O grau de intimidade e confiança pode ser diferente, mas as amizades fazem parte da nossa vida. Não importa a faixa etária, sempre há o desejo de se pertencer a um grupo social. Com amigos, partilhamos acontecimentos e conhecimento, recebemos e pedimos apoio emocional. Pelos amigos fazemos de tudo, o que não devemos é exagerar na busca pela aceitação e não nos espelharmos naqueles que não são boas referências de comportamento.
Amizade não se compra
Segundo o psicólogo Alexandre Bez, especialista em ansiedade e relacionamentos, algumas pessoas estão dispostas a pagar qualquer preço para serem aceitas em determinado grupo. "É preciso não confundir o verdadeiro significado da amizade com as fragilidades emocionais. Cria-se a fantasia de que ao pertencer a um determinado grupo o sujeito se sentirá bem resolvido. Pode-se pagar um preço muito caro por isso", alerta Bez.
Felicidade não se compra
O profissional relata o caso de um paciente que cismou que tinha que comprar um carro luxuoso. "Ele sonhava com essa compra e, por isso, abria mão de outras coisas: não tinha quase roupas e não possuía uma vida social e cultural bacana. Deixava de vivenciar experiências para juntar dinheiro. A fantasia dele era de que só seria feliz quando comprasse o carro. Feita a compra houve o momento da euforia, da realização e depois a frustração. Nem a felicidade dele " nem a de ninguém " virá verdadeiramente pela aquisição de bens. Situações assim podem virar neuroses", diz o psicólogo.
Limite
Querer entrar para um grupo de amigos a qualquer preço pode gerar danos sérios. O interessante é que as pessoas se conquistem pelo poder de afinidade, seja intelectual ou estético.
Marina Fonseca fez uma dívida de R$ 10.000,00 em poucos meses por não querer deixar de acompanhar o namorado e amigos em programas. "Ele tem uma condição financeira melhor que a minha, eu não me sentia bem com ele pagando todas as contas ou abrindo mão de programa e viagens porque eu não podia acompanhá-lo. Quando vi minha conta estava no vermelho, entrei no especial, peguei empréstimo para sanar a dívida e foi virando uma bola de neve. Eu não entendia nada de juros e finanças. Fiz uma besteira atrás da outra", diz.
"Fique tão tensa que ele começou a perceber que tinha algo de errado. O corpo começou a dar sinais, tive gastrite nervosa. Para minha sorte ele viu uma correspondência do banco, me pressionou e acabei falando. Ele ficou decepcionado por não ter me aberto, mas não saiu do meu lado. Chamamos um amigo que nos orientou sobre quais as dívidas deveriam ser sanadas primeiro devido aos juros mais altos, como negociar com as instituições e, ainda, recebi uma quantia emprestada do meu namorado. Que já foi paga. A lição foi dura, mas importante. Hoje, faço planilhas, tenho extrema noção de quanto posso gastar e poupo", confessa.
Empréstimo entre amigos
O caso de Marina deu certo, mas Edmilson Lyra, presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (ABEF), diz que é uma exceção e alerta que é preciso ter cuidado com a combinação amizade e dinheiro.
"Emprestar dinheiro para amigos, namorados e até familiares não é salutar para as relações", afirma o especialista. Lyra não tem dados estatísticos, mas pela sua experiência afirma que é muito comum esse tipo de empréstimo enfraquecer as relações.
O profissional recomenda que as pessoas digam não aos amigos se for necessário sem constrangimento. O ideal, segundo Lyra, é ter uma conversa franca e direta. Outra situação que ele chama atenção é para a questão do fiador. "Muita gente pede aos amigos para ser fiador como primeira opção no momento de uma locação. Quando a primeira deveria ser um seguro fiança", indica.
Influência
É importante ter em mente que uma amizade tem de ser produtiva. Ser influenciado por amigos é normal, o que não se pode é perder o senso crítico. Temos de nos espelhar em amigos que tenham controle financeiro das suas vidas e que saibam consumir. "Nem tudo o que seu o amigo pode comprar, por exemplo, cabe no seu bolso ou é importante para você", afirma Bez.
"Quem tem uma base familiar sólida vai ponderar melhor as opiniões dos amigos. A figura dos pais terão mais ou menos peso em relação a dos amigos, conforme a importância que eles têm na vida daquele sujeito", explica Bez .