oliveira, primo
Pedro Paulo da Vinha Lacerda, neto
Renata Vianna Lacerda, nora de Paulo Lacerda
Rivaíl de Lacerda, filho
Rivayr de Paulo Leite, primo
Roberto Lacerda, neto
Rogério Valentim Paula Leite, sobrinho
Sérgio Lacerda Cesário, neto
Silvia Regina Lacerda da Silva, neta
Uellison Lacerda, neto
Waldemar da Silva Cazuca, primo
Wilma Lacerda Caiado, neta
Zenaide Lacerda, filha