Os gastos saíram do controle, as despesas estão próximas ou já ultrapassaram os ganhos e o crédito está fácil de ser adquirido. Cuidado, é hora de parar e entender a gravidade do problema. Ficar com a "corda no pescoço", ou entrar na temida "bola de neve" não resolve e pode prejudicar a saúde, a vida social e a harmonia da família. Uma opção pode ser pegar um empréstimo para se pagar as dívidas e ficar com uma só prestação. É o chamado "reescalonamento".
Reescalonamento
Reescalonar as dívidas pode ser uma solução, mas é preciso ter a clareza que o novo empréstimo não é uma espécie de "segundo salário" e que só deve ser feito em situações de emergências para quem não tem reservas. O princípio do reescalonamento é simples: trocar dívidas mais caras por dívidas mais baratas.
Para o professor de finanças do Ibmec, Gilberto Braga, quem está endividado deve fugir do anatocismo, que é a cobrança de juros sobre juros e indica acordo judicial. Segundo Braga, levando o caso à justiça é possível conseguir redução de até 70% da dívida. Outra regra é fugir do rotativo do cartão de crédito e do cheque.
Para o professor, deixar todas as dívidas em uma única instituição e seguir orientação de financistas e advogados minimiza os riscos. "É interessante concentrar as dívidas para facilitar a negociação e o pagamento das parcelas", afirma.
Antonio De Julio, especialista em educação financeira do MoneyFit, afirma ser interessante que o consumidor entenda o mecanismo dos juros ou a "regra do jogo" para não se prejudicar. "Se a pessoa deve R$ 100,00 no primeiro mês e o banco cobra 10% de juros ele já acumulou no primeiro mês uma dívida de R$ 110,00, no segundo mês R$ 121,00 e no terceiro mês R$ 133,00. Depois de um ano, a dívida estará em R$ 313,84. Simplesmente, houve uma triplicação da dívida em 12 meses. Será que essa pessoa consegue triplicar o capital ou os mesmo R$ 100,00 em 12 meses? Não, não consegue", alerta o especialista.
Crédito consignado com desconto em folha e crédito bancário direto são opções consideradas positivas por Braga, mas o professor alerta: renegociar sugere também mudança de comportamento. "Não adianta ter sucesso no reescalonamento e em alguns meses a pessoa estará enrolada novamente. O brasileiro tem por hábito assumir dívidas contando com recebimento das férias e 13º salário, o que é um perigo para o desequilíbrio financeiro", comenta.
Realidade nacional
Desde 2005, não se via no país um endividamento tão alto. Estudo realizado pelas empresas Nielsen e Kantar Worldpane, a pedido da Associação Paulista dos Supermercados (Apas), mostrou que, se por um lado os rendimentos médios do brasileiro subiram 13% chegando a R$ 2146,00, em 2010, as despesas ultrapassaram essa média atingindo o valor de R$ 2.171,00. Nesse cenário, o país conta com 53% das famílias endividadas, gastando mais do que recebem.
Segundo De Julio, o problema do endividamento ultrapassa a questão das finanças. "As pessoas não dormem direito, adquirem doenças e perdem o direito de pensar em investir para o futuro".
Elegendo prioridades
O especialista aconselha ao endividado verificar se tem algum bem que possa ser vendido e, com esse dinheiro, pagar as dívidas que tenha juros altos. Cartão de crédito e serviço de cheque especial deve ser prioridade no reescalonamento de dívida, pois são os juros mais pesados do mercado. Outra dica do especialista é consultar o gerente do banco, explicar a dificuldade e renegociar o valor e a forma de pagamento.
"O consumidor precisa ter a clareza que todo o dinheiro que ele pega emprestado tem um custo. Outro ponto importante é que as pessoas têm de entender que "parcelinhas" podem virar uma soma pesada para o orçamento", alerta.